GOVERNO DILMA X PT
Parece haver uma crise de identidade, se é que assim podemos chamar, no PT. Desde sua fundação até hoje, o partido caminhou a passos largos rumo à burocratização que impera nas instâncias internas. Os congressos foram sucessões de blablablás que Lula tratou de sepultar de vez com a famigerada “Carta aos Brasileiros”, onde delineou a governança em seus dois mandatos.
Diversas correntes abandonaram o partido, à medida que perdiam espaços para a ala mais à direita que tratou de tornar-se palatável à burguesia em troca de acordos que “permitissem” “governar”. Pelo que se vê de denúncias, quadros trataram de lambuzar-se na máquina pública montando esquemas de desvios à velha maneira da oligarquia partidária tradicional (chega a ser hilário ver parlamentares de PFL/DEM e PSDB vomitando sandices moralistas). Setores médios da sociedade começaram uma campanha irracional de rejeição ao partido, eivada de ódio classista, notadamente em São Paulo.
Nessa geleia geral há uma nítida impressão de que o segundo governo Dilma acabou antes de começar. Contrariando o que apregoou na campanha, tratou de nomear Joaquim Levy, ligado ao capital financeiro (assim como seria Armínio Fraga sob Aécio) que logo disse a que veio, propondo um ajuste fiscal a ser pago pelos trabalhadores (quanta ironia, não?) num governo do Partido dos Trabalhadores!!! Se a expansão do emprego se deu sobretudo no comércio e no setor de serviços – que não exigem muita qualificação – e onde a rotatividade (e a sazonalidade, no caso do comércio) é grande, centrem-se as medidas aí.
Parece que os parlamentares petistas imaginaram jogar esta conta nas costas da raposa PMDB (o programa eleitoral do PT tratou de mostrar Lula vociferando contra terceirização e ignorando, transferindo, sei lá, o tal “ajuste” para o governo) que apelou para cantilena da “base governista” numa conversa do tipo ou “estamos juntos ou ninguém aprova nada”. Os nobres deputados petistas “acordaram” do pesadelo com um pensamento fixo: como se explicarem em futuras eleições aos seus eleitores? Se houver retomada de crescimento e saída da crise antes de 2018, talvez se safem com um bom marketing; senão, a fatura será salgada, amarga e cara!
Num presidencialismo personalista como o brasileiro, Dilma parece não se adequar ao papel de líder que conduzirá sua base a bom termo. Esconde-se, ou é escondida, quando deveria se mostrar; terceiriza (termo da moda) a articulação para seu vice, Michel Temer e para o anódino Levy. A rainha está nua?