Calça de Veludo ou Bunda de Fora
O professor Pedro Pedreira Campos, da UFRRJ (Universidade Federal Rural do RJ), em seu livro “Estranhas Catedrais – As Empreiteiras Brasileiras e a Ditadura Civil-Militar”, anuncia que “o pagamento de propina na Petrobrás transcende o PT e o PSDB”.
O que é verdade. Como também é verdadeiro que as construtoras hoje no banco dos réus da Lava-jato, durante o regime militar já pagavam propinas e constituíam-se em cartéis. Tendo algumas delas ajudado no financiamento da Operação Bandeirantes, responsável pela tortura e desaparecimento de oposicionistas de esquerda. Chegando a ter uma participação importante no golpe civil-militar de 1964.
É ainda verdadeiro que, “na época da ditadura, as investigações sobre práticas de cartel eram raras, os mecanismos de controle estavam amordaçados, não havia Ministério Público e a imprensa era censurada”. Nada disso acontece nos dias de hoje.
As empreiteiras, antes muito próximas do regime militar, com o fim da ditadura “passam a atuar junto às bancadas e aos partidos políticos”, acompanhando o fortalecimento do Legislativo. E obviamente começam a se beneficiar de emendas parlamentares que lhes possibilitam a obtenção de verbas para obras. Referendando o pronunciamento do Ministro da Saúde de 1993, Adib Jatene, que dizia na época que “quem faz o orçamento da República são as empreiteiras”. (Convém lembrar que o referido ministro, mencionado pelo professor Pedro Pedreira Campos, foi o autor ou precursor da famigerada CPMF, concebida como solução para o rombo em sua pasta pelo qual não deveria ter sido responsabilizada a população.)
É evidente que são incontestáveis todas essas considerações contidas no livro do citado autor. No entanto, elas não podem ser consideradas como atenuantes para os assombrosos casos de corrupção evidenciados na Petrobrás. Como se não tivéssemos que nos indignar com ilícitos cuja prática já faz parte da história brasileira. Ou já datam antes mesmo (ou durante) do governo JK, a partir do desenvolvimento de obras de infraestrutura rodoviária que favoreceram o enriquecimento de várias construtoras.
E, como se percebe todos os dias a partir do que é veiculado pela mídia, agora não censurada, não só o PT ou o PSDB, mas nenhum partido pode se considerar imune a práticas que têm corroído os interesses da nação e a confiança do seu povo. Cabe, portanto, aos titulares dessas agremiações identificar e eliminar de seu seio a banda podre que insiste em comprometer a já corroída credibilidade dos partidos.
Rio, 04/04/2015