Os idos de março
O presidencialismo no Brasil estabelece uma conexão direta entre o executivo e as massas. Em junho de 2013, a volta atrás no aumento de 20 centavos, por pressão das ruas, fortaleceu esta visão de ligação direta sem mediação dos canais institucionais. A visão dominante do Brasil é que o executivo manda, mas na verdade este depende da formação da maioria no legislativo para governar o país. Entretanto, não se aceita que o executivo esteja em minoria e não represente a maioria. Não se discute a legalidade da eleição e do candidato eleito exercer o mandato, mas se passa a discutir a legitimidade política para continuar a exercer o poder.
Os impasses políticos no presidencialismo não podem ser resolvidos com a convocação de novas eleições ou a troca de primeiro-ministro (característica do parlamentarismo e dos sistema misto de governo, quando há eleição direta para presidente). O confronto aberto entre os poderes (executivo e legislativo) numa luta pelo controle de agenda política e da pauta de votação pode agora provocar uma grave crise política. As manifestações das ruas podem gerar um confronto direto contra o executivo ao passar por cima dos canais institucionais que também podem perder a legitimidade de representação política. Viveremos tempos de incerteza com os idos de março.