“A MÃO DE QUATRO DEDOS”

“Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la.”

(Ernesto Che Guevara)

Geralmente, traços positivos e negativos da natureza humana são exacerbados durante períodos de crise vivenciados ao longo de sua história. Positivamente, foi assim com a utilização da penicilina para tratar infecções dos combatentes de guerra. Pelo lado negativo, o advento da bomba atômica trouxe horror imensurável à humanidade.

Outro exemplo marcante que trouxe conseqüências desastrosas, observou-se na década de 30 que culminou com a segunda guerra mundial. Depois da primeira grande guerra a Alemanha viveu tempos difíceis, inflação galopante com efeitos danosos para economia local e também para todo o mundo ocidental.

Como sempre, quem mais sofreu foram os mais pobres. Nesses momentos cruciais surge sempre um salvador da pátria, daí a ascensão de Adolf Hitler e outros gênios do Mal. No início, o grande capital financiou a ascensão de Hitler e seus asseclas ao poder. Sua trajetória política começou com a propaganda fascista, depois com “apartheid” e por fim, com o extermínio em massa. Afinal, foram mais de 6 milhões de indivíduos, todos indefesos, mortos nos famigerados campos de concentração.

naquela oportunidade, criou-se um bode expiatório para tentar explicar as razões que levaram ao caos econômico da poderosa raça germânica. "A erva daninha que se enraizava no seio da nação ariana tinha que ser expurgada a qualquer custo". Assim, os judeus em um primeiro momento, depois ciganos, homossexuais, negros e portadores de deficiência física foram sistematicamente perseguidos e eliminados pelo "poderoso terceiro Reich". Tudo isso ocorreu com a aquiescência do “mundo civilizado”, inclusive com o apoio do governo brasileiro fascista da época.

No Brasil, nos anos 60 uma atitude semelhante levou o país a mergulhar durante 20 anos em uma ditadura militar que deixaram cicatrizes profundas em nosso povo. Tudo isso aconteceu devido à intenção do então presidente João Goulart, propor algumas reformas. Tal reforma, em última análise beneficiariam a maioria da população brasileira. O golpe militar teve o apoio dos grandes latifundiários, da ala conservadora da igreja católica, dos EUA e obviamente das forças armadas.

Atualmente vivemos no Brasil um momento de crise. Ela deu-se principalmente por conta de conjuntura internacional desfavorável e também por questões internas. Os problemas vivenciados internamente pelo povo brasileiro devem-se em parte, pelo alto endividamento das famílias, cujos recursos não foram suficientes para arcar com os débitos contraídos.

Basta sair na rua para ver pessoas da classe C passeando com modelos novos de carros de custo que vai além de suas posses. Operários usando celulares mais caros do que o ganho de um mês de salário. Trabalhadores de baixa renda viajando de avião e filhos de classe média baixa, passando férias na Disney. Naturalmente, ninguém aceita voltar para trás, isto tudo levou o povo descontente, às ruas. Incentivados principalmente pela mídia e por pessoas de classes sociais mais elevadas. Essas ao contrário, basearam seu descontentamento na propalada corrupção.

Andando no meio da multidão em dias de protesto, é fácil identificar pessoas que não hesitam em fraudar o imposto de renda, ou dispensar a nota fiscal em troca de algum desconto em alguma mercadoria adquirida. Mas se arvora no direito de protestar contra a corrupção. Até alunos que nas escolas adoram fraudar as provas, colando de seus colegas estão lá vaiando a presidente. Contudo, nada disso justifica o mal uso do erário público, os infratores da lei sejam eles quais forem, devem pagar pelos seus crimes. Durante esses protestos percebem-se também, indivíduos violentos mascarados destruindo o patrimônio público, agredindo verbalmente e fisicamente, outros tantos.

Uma análise mais profunda do tema nota-se que esse vício da política brasileira não é privilégio do atual governo, pois a corrupção tem sido uma prática abominável da frágil república brasileira durante toda a sua história.

Por outro lado, os avanços obtidos pelas classes operárias nos últimos 20 anos incomodaram sobremaneira os verdadeiros donos do poder. Eles sabem e temem quem começou tudo isso. Aos olhos deles: trata-se de um operário, nordestino, mal vestido, iletrado e deficiente físico.

Muito embora, seja o presidente mais popular do Brasil de todos os tempos, conforme o IBGE. Afinal, seu governo tirou mais de 20 milhões de brasileiros da miséria absoluta. Daí, juntamente com protestos democráticos verdadeiros, a propaganda e atitudes fascistas têm mostrado a sua cara.

Para tanto, basta observar os para choques de alguns carrões, com adesivos que identificam duas mãos, uma delas faltando um dedo. Trata-se de uma alusão xenófoba ao ex-presidente da república, figura tão temida pelos poderosos.

O ódio instilado por esses bastiões da moral e bons costumes é desproporcional. Talvez o motivo desses ataques sistemáticos tenha uma razão mais profunda. Como bem citou o jornalista Mauro Santayana: “toda vez que o capitalismo se vê ameaçado, ele sai para passear com o fascismo”.