A imprecisão resolutiva e uma lição de Heisenberg
Obs: o texto abaixo foi publicado no blog Polymath Sirius_ASociety, que é do próprio autor.
Data(publicação): 09/08/2015 Hora: 04:13 (Horário de Brasília)
Autor: Álvaro Vinícius de Souza Silva
As apressadas análises da conjuntura política e institucional do país se comportam como desdobramentos opinativos de algum eixo de inferência crítica, sobretudo em sua maior ênfase de previsibilidade momentânea. De um flanco ideológico a outro, notabilizam-se algumas perspectivas que se limitam ao período pré-eleitoral e pós-eleitoral, sob uma razoável fidelidade à identificação clara dos índices econômicos ou dos aspectos sociológicos mais estimados pela intelligentsia universitária. Dentro dessa aparente diversidade analítica, apreende-se a seguinte característica: a contumaz tendência de interpretar a realidade atual pelo impacto que ela representa, porém não pelo que ela essencialmente reflete em um conjunto de camadas menos coerente com as especialidades de cada um.
Enquanto um economista restringe a avaliação do agitprop cultural e enaltece a precisão da análise econômica do país, um sociólogo tenta precisar certos pressupostos como as principais peças teóricas que mapeariam toda a realidade política e institucional -- e há quem diga que, em algumas entrevistas, adquiram a alcunha de "cientista político" por tal consultoria. De certa maneira, não há nenhum erro em turbinar cada especialidade do conhecimento, contanto que a captação de uma realidade de estudo não seja obstruída pela primazia de uma formulação técnica de pesquisa acadêmica, da qual procede, muitas vezes, uma sofisticação meramente verbal e uma consequente roupagem aparentemente científica entre cada termo usado e cada palavra postiça. Com uma atenção básica ao famoso princípio da incerteza de Werner Heisenberg, descobre-se facilmente a seguinte lição: restringe-se para precisar, mas perde-se pela precisão quando se alcança o oráculo da especialidade. Com efeito, resta-me pensar sobre a imprecisão como uma via resolutiva para uma compreensão menos abstratamente pomposa da realidade política atual. E segundo algumas tradições místicas, uma percepção lúcida se sobrepõe a qualquer fragmentação. Mas, talvez, a mística não seja a recomendação ideal para os economistas e sociólogos de plantão, pois já possuem sua própria "magia cerimonial" em cada espetáculo, em cada entrevista.