TUDO É DE DEUS

Antes que alguém se aventure a contar, eu conto.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

Hoje, uma sexta feira, dia 29 do mês maio de 2015, em estando assentado em uma cadeira modesta de cor azul natiê, nas dependências da Secretaria Municipal de Educação, antiga casa residencial do Senador Virginio Veloso Borges, então Diretor Presidente da CTP – Companhia de Tecidos Paraibanos, sediada na Vila Operária Tibiri, fundada em 1892, primeira fábrica de tecidos fundada na Paraíba do século XIX e que teve aproximadamente oitenta anos de funcionamento pleno em Santa Rita. Foi também aquela industria a que assinou a primeira carteira de trabalho e previdência social por essas bandas, tendo em vista que o trabalho no campo e em seus engenhos não tinha tal obrigação oficial. Antes que me esqueça é importante citar que “nesta casa, residência do Senador Virginio Veloso Borges, homiziou-se em 1930, o Tenente Juarez Távora, Chefe Militar da Revolução Liberal. E, em 1945, fundou-se a UDN, resultado da reconciliação de Argemiro de Figueiredo e José Américo”. Aqui perrepistas e liberais se uniram e fumaram o cachimbo da paz em versos e prosas, na teoria e na prática, apenas dividiram o poder estatal entre si. Surgiu a aliança partidária em torno da UDN/PSD na Paraíba, cuja aproximação resultou na eleição de Flávio Ribeiro Coutinho (UDN), eleito governador e Pedro Moreno Gondim (PSD) vice governador da Paraíba no fim da década de 50 do século XX.

Da sacada do antigo casarão contemplo: a linha férrea com o trem urbano que faz a linha de Santa Rita à Cabedelo, de hora em hora, o telhado do casario do Bairro da Liberdade e do centro de Santa Rita. Igualmente avisto a torre da Matriz-Santuário de Santa Rita de Cássia, construída em 1932, obra iniciada pelo vigário Monsenhor Abdon Melibeu, que faleceu em 9 de agosto de 1932, decepcionado com o sumiço misterioso do dinheiro arrecadado com a festa da padroeira em 22 de maio de 1932, cujo dinheiro dos leilões, doações e quermesses era destinado a finalização da construção da torre mencionada e do altar mor do referido templo. No imaginário popular tem o ditado que o dinheiro o gato comeu e ninguém viu. A sociedade santaritense o amava e o respeitava, porém, existia em seu rebanho, ovelhas desgarradas que o decepcionaram. Era um vigário honesto, probo e ético. Preferiu ficar calado, decepcionou-se, entrou em conflito emocional e existência, surgiu a depressão do corpo e da alma, faleceu vítima de uma ataque cardíaco e com pouco mais de cinqüenta anos de idade. A obra da construção da torre e do altar mor que hoje se conhece, se deve ao Monsenhor Rafael de Barros Moreira, cuja inauguração aconteceu no dia 15 de novembro de 1932. Enquanto isso, na Vila Operária Tibiri, parte do casario já não tem mais a mesma arquitetura, levando-se em consideração que tal patrimônio já não pertence ao espólio da extinta Fábrica Tibiri. É verdade, da escadaria desse casarão seus donos e funcionários, viram o trem Maria Fumaça trazendo a urna funerária com os restos mortais de João Pessoa, assassinado em 26 de julho de 1930, na Confeitaria Glória, pelo adversário político e pessoal João Duarte Dantas, acontecimento importante que veio fundamentar o revesso da medalha revolucionário que levou Getúlio Vargas ao Poder Central da República, onde tomou posse, inicialmente como Chefe Civil da Revolução de 1930 e posteriormente como Chefe do Estado Novo, regime ditatorial por ele mesmo criado para permanecer no poder estatal até 1945. É verdade nesse casarão também abrigou as reuniões intermináveis da “Aliança Liberal” e os “Perrepistas”, da Várzea do Paraíba. Perante o povo eram adversários e perante a alta sociedade, perrepistas e liberais estavam e continuam ligados através de sangue, tendo em vista a existência de casamentos entre seus filhos. De modo que a ideologia de ser aliancista e /ou perrepista na Várzea do Paraíba, era apenas uma maneira de manipular a classe pobre e operária para se dividir e passar a defender “A” e ou “B”, adversários públicos e amigos íntimos. Tudo era apenas uma máscara para continuar compondo as forças unilaterais do poder político federal, estadual e municipal. O voto do cabresto e nada mais. E o imaginário popular sabe muito bem disso, os pobres de dinheiro em muitos casos terminam se enfrentando, causando mortes, cadeias, etc, enquanto que os ricos de dinheiro, brigam para danado, terminam se unindo pela política partidária e até mesmo através de festas de casamentos e batizados, além de juras de serem fies para o resto da vida. Na riqueza feio mesmo é ficar pobre e ou perder as eleições. Ganhar em tudo que fazem é a ideologia dominante. Nas famílias numerosas, ficam uns filhos na oposição e outros na situação, quem ganhar fica em casa. E em Santa Rita, Paraíba, Brasil, isso vem desde o regime colonial, passando pelo império e agora na república, não fica essa gente nunca para trás, ao contrário todos rezam na mesma “igrejinha” e no mesmo “rosário”, em todas as estações do ano e em todos os regimes políticos adotados, seja na democracia e ou na sonhado socialismo moreno.

Desse casarão também se avista e se ouve o farfalhar do canavial, uma espécie de praia/mar sem ter um pingo de água. O balançar da folhagem do canavial parece com as ondas do mar que vem e que voltam sem sair do lugar. O canavial, assim como o mar, direta e indiretamente demonstra o profundo amor de Deus a tudo que ele criou em sua teoria da criacionista, inclusive do homem livre e do homem que se deixa escravizar, assim como aconteceu aqui na terra dos canaviais, tão comum na alegria e na desgraça na vida de ricos e pobres todos os dias.

Da antiga Fábrica Tibiri, só resta o paredão que circula em volta dual, meia lua da Praça do Povo e o bueiro, símbolo do poder do fogo morto, a exemplo da lenda do fogo morto sulista e da aventura romântica, por analogia, em Fogo Morto, do escritor José Lins do Rego Cavalcanti, gente da bagaceira sem ser originário de sangue nascido da senzala.

Desse casarão também se avistava os coronéis passando na classe “A”, do trem bacurau, pela manhã e pela tarde, um exemplo disso, é o caso das viagens do Deputado Estadual e Coronel Cazuza Trombone - José Francisco de Paula Cavalcanti, eleito em 1934, senhor dos Engenhos Santana e Massangana, casado com Luzia Lins Lins Cavalcanti, tia de Zé Lins do Rego. Meus avós: João José de Aguiar e Josefa Vieira de Aguiar (paternos) e Manoel Gomes de Melo e Emilia Gomes de Melo (maternos), também usavam o trem como meio de transporte da Fazenda Desterro (pegavam a lotação/trem em Estação de Entroncamento, atual Paula Cavalcanti, em Cruz do Espírito Santo) e do Engenho Cuité (pegavam a lotação/trem na Estação do Cobé, Cruz do Espirito Santo), com destino a capital da Paraíba para fazer suas compras e negócios relacionados as suas atividades do campo. E tal procedimento não foi diferente com o escritor e poeta Augusto dos Anjos e sua família.

E o trem por aqui passava levando os passageiros do interior para a capital e da capital para o interior. O trem também transportava mercadorias e animais de toda espécie para serem vendidos na capital e no interior. Os ricaços andavam na primeira classe, enquanto os pobres andavam de segunda classe. Era um entre sai em cada estação do trem, onde tinha parada obrigatória no referido percurso. Na atualidade o percurso do trem é de Santa Rita a Cabedelo, transportando apenas passageiros, está sofisticado tem até ar condicionado e cobra R$ 0,50 (cinqüenta centavos) de pagamento para um percurso com aproximadamente 35 (trinta e cinco) quilômetros de distancia. É uma riqueza para a classe operária tal transporte diante do pouco poder aquisitivo por parte de grande parcela de nossa população.

Diante tudo isso não se tem como negar a presença de Deus, mesmo que o homem tenha construído e/ou destruído: cidades, linhas férreas, fábricas, casas, igrejas, engenhos, escolas, creches, mercados, etc. a minha impressão sobre tudo isso é que Deus é a vida de ontem, de hoje e de sempre. Deus é tudo!

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 29/05/2015
Reeditado em 29/05/2015
Código do texto: T5259041
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