O BRASIL ENVENENADO

O Brasil é um referencial para muitas questões humanitárias. Num sentido positivo, somos um país com muitas águas, muitas florestas, muita terra fértil, muita agricultura, muito sol, nada de frio intenso e prolongado... Uma enormidade de país! Um país sem vulcões, sem terremotos, sem tornados de grandes proporções, sem maremotos...

Num sentido negativo, há uma variedade de acontecimentos: secas regionais, enchentes esporádicas, algumas ventanias, muitos raios, algumas chuvas torrenciais...

No meio popular, conta-se que outros povos reclamaram com Deus porque Ele teria privilegiado o Brasil, sem catástrofes naturais de grandes proporções. Países com vulcões, terremotos, tornados... consideravam isto uma injustiça por parte de Deus. Diante desta acusação, Deus teria explicado: está certo, o Brasil tem uma natureza privilegiada, mas vejam o “povinho” que coloquei lá!

Então, o problema do Brasil não é a Petrobras, o petróleo, ou a falta das águas para gerar energia. O problema do Brasil são as mazelas de seu “povinho”. O “povinho” que administra, ou administrou a Petrobras; a corrupção que contamina tanto a administração pública, como os gestores empresariais, e a mentalidade de grande parte das camadas populares.

Desta forma, chegamos ao ponto a que chegamos. Em qualquer parte do mundo onde chegam os políticos, turistas e comerciantes brasileiros, o Brasil é conhecido como um país corrupto. Com certeza, isto é humilhante para todo brasileiro, que zela pela dignidade de seu nome.

Mas não quero me deter aqui naquilo que é notícia de todo dia: péssimo ranking na educação; péssimo atendimento à saúde; falta de saneamento; devastação da floresta amazônica; altíssimo índice de homicídios. Quero mencionar especialmente o triste fato do envenenamento do Brasil e de sua população, através dos agrotóxicos. Já é conhecido pelo mundo que os produtos naturais brasileiros devem ser fiscalizados de uma forma toda especial, pois, muitos deles estão contaminados por índices elevados de agrotóxicos.

Todo dia ouvimos denúncias: cuidado com os morangos vendidos por aí; cuidado com os tomates, cuidado com os pepinos, com as abobrinhas, com a alface, com as maçãs, com a carne de frangos, com a carne de peru, originários de granjas;

com a carne de boi, de porco... As verduras e as frutas estão contaminadas com agrotóxicos, os animais recebem muitos hormônios para crescerem e engordarem mais rapidamente...

A advertência: na medida do possível, comprem produtos orgânicos; muitos agrotóxicos e hormônios são prejudiciais, causam câncer... envenenam nosso organismo.

Os produtores e empresários conhecem os perigos de tantos agrotóxicos, anabolizantes, hormônios, produtos transgênicos, colorantes, etc... Mas, sua consciência sem ética, apenas quer o lucro. Que os consumidores se danem!

Mas vejam: fosfatos aplicados nas plantações de maçã, na região de Vacaria no Rio Grande do Sul, já levaram muitos jovens agricultores ao suicídio; no oeste do Paraná, um plantador de soja e trigo me disse que, muitas vezes, quando aplica agrotóxicos a 400 metros de sua casa, sua esposa começa a vomitar; na região de Lins, em São Paulo, um plantador de tomate não coloca em sua mesa o tomate que planta, pois, como me disse: “ele sabe o que coloca na plantação”; ainda no Rio Grande do Sul, um primo meu, agricultor, me relatou que, depois de ter aplicado agrotóxico na plantação, jogou a lata vazia do veneno num riacho, e numa extensão de um quilômetro morreram todos os peixes do riacho; um colega meu, ao terminar os exames do seu curso de filosofia, acompanhou um conhecido, para se distrair, para o campo. Lá iriam aplicar veneno numa plantação de batatinhas. Por engano pegou uma garrafa, na cabine do caminhão, e tomou um gole, pensando que era cachaça. Era, porém, um veneno concentrado, que deveria ser misturado à água na proporão de uma colher para duzentos litros, antes de ser aplicado na plantação. Este meu colega nem precisou engolir o veneno. O seu sistema nervoso foi destruído. Viveu ainda alguns anos, mas nunca mais recuperou a consciência, de tão forte que era o agrotóxico da garrafa.

Literalmente, o povo brasileiro está sendo envenenado. Não há uma fiscalização eficiente em relação aos agrotóxicos. Muitos agrotóxicos, formalmente proibidos, entram no Brasil contrabandeados, especialmente nos Estados próximos ao Paraguai. Por outro lado, o Governo isenta de impostos a importação de boa quantidade de agrotóxicos. Por isto, o Brasil está no ranking mundial como um dos países que, descontroladamente, usa mais agrotóxicos. Uma vergonha, e uma irresponsabilidade para com a saúde do povo! Depois se queixam de que os casos de câncer aumentaram muito no Brasil e dão muito gasto ao sistema de saúde.

Inácio Strieder é professor de filosofia-Recife/PE