Esplendido momento.

Esplêndido momento...

Em junho de 1940, quando a Inglaterra, sozinha, lutava contra o nazi-facismo, Winston Churchill pronunciou o famoso discurso que ajudou a manter a nação unida, corajosa na luta com um inimigo superior, convicta de que venceria a guerra. Churchill referia-se àquela hora de horrores de uma nação que se recusava a se render à tirania, que ela seria lembrada pelas gerações futuras como “our finest hour”, o momento histórico mais esplêndido da história inglesa.

Meditando sobre as desgraças do Brasil de hoje me pergunto: qual foi a nossa hora mais esplêndida? A Inconfidência, a Independência, a Lei Áurea, a Republica, a Revolução de 30, Juscelino, a Copa de 70, a Redemocratização, a Campanha Diretas Já? Foram fatos importantes, mas na perspectiva de uma radical, permanente e determinada ação moral de uma nação, com vistas à conquista de objetivos superiores – ainda não vivemos a nossa “finest hour”.

Poderemos, no entanto, construir este momento, de responsabilidade histórica e visão de futuro, pelos rumos que o povo brasileiro vier a dar às manifestações programadas para este mês de março – milhões de indignados nas ruas protestando - um fato político real e único na nossa história.

Reza a Constituição que “todo o poder emana do povo e em seu nome será exercido”. Assim sendo, cansado de ser enganado por políticos, de viver calado testemunhando vergonhosas atitudes de corrupção e incompetência em todas as regiões do país, em todos os níveis de governo, este povo foi capaz de, agora, se mobilizar para dizer um sonoro basta ao caos que se instalou na pátria. Parar o Brasil se preciso for, sem estar atrelado a partidos políticos desmoralizados, sem programas e sem orientação ideológica clara, muito menos às atuais lideranças omissas, covardes e irresponsáveis que vão querer se aproveitar de um ato espontâneo do povo para tirar proveito próprio. Não queremos políticos, nem partidos políticos, nem sindicatos ao nosso lado, tentando liderar nossas ações e se transformar em nossos porta-vozes. Nós o povo vamos atuar como uma só pessoa: - os indignados. Ditaremos o futuro do Brasil a partir do que sonhamos.

Não seria um sonho ingênuo ou esdrúxulo exigir, no dia 15 de março, que, num ultimo gesto de dignidade que ainda possa restar, (ou medo do que possa vir a acontecer nas cidades de todo o Brasil), os políticos a nível federal de representação popular e de governo renunciem aos seus mandatos e entreguem seus cargos para o Presidente do Supremo Tribunal Federal, providenciando, antes, as necessárias emendas constitucionais sejam aprovadas para o que se propõe a seguir se concretize. Encerrem os ridículos trinta partidos, (verdadeiros balcões de negócio), e, em seis meses, apresentem outros com a necessária clareza programática e doutrinária, (não seriam mais de cinco); providenciem novas eleições federais para daqui a um ano. Certamente os demais detalhes, necessários e importantes, desta ação, seriam apresentados pelo povo mobilizado e organizado, e não neste artigo que intenta, apenas, levantar questões gerais, aspirações populares, para o debate nacional.

Imagino que se milhões de cidadãos e de cidadãs forem para as ruas, como se espera, indignadas como estão, algo de concreto deve ser proposto, pois apenas exigir a extinção de alguns partidos, ou a demissão de um Presidente, é muito pouco para fazer frente, com eficácia, à grave crise global que estamos a enfrentar e que estará junto a nós, nos fazendo sofrer, por muito tempo ainda.

Caso não sejamos atendidos e nada seja feito para efetivar uma verdadeira mudança de pessoas, siglas, grupos há muito sedimentados no poder, nós cidadãos e cidadãs, deste amado e vilipendiado Brasil, faremos uma greve nacional nos dias 17, 18 e 19 de abril. Com exceção das Forças Armadas, Bombeiros, Policias Federal e Estaduais, Serviços de Saúde, sem o comando de ninguém, nem de partidos nem de sindicatos. Pacificamente ficaríamos em casa, pararíamos o país: comercio, industrias, transportes, bancos. Esperaríamos mais um mês e se até maio nada acontecer pararíamos novamente o nosso país nos dias 14, 15, 16 e 17 de maio, permanecendo em casa num determinado, pacífico e altissonante apelo e aviso de que não voltaríamos atrás e que as ditas “autoridades” tratassem de providenciar as mudanças que a maioria do povo brasileiro, a fonte real da legitimidade do poder, está a exigir. As lideranças, os interlocutores surgiriam naturalmente nas várias regiões – mas não há muito a discutir: queremos que saiam todos e que novas eleições sejam convocadas. Aí teremos o cuidado, mobilizados como estamos, para eleger os melhores, os mais competentes e probos cidadãos e cidadãs. E iríamos assim, mês a mês, aumentando os dias de greve nacional até que os atuais governantes e ditos representantes do povo renunciem todos, se demitam, por absoluta impossibilidade de governar, de legislar ou de, se quer, sair às ruas...

Para que esta proposta, revolucionária e radical, possa ser levada a sério, surtir efeito, atemorizar os políticos, (só assim eles se movimentarão), é preciso de que o povo se conscientize, com urgência, sobre a gravidade do momento que estamos vivendo – já estamos numa guerra civil com o tráfico de drogas, a bandidagem a solta nas cidades, com o caos governamental, com a corrupção generalizada, com a violência aumentado em todos os setores de convivência, o desmanche da economia, o desemprego crescendo. É preciso que o povo, consciente e mobilizado, dê um basta definitivo a esta situação inadmissível. Que o povo brasileiro perceba que as atuais pessoas no governo, no Congresso Nacional, não têm mais condições morais e intelectuais de atuar. O povo unido, se comunicando pelas redes sociais, conversando com seus amigos e conhecidos, plenamente convencido de que nós, e somente nós, cidadãos e cidadãs é que podemos fazer alguma coisa pelo bem e pelo futuro justo, democrático, livre e pacífico para o Brasil.

O que se está a propor não é uma ingenuidade ou uma utopia. Não. Trata-se da reação de todo um povo ao caos, à crise global que se instalou no Brasil e que só uma atitude coletiva, radical, poderá resolver.

Não poderemos ficar mobilizados por anos, isto é o papel a ser exercido pelos parlamentares que representam o povo. Mas podemos e devemos, como agora estamos fazendo, é direcionar com determinação e eficácia o rumo dos acontecimentos de tal forma que nossos sonhos de democracia, liberdade, justiça, desenvolvimento integral, paz e solidariedade sejam concretizados.

Pensem na proposta, se organizem e permaneçam mobilizados em torno deste ideal de salvação da pátria, se comuniquem permanentemente, mantenham-se unidos e determinados. Vamos à luta. O Brasil espera esta atitude dos seus filhos e filhas. Esta será, com certeza, a nossa hora mais esplêndida.

Eurico de Andrade Neves Borba, 74, aposentado, cidadão indignado, reside em Ana Rech, Caxias do Sul, RS.