A REFORMA POLÍTICA
Na semana passada, no “painel do leitor” do jornal A Folha de São Paulo, uma leitora criticava com razão o aumento das verbas para o fundo partidário. Seu comentário terminava com um clamor por reforma política.
Fato que este clamor não é somente da leitora. Mas, ainda não é da sociedade como um todo. Infelizmente por muitas razões. Acredito que a principal e mais grave, é a falta de politização. Ser politizado não significa ir às ruas a cada final de mês.
Claro que os protestos são importantes. Num primeiro momento, eles acuam os governantes. A primeira reação geralmente é a palavra “mudança”. Desta vez, todos estão falando de reforma política. Consensos dessa magnitude são perigosos.
Se os brasileiros quiserem mesmo mudar o Brasil, a reforma política terá de começar por uma mudança na forma de governo. Nosso sistema presidencialista está ultrapassado e obsoleto. Além de ser um nascedouro de corruptos.
Pelo que se ouve e se lê, a tão falada reforma política ficará numa rala mexida nos financiamentos públicos de campanhas. Como já disse uma vez, seria como rasgar o “caixa dois” e jogar no lixo para que todos vejam. Só que depois, longe dos olhares xeretas da sociedade seria criado o “caixa três”. E nada mudaria.
O Brasil precisa de uma reforma política mais ampla e abrangente. Um começar do zero. E ainda resta a pergunta quase indecente: Quem fará a reforma política?
É evidente que os políticos não podem. Vou explicar porque eles não podem traçando dois paralelos. E veremos que cada um sempre defenderá o seu lado. Vamos imaginar a política salarial dos empregados dependendo de uma decisão das centrais sindicais. O que aconteceria com os salários se os trabalhadores tivessem essa prerrogativa?
Ou, que o aumento das aposentadorias fosse resolvido por uma simples canetada das federações dos aposentados. Lembrando que o aumento do fundo partidário foi de 641% em nove anos. Na mesma proporção, hoje o Salário-Mínimo seria de 2.243,00 reais.
Se o Brasil realmente quiser fazer uma reforma política séria, é preciso retirar dos políticos essa “aura” de intocáveis. Retirar uma vasta lista de benefícios maléficos. Proibir de legislarem em causa própria. E diminuir a quantidade de siglas partidárias. Quem votaria contra suas próprias regalias? No popular “largar o osso”. Ninguém!
Parodiando Cid Gomes, fomos todos achacados pela elevação das verbas do fundo partidário. Que não possui bandeira de nenhuma cor nas faturas. Que o vice Michel Temer, achando que o dinheiro é seu, defende dizendo que não trará consequências para o ajuste fiscal. Que começa achacar os bolsos já vazios dos brasileiros.