Águas (turvas) de Março

“É pau, é pedra, é o fim do caminho...”

A primeira impressão que temos nas primeiras semanas de março de 2015 é a de que ainda permanecemos em outubro de 2014. Logo, as “águas de março” não assinalam o fim, mas a continuidade de uma estação...

A mídia, forças político-partidárias e setores da população continuam a acossar o governo Dilma que, após a vitória nas eleições presidenciais, mantém sua posição, mesmo sitiado. Ante tal cerco político, a economia, outrora seu grande trunfo em momentos como esse, passa por uma instabilidade, aditivada pelas denúncias de corrupção obtidas na Operação Lava Jato.

A grande mídia, tendo sua ponta mais extrema e agressiva representada pelo jornalismo sectário e panfletário praticado pela revista Veja, retumba diariamente um sem fim de notícias negativas e críticas sistemáticas contra o governo federal. Os partidos derrotados em outubro e que se articularam em torno da candidatura de Aécio Neves no segundo turno, aproveitam a conjuntura favorável para “sangrar” ao máximo os ocupantes do Palácio do Planalto.

Os segmentos da população refratários ao governo permanecem nas ruas contra esse. Antes se manifestando por meio das vaias durante a Copa do Mundo e agora no recente “panelaço”, promovem um martelar contínuo nas redes sociais, compartilhando desde críticas pontuais até o saudosismo pela Ditadura Militar, passando por pedidos incessantes de impeachment, impulsionados pelo incitamento antipetista de alguns articulistas da imprensa e pelo visível apoio da grande mídia.

Já o governo Dilma, entrincheirado na vitória eleitoral de outubro, divide-se entre ceder às alianças de centro e de direita que avalizaram sua governabilidade até aqui, abrindo mais espaço ministerial para o PMDB e realizando um “ajuste” conservador na economia (o que parece ser o caminho escolhido), ou aprofundar as conquistas sociais tão caras a esquerda. Vivendo tal impasse, mantém-se acuado pelas denúncias de corrupção na Petrobrás, que atingem diretores da companhia, dirigentes partidários e políticos ligados ao governo e aos partidos de sua base, principalmente do PP, PMDB e PT.

Nesse ponto, chega a ser paradoxal que até Aécio Neves (*) tenha sido citado pelo doleiro Alberto Youssef em seus depoimentos, além de políticos do PSDB e do PP que apoiaram o senador mineiro no segundo turno, todos inclusos na recente Lista de Janot. A corrupção, vê-se, não possui ideologia, colocando “petralhas” e “tucanalhas” lado a lado sob suspeita e investigação.

A parcela da população que reelegeu a presidenta, por sua vez, ao mesmo tempo incomodada pelos efeitos do ajuste econômico e constrangida em virtude das denúncias de corrupção, claudica para reagir, mesmo tensionada pela investida “coxinha” sobre toda a gama de avanços sócio-econômicos produzidos nos últimos 12 anos para os estratos mais vulneráveis da sociedade.

Nessa queda de braço o governo não conta mais com o espaço midiático proporcionado pela propaganda eleitoral gratuita. Assim, aposta suas fichas, principalmente, na aliança com o PMDB, na recuperação da economia e no apoio dos simpatizantes nas redes sociais, o que já foi um fator decisivo em outubro.

Eis, sinteticamente, as águas de março e os componentes que as turvam, numa análise oportuna de se fazer numa sexta-feira 13, com todas as alusões que a data estimula. Se não se tomar nenhum “atalho” pelo caminho, outubro de 2014 só tende a terminar em outubro de 2018.

(*) – Em 2014, no último final de semana antes da votação do segundo turno, a revista Veja antecipou de segunda para sexta-feira sua edição semanal a fim de divulgar denúncias de Youssef contra a presidenta Dilma e o ex-presidente Lula, com matéria de capa intitulada “Eles sabiam de tudo”, numa tentativa clara de golpe eleitoral. Agora, sabendo-se que Neves foi igualmente citado pelo doleiro, a revista deve explicações pelo favorecimento explícito dos “vazamentos seletivos” por ela obtidos...


Texto publicado na seção de Opinião do jornal Portal de Notíciashttp://www.portaldenoticias.com.br