OS CABEÇAS-PINTADAS

Um domingo diferente e emocionante, acho que é como melhor posso descrever este quinze de março. Tudo começou na maternidade, fui buscar minha primeira neta (Letícia) - primogênita do primogênito - para deixar em casa, ato contínuo corri para o almoço de aniversário da única e amada filha, que há vinte cinco anos chegava em outra traumática e polêmica estréia da dupla traquina Collor-Zélia. Um e outro, os meus meninos, estranhavam-me fantasiado de bandeira, fora da copa. Corre-corre grande, a agenda tomada ameaçava perigosamente o horário da missa, mas deu certo, chegamos a tempo de descer a avenida junto aos amigos (proibido chamar companheiro) que congestionaram o "Uotizape", única concessão que faço às novas e viciantes mídias sociais, nos últimos dias.

Tenis, bermuda, boné, bandeira e apito... Nem em jogão do "Belo"(Botafogo-PB)! Tudo novo, menos eu, pelo menos era o que pensava, não demorei muito até notar que dividia o asfalto e revia muitos contemporâneos, estávamos todos lá, colegas empresários, vizinhos, antigos amigos e, se não todos, a grande maioria estreante no ramo do protesto de rua. Em comum? Acho que os cinquenta tons de cinza, no cabelo, claro. Em pouco tempo e breve análise, entendi que estava entre os mais jovens, na média da faixa etária dos portadores de faixa. Confesso que adorei a experiência, aprendi rápido o significado de "coxinha" e "reaça" e tenho que admitir que não me ofenderam, até pelo contrário, gostei. A espontaneidade de todos ao entoar o Hino Nacional Brasileiro foi de arrepiar, senti que o patriotismo ainda existe fora do esporte e me senti bem por isso.

Sobre a bossa nova chamada humildade a la Rousseff, em cartaz em Brasília, sigo mais propenso a acreditar que o surto de humildade que parece ter acometido a nossa Presidente e seus ministros, decorre muito mais da orientação dos gurus marqueteiros, baseada nas pesquisas que vêm avaliando pessimamente o governo, do que da onda de protestos que aconteceram do Oiapoque ao Chuí. Mas o fato é: vocábulos raríssimos como "humildade" e "erro", ainda que soem falsos, foram finalmente ouvidos da boca dos poderosos de plantão. É um tal de fala-ministro, fala-presidente, que panela deve ser o único item com bom desempenho nos péssimos números da indústria nacional.

Um aspecto importante das manifestações por todo o Brasil: tudo ocorreu de forma pacífica e ordeira, uma das coisas que mais ouvi foi sobre a completa rejeição a qualquer idéia de separatismo regional, racial ou social. Cai de vez por terra a velha pregação de dividir nossa nação; nada de rico contra pobre, norte contra sul, ou elite branca e outros chavões, somos todos iguais (pelo menos nos protestos) e fim de papo!

Irritada com as manifestações, que achava ser exclusividade dela, a ex-esquerda - também uma "velha senhora"- provoca e convoca os exércitos dos "Sem"(MST, MTST e "Metc..."), a manifestar-se por todo e qualquer motivo. O fato afasta e ainda mais irrita a população, que viu os caminhoneiros perseguidos e obrigados a desobstruir estradas enquanto nada ocorre aos "Sem Tudo".

De nome novo e melhor - Que Pais é este - a operação Lava-Jato completa um ano e inicia nova fase com tudo. O esforço da força-tarefa de abnegados (coincidência ou não todos concursados) sob a batuta do juiz Moro promete não arrefecer. Cabe à população e à imprensa manterem constante, a pressão sobre a Justiça (leia-se STF e agora nomeados ou apadrinhados), para que não terminemos atolados no glúten da velha pizza do cardápio. Enquanto isso, o Partido dos Trabalhadores mantém a "coerência" quando conserva no cargo seu super exitoso tesoureiro, afinal: "nunca antes na história deste país", viu-se tanta eficiência em arrecadar fundos, como na famigerada gestão do Sr. João Vaccari Neto.

Mas, voltando para o domingo na rua, foi bom mas durou pouco! Ufa ainda bem! Deu tempo de, exausto, participar da última missa. Imensamente feliz, tive que resistir à tentação de agradecer aos perversos petistas pela alegria da experiência.

Ah, ia esquecendo, sobrou tempo também para rever a netinha Letícia em seu terceiro dia de estréia, a ela dedico minha patriótica participação no manifesto dos cabeças-pintadas, aliás foi em quem mais pensei até me decidir a ir à rua.

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Stelo Queiroga
Enviado por Stelo Queiroga em 19/03/2015
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