A Verdade de Pelé
Certa vez, falando sobre política, Pelé foi enfático ao dizer que o brasileiro ainda não sabia votar. De repente, uma chuvarada de críticas em toda a imprensa, dizendo que ele foi infeliz em sua declaração. Entretanto, diante dos escabrosos e repetitivos escândalos políticos em todo o país, ninguém pode negar que ele estava com a razão.
Para que não venham com a desculpa esfarrapada de que o eleitor do interior está muito distante do presidente, do governador, do senador ou deputado, atenho-me ao município, onde não se pode desconhecer o prefeito e o vereador. Pelas minhas andanças por algumas cidades interioranas de Alagoas, onde moro há mais de quarenta anos, pude constatar que a história se repete na maioria delas, envolvendo os políticos da base. E aí se configura a tese do economista americano Robert Klitgaard de que “onde há pobreza há corrupção.” Poder-se-ia também dizer o contrário: “onde há corrupção há pobreza.” Aparece ali “o voto de cabresto”. A pobreza maior é a educacional e não a patrimonial.
Em algumas cidades, cheguei exatamente no período da campanha eleitoral para prefeito e vereador. Ouvi de alguns eleitores a afirmativa: “o melhor candidato é fulano de tal, mas ele não ganha, portanto não vou perder meu voto”. Ora, então ganhar o voto é eleger um candidato declaradamente corrupto, com maior poder econômico para comprar o voto?
Pobreza de caráter é pior do que a pobreza econômica. E assim continua girando a roda da corrupção, em que os maus ganham para os bons, a ponto de as pessoas de bem dizerem que “odeiam a política”. Querendo ou não, somos administrados por políticos, no âmbito municipal, estadual ou federal.
Em pleno século XXI, já passou da hora de dizer a Pelé: “nós, agora, aprendemos a votar”.