Vou para Pasárgada
O Brasil é motivo de piadas por conta de atitudes excêntricas de seus representantes. Diferentemente de outras nações, onde os escolhidos geralmente possuem comprovada qualificação profissional e preparo necessário para o exercício do cargo eletivo, por aqui o único requisito realmente exigido é o resultado das urnas (vez ou outra aparece algum candidato considerado como “analfabeto funcional”, é submetido a uma avaliação espartana e tudo acaba em pizza). Até dirigentes de países menos expressivos nas áreas política e econômica conseguem se comunicar em pelo menos outro idioma (a opção pelo inglês predomina), facilitando sobremaneira os encontros internacionais. Pelo visto os dois últimos ocupantes do executivo federal da nação verde-amarela não carregam essa preocupação, uma vez que o ex-presidente Lula fazia questão de apregoar aos quatro cantos o fato de não possuir formação acadêmica, uma maneira nada inteligente de desdenhar da relevância do cargo. Isso ficou comprovado em seus incontáveis discursos de improviso, sendo a imensa maioria deles completamente incoerentes e sem nexo. Esse comportamento relapso parece ter sido adotado pela sucessora, que apresenta uma postura nada confiável quando resolve expor sem pudores o que pensa e o pior, exatamente da maneira como pensa. Assim foi na desastrada referência ao caso do ET de Varginha, da desnecessária e ridícula citação à mandioca e quando resolveu mostrar sua esmerada erudição ao inventar (para descontrair o ambiente) o gênero “mulheres sapiens”, só para mencionar os casos mais recentes.
O eleitor brasileiro tem sua parcela de culpa nesses acontecimentos desabonadores. Por conta do desinteresse e da omissão em eleger de maneira consciente seus representantes, acaba por escolher os que se destacam na mídia, sem dedicar a devida atenção aos reais interesses dos candidatos e seus partidos. Prova disso é a recondução ao cargo parlamentar do notório e irreverente palhaço, aquele do “pior que está não fica”, que obteve votação recorde nos pleitos que disputou. O problema é que a coisa acabou ficando pior do que se imaginava, diante do quadro atual da economia brasileira. Quando a tradicional incompetência se junta com a falta de vergonha no exercício do mandato, está pronta a receita ideal para o descalabro sem precedentes que tomou conta desse País. Em meio a denúncias de corrupção por todo lado, nossos ilustres representantes, “sensibilizados” com os apelos da sociedade ensaiaram uma reforma política fajuta, tão consistente quanto um palanque no banhado. Com o argumento de que “a democracia brasileira ainda não está “madura” o suficiente para inserir na proposta o voto facultativo” (um dos itens pleiteados pelos eleitores) e outras desculpas esfarrapadas mais, os políticos direcionaram as mudanças para atender a seus exclusivos interesses, como sempre fizeram.
Em outra frente de atuação, o governo desceu a borduna sem dó no lombo dos trabalhadores, mudando as regras da aposentadoria ao instituir o famigerado fator previdenciário. Agora o simples mortal assalariado deve atingir uma pontuação mínima para enfim ter o acesso ao benefício. Resta saber se o postulante terá saúde suficiente para usufruir desse direito constitucional. Enquanto isso, os nobres parlamentares são contemplados com polpudos valores integrais, totalmente condizentes com os relevantes serviços prestados à nação, quando de suas paradisíacas “transferências para a inatividade”.
Em meio ao tsunami econômico que envolve o País, resta ao contribuinte tentar sobreviver às intempéries que certamente haverão de fustigar com grande intensidade a pátria educadora num futuro próximo. Tudo por culpa da incompetência gritante de seus dirigentes medíocres, subjugados por conchavos políticos na calada da noite. A única certeza nesse momento é a de que o cidadão brasileiro vai pagar essa conta, mas isso também não é novidade alguma. Assim como o ilustre Manuel Bandeira, “vou-me embora para Pasárgada... é outra civilização... lá sou amigo do Rei...”. Está cada vez mais difícil aturar tanta asneira desses nossos distintos homens públicos!