NÓS QUEM, CARA-PÁLIDA

NÓS QUEM, CARA-PÁLIDA ?

De novo uma metáfora e um breve arrodeio, afinal sem esforço não há mérito ou graça, para explicar o título da semana e a relação que pode guardar com nossos temas e interesses. A frase-título, teria sido pronunciada pelo personagem Tonto, companheiro índio do Zorro nas estórias em quadrinhos que foram sucesso nos anos 1960. Cercados por peles-vermelhas em um desfiladeiro onde surgiam índios por todos os lados, e em resposta ao comentário do mascarado... "Estamos encrencados Tonto", antes de esporear desesperado.'O "herói" esqueceu que, diferente dele, Tonto estava entre irmãos, e nada tinha de tonto além do nome, claro.

Ouvi a narrativa na ocasião em que fui apresentado ao Locus de controle, conceito que pode ser entendido como a expectativa do indivíduo sobre a medida em que seu sucesso ou fracasso, dependem e estão sob controle interno, via esforço pessoal, competência, etc. Ou externo, devidos e causados por outras pessoas, sorte, chance, destino e até mesmo a Deus.

Formulado pelo norte-americano Julian B. Rotter em seu artigo "Psychological Monographs", a tese se desenvolve e ajuda no aprendizado e na solução de muitas dificuldades. Fácil concluir que, alguém com locus de controle predominantemente interno, estará mais no comando de sua própria vida e sucesso, exigindo de si mesmo, e se concentrando no que pode fazer por conta própria, para lidar com os problemas. Enquanto uma pessoa com locus de controle predominantemente externo, sente que fatores externos tem importância maior na sua vida, exige mais dos outros, tem uma maior dependência emocional e por aí vai.

E nós com isso? Vamos lá: as declarações da Presidente da República depositando ao governo anterior, aliás anterior ao anterior, a responsabilidade pela corrupção na Petrobras, é exemplo claro do comportamento apresentado por Rotter. Aliás, não é o primeiro sintoma. Durante a campanha eleitoral, nas poucas vezes em que conseguia se fazer entender, o discurso da candidata "vitoriosa", era o da transferência das responsabilidades a fatores externos como crise, ou recuperação da economia mundial, além das eternas teorias de perseguição pela mídia, preconceito ou as fantasiosas, e sempre em voga, teses conspiratórias.

Assumir os erros é essencial para o sucesso na tentativa de consertá-los. Pelo contrário, a infeliz declaração de que o Ministro da Fazenda teria sido infeliz ao afirmar que as medidas do passado eram ruins ou irresponsáveis, denota a falta de habilidade que habita e faz praça no Palácio do Planalto. Sem dúvidas que medidas como a desoneração da folha de pagamento, seriam bem mais necessárias agora (enquanto cresce assustadoramente o desemprego) do que no passado, o que acaba por sugerir que o governo pode estar errando de novo na condução econômica, quando tenta "desdesonerar" a mesma folha.

O investimento econômico nasce e prospera na credibilidade e confiança no futuro. As duas condições, infelizmente, estão cada vez mais raras neste momento.

Para quem acredita que a crise econômica é essencialmente política, a semana está sendo pródiga em confirmar a tese. A lista do Ministério Público com os políticos a serem investigados, enviada ao Supremo Tribunal Federal, já vem causando estragos na dita base "aliada". Mais magra, a Presidente ainda se movimenta entre os políticos como um elefante em loja de cristais. O PMDB se afasta perigosamente do governo, o que pode se constituir no estopim que falta ao barril de pólvora com desembarque marcado para o dia quinze.

A nossa líder parece oscilar entre os dois comportamentos do estudioso Rotter: o Locus interno, quando consegue emagrecer(e nem ajustou o guarda roupa ainda). E o Locus externo, quando teima em achar que o problema não é dela, ou pior, ela.

Por último, uma nota boa ainda que irônica, o Presidente do Senado enfim entendeu que um país não pode ser gerido por medidas provisórias. A ironia reside no fato de que fazemos isso há pelo menos vinte anos. Antes tarde do que nunca!

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Stelo Queiroga
Enviado por Stelo Queiroga em 04/03/2015
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