Lula, Dilma e.....Marx?

Na abertura de uma de suas instigantes e desafiadoras obras, Karl Marx (1818-1883), analisando o período revolucionário na França entre 1848 e 1851, aborda: “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. (*)

Sem dar trelas à verborragia palanqueira de Lula que culminou empurrando-o para a presidência em duas oportunidades, algumas expressões permearam a mídia: a atualíssima “Se houver confronto, botamos o exército do Stédile nas ruas”; “Eu poderia ter descoberto o Brasil, se tivesse nascido antes”; “O Brasil começou em 2002”; “A herança maldita”, sempre apelada quando a situação lhe era adversa; “O Congresso tem 300 picaretas” (só ?) e, como um moderno Gepeto e seu Pinocchio cravou: “Dilma sou eu”.

Assim o disse e quem seremos nós, pobres viventes, para desafiá-lo, não é ?

Recorro à perspicácia de Pondé: “Temos que reconhecer: chegamos ao fim de uma era. O PT vive seu outono. Melhor voltar para o pátio da fábrica onde nasceu e de onde nunca deveria ter saído”.

“Infelizmente, o governo, diante da história que arromba a porta, parece um grupo de náufragos num barquinho, fugindo da traição que perpetrou, xingando a água, dizendo que as ondas são facistas e que a tempestade é mal-intencionada.”(1)

Em busca de oxigênio considerando que sou, apenas, um reles catador de conchas perdido num enorme e desconhecido mundo, apelo para Antônio Prata no artigo “O camaleão daltônico”: “No divã do Dr. Morsa, psicanalista especializado em dupla personalidade, a zebra da Ku Klux Klan acaba de se dar conta, aterrorizada, de que nos períodos de amnésia é vice-presidente do comitê regional dos Black Power”.(2)

Lula e Dilma: a farsa e a tragédia. Eis o PT por inteiro.

Assim como Hegel, segundo Marx, esqueceu-se de considerar que a repetição se daria uma vez como tragédia e a segunda como farsa, Marx parece que inverteu os polos quando se trata aqui deste Brasil, bem brasileiro: a primeira com Lula, a mais escancarada farsa; a segunda, com Dilma – “Dilma sou eu” – como a tragédia que nos assola.

Também é querer demais que tanto Hegel, como Marx, ousassem imaginar um esgoto a céu aberto tão profundo e nas dimensões sociais e políticas como este onde atolamos.

Na esteira dos absolutistas Luíses da França – o Estado Sou Eu e o Estado é Meu –, seja ainda como Luís Felipe ou Luís Bonaparte, acometido pela mesma síndrome narcisista que os caracterizou, o nosso Luiz Inácio ególatra e megalômano, seja como Lula, seja como Dilma, repete como farsa e como tragédia seus homônimos do passado.

Ponto para Hegel, caprichosamente alinhavado por Marx, pois!

Bellozi

23/03/15

Nota: Este texto é datado de 23/03 e, somente, agora publicado. Razão: o jornalista e escritor Reinaldo Azevedo aborda a obra de Marx, aqui citada, em sua coluna de hoje, 27/03, na Folha de SP. Daí, não tê-lo citado como referência. As abordagens são distintas.

Ref: (*)O 18 Brumário e Cartas a Kugelmann – Karl Marx.(Paz e Terra, 1978)

(1) – Luiz Felipe Pondé – articulista FSP (O outono do PT).

(2) – Antonio Prata – articulista FSP (O camaleão daltônico).

bellozi
Enviado por bellozi em 27/03/2015
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