Social - democracia
Social – democracia.
Publicado no DIARIO do PODER, DF, em 25/06/2015
A crise atual pode ser explicada pela inexistência de uma alternativa política que venha a interessar e a entusiasmar os povos na construção de um futuro, viável e justo.
Os povos ainda não se convenceram do imperativo lógico de aderir, previamente, a uma crença política, a objetivos éticos a serem promovidos pela sociedade como um todo, antes de apoiar programas e políticas governamentais específicas, a serem implementadas pelo partido escolhido pela maioria dos eleitores para ser o porta voz das esperanças do povo. O ideário de uma proposta política, hoje, debate confusamente vários assuntos ao mesmo tempo: propõe metas para inflação, taxas de cambio, poupança interna, migrações, meio ambiente, redução da maioridade penal, características do voto distrital ideal, acesso a universidade, racionamento de água potável e de energia, se esquecendo de referenciar estes objetivos concretos aos pressupostos filosóficos que justificam as escolhas feitas e as intensidades das medidas a serem implementadas. O povo quer e tem o direito de saber por que está lutando, votando, pagando impostos. O povo tem o direito de ser honestamente esclarecido sobre o porquê das medidas econômicas adotadas e não apenas de suas tecnalidades operacionais. Então sim, eleitores e políticos honestos e competentes estarão unidos num mesmo sonho: – o de que o futuro mais justo e feliz para a maioria é uma possibilidade real.
Dois grandes sistemas políticos globais empolgaram a humanidade: o capitalismo e o socialismo. O capitalismo, sistema que se impôs, é o ambiente social que proporcionou o extraordinário progresso que observamos: - a ascensão de ponderáveis grupos de pessoas a patamares dignos de consumo e estilos de vida. Mas este mesmo sistema não foi capaz de resolver as questões da pobreza e da exclusão, graves injustiças históricas, ainda sem perspectivas de solução. O socialismo, sonho generoso de igualdade e de justiça social, não vingou. Para se concretizar teve de eliminar a liberdade dos cidadãos e com isso falseou, irremediavelmente, os seus ideais.
Hoje, a juventude, não sabe mais como tornar realidade seus sonhos de um futuro justo, livre e feliz. A juventude, não só a brasileira, não tem mais uma bandeira a carregar com alegria e a certeza de estarem participando da construção de um mundo melhor. O deboche e a descrença para com as atividades políticas é a norma de conduta que se impõe, impedindo a mobilização dos corações e mentes da cidadania, fatores imprescindíveis para quaisquer movimentos políticos que queiram mudar o mundo e o triste rumo dos atuais acontecimentos.
O capitalismo, com o seu individualismo crescente, com sua competitividade exacerbada, com sua progressiva ligação com a política, subordinando esta às pretensões econômicas dos verdadeiros donos do poder, não atraem mais as pessoas com algum senso crítico. O socialismo com seus fracassos históricos, com sua falsa idéia de democracia, com o irrealismo de suas propostas estatizantes, torna-se uma opção desprezível para o povo.
Resta a esquecida social-democracia. Hoje, por falta de lideranças competentes, está reduzida em todo o planeta a meras siglas partidárias, sem expressão ideológica e doutrinária de relevância, sem uma proposta global, necessariamente revolucionária, que atraia e entusiasme os povos.
A social-democracia é liberal e é socialista, é esquerda. É a síntese de um processo dialético histórico. Democrática, têm na liberdade e na justiça seus valores basilares. A solidariedade e honestidade são seus métodos de ação, de arregimentação política. A promoção do bem comum é a regra de ouro que norteia a elaboração dos seus programas de governo. Antes apresentá-los, a social-democracia propugna pela fixação, nos corações e nas mentes dos cidadãos, dos valores humanistas, aqueles valores morais que movem a história na perspectiva da permanente e nunca finalizada luta pela promoção da dignidade da pessoa humana, não as circunstâncias mutantes das conjunturas políticas. O poder político é, apenas, um instrumento de ação, não um objetivo absoluto, a ser conquistado de qualquer maneira.
Vamos acenar, uma vez mais, com a bandeira socialista no que tem de mais nobre: – a prevalência do interesse social nas decisões de uma sociedade, com a sabedoria e o cuidado de nunca macular a liberdade. Uma vez mais apontemos o mercado, “socialmente regulado”, como algo naturalmente humano onde as pessoas se encontram de várias formas, espontaneamente, para oferecer os frutos dos seus trabalhos, individuais ou coletivos, com plena liberdade, dignos e responsáveis, honestos e cooperativos, sabedores que antes da lei que a todos protege, antes da igualdade que a todos é assegurada, impera a solidariedade que deve nos unir na busca de um futuro mais feliz. Estas verdades, fundamento de quaisquer ações políticas, raramente são proclamadas...
Ofereçamos esta alternativa para a juventude, sequiosa de honestos ideais, para que possa descobrir novos e competentes caminhos que lhes assegurem uma participação estimulante e esperançosa na vida política e a certeza da participação consciente na obra de construção de um futuro mais justo, pacífico e democrático.
Eurico de Andrade Neves Borba, 74, aposentado, escritor, ex professor da PUC RIO, ex Presidente do IBGE, foi um dos fundadores do PSDB, em 1988, junto com Franco Montoro, Jose Richa, Helio Jaguaribe e Mario Covas. Mora em Ana Rech, Caxias do Sul.