Muitos, principalmente aqueles que nutrem um ódio irracional pelo PT e pelo atual governo, vêm acusando o governo petista por todos os males do país, como se este pudesse ser dividido em antes e depois do PT. Claro que muitos dos problemas atuais do Brasil são frutos de erros cometidos nas gestões do ex-presidente Lula e da atual presidente. Achar que eles não erraram, que não fizeram avaliações e escolhas erradas e não tomaram medidas incorretas, principalmente no que tange à crise econômica de 2008, seria de uma ingenuidade sem tamanho.
Talvez o maior de todos os erros fora cometido por Lula ao deduzir que a crise que varria a Europa e os Estados Unidos chegasse ao Brasil como uma “marolinha”. De fato, naquele momento, com as medidas tomadas pelo seu governo, ao promover a redução de impostos a fim de aumentar o consumo, os efeitos da crise não passassem de uma marola. No entanto, a exagerada renúncia fiscal acabou, em poucos anos, gerando um rombo gigantesco nas contas públicas, o que culminou com a atual crise, esta fruto do forte ajuste fiscal promovido pela equipe econômica neste começo de 2015.
Se a renúncia fiscal não tivesse corrido em 2008/2009, o país também seria atingido pela crise naquela época, mas certamente esta seria menor e menos danosa que a atual, pois não teria gerado um custo tão alto como esta. O erro do Governo Lula foi justamente em não prevê que aquela redução de impostos geraria um grave desequilíbrio no futuro.
Quanto aos erros do Governo Dilma, foram vários. E podemos destacar: 1) a manutenção por mais tempo das desonerações, ciente de que elas estavam provocando desequilíbrio nas contas públicas, com a finalidade de não perder mais popularidade devido à crise da Petrobras, a qual vinha causando protestos na população e derrubando os índices de popularidade da Dilma; 2) com a crise hídrica e os altos custos na produção de energia elétrica o governo, para não aumentar ainda mais a inflação já que vinha estourando a meta mês a mês, optou por segurar o reajuste das tarifas de energia elétrica, provocando perdas gigantescas para as concessionárias, as quais precisaram ser socorridas com dinheiro público para não quebrar, aumentando ainda mais o tamanho do rombo nas contas do governo; 3) com a finalidade de ganhar as eleições de 2014, o Governo Federal segurou o aumento de preços dos combustíveis, provocando um rombo nas contas da Petrobras, a qual já vinha sofrendo com o escândalo de desvio de dinheiro, o que causou perdas gigantescas aos investidores; 4) não tomou medias contra a falta de confiança na economia brasileira, permitindo o aumento do Risco Brasil e da desconfiança na capacidade do país de honrar seus compromissos, o que acabou reduzindo consideravelmente os investimentos externos, dos quais o Brasil ainda é muito dependente.
Tudo isso gerou um clima ruim, o que levou a presidente Dilma, assim que assumiu um novo mandato, a tomar medidas impopulares e dolorosas para tentar reequilibrar as contas públicas e evitar a quebra do país. Ou se fazia os ajustes anunciado pela equipe Econômica em janeiro ou o Brasil quebraria em poucos meses. Por causa dos erros cometidos em anos anteriores essas medidas tiveram e ser tomadas. Mas se o governo não houvesse cometido seus erros no passado, o remédio não seria tão amargo e tão doloroso.
Também é preciso admitir que nem todos os problemas que o Brasil atravessa é culpa do atual Governo e nem é fruto de seus erros. É inegável que se passa por uma das mais graves secas da história, o que fez, devido à escassez de água, os produtos agrícolas encarecerem demasiadamente. O mesmo aconteceu com os custos de geração e transmissão de energia elétrica devido ao uso de usinas termoelétricas. Isso também não é culpa do governo federal. E por último, temos os escândalos de corrupção envolvendo não só a Petrobras como os mais variados setores da economia brasileira, o que fez com que os investimentos minguassem, provocando a paralisação da maioria das grandes obras no país, afetando diretamente a economia.
Achar que o PT e o Governo Federal é culpado de toda a corrupção que há no Brasil, como muitos querem nos fazer acreditar por ódio ao PT, não tem fundamento. É sabido que a corrupção é um problema endêmico na sociedade brasileira há décadas. Há quem diga que a corrupção vem desde o descobrimento. Durante o Regime Militar e nos primeiros governos da redemocratização a corrupção era disseminada, mas o autoritarismo, a falta de transparência, a falta de mecanismos de controle e, principalmente, a falta de liberdade investigativa fazia com que nada viesse a público. Hoje, com o avanço tecnológico, não há como cometer um crime sem deixar rastros. Isso não acontecia antes. Portanto, querer pôr a culpa no PT e no seu governo é querer banalizar a coisa.
Mas também é preciso reconhecer que não se fez nada para impedi-la ou para acabar com essa prática. Pelo contrário: tiraram proveito da situação. E isso é inaceitável. Um partido que até chegar ao poder se gabava pela sua ética de repente jogou tudo por terra e entrou no esquema que ele mesmo condenou durante décadas. Esse foi o maior erro do PT em toda sua história. E não há dúvida de que pagará muito caro por isso. Mesmo que o partido faça uma limpeza geral em seus quadros, mesmo que o governo Federal combata incansavelmente a corrupção no país, investigando todos os malfeitos, prendendo os culpados e aprovando leis duríssimas contras os maus políticos e servidores públicos, ainda sim o partido estará marcado para sempre. Esse pingo de tinta preta jamais saíra da bandeira vermelha do partido.
Enfim... O PT errou, o Governo Federal errou, mas isso não justifica o ódio irracional de alguns setores da sociedade contra o PT e o seu governo. Até porque, como disse o próprio Nietzsche: “Não se odeia quando pouco se preza, odeia-se só o que está à nossa altura ou é superior a nós.” Ou seja: odeiam o PT não pelos seus erros, erros que merecem a nossa crítica e repulsa, mas por ser um partido de esquerda com forte ligações com os movimentos sociais e de direitos humanos e, principalmente, por essas pessoas terem sido derrotados nas urnas por quatro eleições seguidas. Aliás, nesse ponto o próprio PSDB – derrotado pelo PT nas três últimas eleições – mostra mais serenidade que os seus próprios eleitores: não engendrou pelo venenoso caminho do ódio, causa dos maios terríveis males que a humanidade já viu.


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