BRASIL: CAOS POLÍTICO E ECONÔMICO

O gigantesco incêndio que já dura oito dias nos terminais de combustível do porto de Santos, é a metáfora do momento para as dificuldades do governo federal, o episódio mais recente que resultou na extinção da Secretaria de Relações Institucionais e consequente transferência de atribuições ao Vice-presidente da República Michel Temer, demonstra-se mais como um último e desesperado gesto, do que mesmo como uma manobra política previamente pensada. Fora o benefício da redução de um ministério, o que se sabe dos bastidores da medida é muito pouco se comparado ao festival de suposições e incertezas que a mudança tem gerado. O PMDB e suas inúmeras faces ou facções, é o grande algoz da Presidente. Encurralada, Dilma lança mão de Temer, depois da recusa de outro colega de tendência diferente, que teria sido desaconselhado pelos presidentes das casas legislativas, ambos do dito partido, mas de outras das várias correntes (e hajam correntes), a aceitar o desafio indigesto.

Na função de Rainha de Copas, Dilma cada vez mais se isola enquanto o Congresso prossegue em sua tentativa de governar com o único ministério, o da Fazenda, que vem negociar as medidas do pretendido e importante ajuste fiscal. Desastrada em suas falas, a Presidente confirmou o desinteresse pela educação quando, durante a posse do novo ministro na pasta, condicionou os investimentos na área aos recursos do "Pré-sal", enquanto a Petrobras agoniza na catastrófica Lava-jato.

O que começou como uma revolta para fortalecer os dois Presidentes do Legislativo acusados na dita operação, evolui perigosamente para um poder paralelo e capenga, coincidindo com o delicado momento em que mais precisamos de coordenação, vez que a união que seria ideal, é impossível.

O momento delicado, muda-se em ameaçador quando adentramos à cena econômica, senão vejamos: o velho dragão da inflação, talvez pelo barulho em Brasília, parece querer acordar da hibernação, março registrou dois recordes históricos, 1,32% a maior inflação dos últimos 20 anos e 2,82% no trimestre, pior número dos últimos 12. Difícil acreditar nas previsões de 8,5% para o ano, menos ainda nos 6,5% que é a "meta" do governo. A crise que evolui frente a um governo paralisado ainda tem espaço para estágios piores, os insucessos acumulados nas tentativas do pretendido e necessário ajuste fiscal, além da constatação de que 85% das ações intentadas significam sacrifício para contribuintes e consumidores, confirmam a incapacidade do Governo em obter sucesso e vencer o embate que o tem paralisado, acentuando ainda mais a já instaurada crise.

O "novo governo" paralelo, leia-se Congresso Nacional, vem batendo todos os recordes de votação de matérias nas mais diversas áreas, o assunto do momento é a famosa terceirização. De molho há mais de dez anos, a mudança na legislação que permitirá às empresas contratar mão de obra de terceiros para sua atividade fim, tem causado uma forte polêmica no parlamento. A medida deve passar com alguns ajustes negociados, entre os envolvidos. Com interesses distintos, os vários atores têm visões diferentes: no prisma do empresariado, constitui-se como alternativa para melhoria da competitividade; Entre os trabalhadores predomina o temor de perda de benefícios trabalhistas; Enquanto que no governo, leia-se Ministro da Fazenda, o medo de redução na sua receita; esquecendo o interesse de alguns em somente derrotar o fraco governo, a sociedade deixa de participar de um debate importantíssimo sobre a enorme carga de encargos sociais que penaliza o emprego no Brasil. Uma mudança nos pesados encargos pode ser a grande alavanca ao emprego. Emprego que se constitui no motor do tão almejado desenvolvimento. Claro que a medida deveria ser precedida por um enxugamento no estado sustentado pelos trabalhadores e empregadores, mas se ainda não é possível, que viesse pela transferência para os já elevados tributos que nos têm sufocado.

Bom, a esperança em extinguir o incêndio continua, certeza mesmo só uma: venceremos os dois incêndios mesmo sem sabermos quando!

Stelo Queiroga
Enviado por Stelo Queiroga em 08/04/2015
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