TERCEIRIZAÇÃO NÃO MATA, O PROBLEMA É A DIREITA: ESTA MATA

Terceirização tem um lado bom, porém, teríamos que dar um voto de confiança para a Direita brasileira e isso não é recomendável. Tirar a Dilma, ou a Esquerda, do poder é dar as chaves de um galinheiro para uma raposa. Temos que manter ela lá pelo menos até vermos constituída a reforma política, cujo ponto mais polêmico é o fim do investimento de empresas feito em campanhas eleitorais em troca de favorecimentos. A fonte de toda corrupção no Brasil.

Estamos vivendo um tempo que não dá para ficar alienado à política e nem tão pouco imparticipativo. O jovem tem muito a perder. Corre o risco de não se aposentar, de não poder se empregar. Vejamos, conforme artigo publicado no jornal Brasil de Fato, edição Minas Gerais desta semana, por que razão o Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados de Brasília, luta tanto contra a reforma política. Ele apareceu com um projeto que visa obrigar as empresas a pagarem plano de saúde para os funcionários. Isso acabaria com o investimento do Governo no SUS. O dinheiro do SUS vai para as empresas que vendem planos de saúde. Entre elas a Saúde Bradesco, que financiou a campanha do deputado sem escrúpulos e corrupto.

Uma vez desestatizado o sistema de saúde, além de perda de cargos públicos, e com isso o surgimento de desemprego, uma série de outras perdas ocasionar-se-ia.

No modelo que Cunha deseja, proporcionado por sua troca de favor pelo patrocínio de sua campanha eleitoral, aquele que não for trabalhador formal não terá acesso à saúde. E o único artifício que o trabalhador tem para se esquivar da exploração dos patrões, recorrer ao SUS para pegar atestado de médico e ausentar-se do trabalho um ou dois dias para recarregar as energias ou se sentir vingado, será perdido, pois, por regra, quando o empregado tem plano de saúde dado pelo empregador, é reservado à empresa aceitar atestados somente dos médicos cadastrados pela seguradora que ela contrata. E estes vão se comprometer a atestar que fulano precisa de uma folga é nunca.

Por aí se vê o que pode estar por vir: o modelo de relação de trabalho dos Estados Unidos. É até uma maravilha isso, entre outras coisas, livra-se os trabalhadores de sindicatos fajutos. Mas para o Brasil pode significar escravidão.

Nos EUA não tem, da forma que temos aqui, carteira de trabalho e CLT para vincular o empregado à uma companhia e dar-lhe garantias em casos de demissões sem justa causa por parte do empregador. Recisão nos Estados Unidos são acertos de dias trabalhados. Quer seja o funcionário ou o utilizador da sua força de trabalho o rescindidor do contrato. INSS lá é plano de saúde que o próprio trabalhador paga. O FGTS é poupança. Dos programas sociais trabalhistas que temos, só o Seguro Desemprego tem um semelhante. E é só este que o Estado cobre. O restante é a empresa que paga para o funcionário, na forma de salário. Apenas isso.

O salário pago permite que o trabalhador arque com todas essas despesas sem que o empregador fique obrigado a pagar uma parte. Este só tem que arcar com o pagamento do plano de saúde e com o depósito na poupança de montepio do funcionário em vez de passar esse dinheiro direto para ele. São contas que ele só pode movimentar quando depender de médico ou estiver desempregado. Do contrário, só quando se aposentar. A alimentação e o transporte ficam também por conta do empregado, salvo quando a companhia oferece benefícios para atrair trabalhadores.

O imposto por lá é único, imposto de renda, e não é o trabalhador que sustenta o grosso das despesas públicas, e sim os impostos que vêm do meio comercial, como o nosso ICMS, ou do setor financeiro. Assim, o Estado participa pouco nas relações de trabalho, pois estas funcionam como se fosse o empregado um alugador da sua força de trabalho para as empresas. É como se ele fosse outra empresa. Uma terceirização direta, desburocratizada graças à antecipação de regras e anos de experimentação. Em vez de o profissional depender de uma terceirizada para trabalhar para uma operadora de telefonia, por exemplo, ele negocia suas atividades e salário direto com ela. Ninguém o explora e ganha sobre ele, sem fazer atividade profissional alguma, a não ser a empresa que lhe dá a oportunidade para trabalhar. Nem call center e nem sindicatos.

Os sindicatos por lá atuam como o Ministério do Trabalho e como as agências de emprego daqui. Disciplinam as remunerações e condições de trabalho para as categorias, criam catálogos de trabalhadores, ranking dos melhores. As empresas gostam de contatar os sindicatos para indicação de pessoas. Cada profissional por lá deve ser sindicalizado para atuar na profissão obtendo os direitos garantidos pelos sindicatos. Pagam contribuições sindicais para isso.

Os profissionais tarimbados, que já têm carreira sólida, não precisam recorrer a sindicatos para assumirem boas propostas de ocupação. Graças à visibilidade alcançada pela carreira, eles podem andar com as próprias pernas e não precisam pagar mais do que o imposto de renda. Por aqui, mesmos estes, em se trabalhando com carteira assinada, precisam pagar contribuição sindical. O que dá margem para o aparecimento de sindicatos corruptos, como o das empresas de telecomunicações no caso do Brasil, que fingem defender os interesses dos trabalhadores de uma categoria e no fundo enriquecem com a ajuda de acordos com a força patronal, e de sindicalistas, que vivem na mordomia, cheios de regalias, à custa do trabalhador e sem fazer nada mais do que incitar badernas para parecerem necessários.

Não fossem os conservadores, que se dizem progressistas, da Direita brasileira ordinários e inconfiáveis poderíamos experimentar esse modelo norte-americano. Corruptos e traiçoeiros como eles são, quem é louco de abrir mão de direitos para experimentar o modelo?

Receber um cheque gordo semanalmente, já com os descontos dos impostos, do plano de saúde e da aposentadoria descritos no verso e destinados às contas corretas. As quais o próprio beneficiado pode acompanhar o andamento dos montantes. Previdência que inclui, se quiser, até serviços funerários estendidos à toda a família. Viver sem precisar se preocupar com os gastos públicos ou falta de investimento por parte dos governos. Fonte de atenção que a mídia trabalha e desgasta psicologicamente todos os brasileiros, desunindo-os por causa de informações maliciosas voltadas para a causa política de um grupo ou da elite burguesa, que geram receita para os veículos, ou pela simples razão de vendagem de exemplares ou alavancar audiência.

É muito mais avançado viver uma democracia econômica dessas. Infelizmente o brasileiro vai precisar esperar mais. É preciso amadurecerem os políticos, os burgueses, os trabalhadores, a mídia, as escolas, a igreja, a família. O povo em todas as suas camadas. E esse amadurecimento ainda não chegou. Se todos procurassem ser gentis e honestos, fizessem a sua parte, parassem de se contentar com futilidades e com tolices, deixassem de lado causas secundárias ou sem nobreza, estaríamos vivendo tempos de contagiante prosperidade. Gastaríamos o tempo com negócios ou com lazer em vez de protestos ou crimes. Teríamos as notícias claras e sinceras pelo telefone em vez de vê-las distorcidas e golpistas pela TV, pelo ràdio, pelos jornais, revistas ou pela internet. Nos dignaríamos a afazeres úteis e nos amaríamos muito mais uns aos outros.