MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE GOODNEWS (II)
“SINDICATO DE LADRÕES”
“Ninguém será mantido em escravidão ou servidão...”.
(Artigo IV, Declaração Universal dos Direitos Humanos).
Nas entrelinhas da realidade dessas comemorações nas galeras dos estádios, fazem parte as pessoas da sala de jantar que aplaudem os ídolos chutadores de bola, com uma cultura rudimentar, proibidos de se manifestarem em opiniões sobre as barbaridades cometidas contra membros de suas famílias, da família de seus vizinhos, da família política que administra a crueldade da corrupção.
A orientação de seus superiores é no sentido de que fiquem calados, que não manifestem opinião pessoal aos repórteres, como se seus olhos estivessem proibidos de ver a realidade nacional, seus ouvidos não ouvem o clamor de seus pares nas galeras fanatizadas por fama, dinheiro, poder. Têm de ser coniventes, para ter um futuro na carreira futebolística. E chegarem à Seleção canarinho.
A pequena víbora e suas hienas assassinas que me assaltaram, desejam apenas ter. Ter. Ter. Ter dinheiro roubado para consumir suas pedras de crack a qualquer preço, mesmo que tenham de matar, derramar sangue, violentar pessoas com a única finalidade de manter o fornilho do cachimbo aceso para que as patologias de suas mentes bestiais em seus delírios de bestialidade e selvageria possam continuar vigentes por mais um dia.
Eu pensava essas coisas todas na fugacidade do tempo de um piscar de olhos. Estirado sobre a marca e a maca registrada da violência gratuita, perversa, dos efeitos colaterais, das sequelas emocionais numa sociedade em que todos são inocentes e igualmente culpados.
Eu poderia estar morto. Esse texto poderia estar a fazer parte das Memórias Póstumas de Goodnews. A faca ficou a poucos milímetros de atingir uma artéria do lado direito do coração. Muitas pessoas estavam hospitalizadas, traumatizadas, vítimas da selvageria de uma sociedade biografada a partir de seus crimes compartilhados pelo medo vigente em todas as classes sociais de dejetos urbanos viciados em cheirar e inalar vapores tóxicos que mantêm suas mentes degeneradas no mapa-múndi da criminalidade urbana mais covarde. Globalizada.
Meu rosto ficou inchado e intumescido, semelhante ao rosto do personagem Terry Malloy (Marlon Brando) do filme de Elia Kazan: “Sindicato de Ladrões”. Se eu houvesse reagido com violência contra a matilha de viciados da Crakolândia que invadiu meu carro, talvez não estivesse aqui contando a história desse pesadelo urbano. Afinal, eu provoquei os acontecimentos numa pesquisa de campo um tanto quanto dramática e temerária. Evidente que as consequências seriam essas. Ou piores.
Meus documentos, cartões de crédito, cartão de acesso às dependências da universidade na qual concluí um curso de especialização em Literatura, documentos do carro, habilitação, e o controle remoto que abre o portão da garagem do edifício em que habito. Todos esses pertences ficaram em mãos da quadrilha.
SOMOS TODOS INOCENTES?
Essas gangues costumam ter vários níveis de atuação na hierarquia do crime organizado. Após assaltar e espancar suas vítimas, esses malfeitores encaminham a documentação roubada para seus chefes, que costumam organizar sequestros posteriores com a finalidade de acessar as contas bancárias de suas vítimas através da tortura, ameaças e violência homicida.
Ou seja: obtêm as senhas de acesso aos caixas eletrônicos, retiram as economias de suas presas, e não raras vezes, as matam, após torturá-las com crueldade. Talvez toda essa miséria desumana seja consequência da distribuição política, jurídica, econômica e social de renda, que concentra 51% da riqueza produzida em mãos de 1% da população mundial.
Essas considerações faziam parte de meu pensar e de minha dor física. Eu não poderia simplesmente ignorar que todas essas misérias sociais têm a ver com a miséria da condição desumana da distribuição de renda numa sociedade de consumo. Capitalista. Dita democrática. Onde a corrupção e a impunidade são a moeda de troca e negociação vigentes nas assembleias configuradas pela intenção política de manter as coisas como estão. As coisas culturais da educação, por exemplo. E da insegurança pública dela, educação, resultante.
Quando dirigi o carro até a Praça Julio Prestes e parei entre viaturas policiais da Guarda Civil, um dos guardas entrou na viatura com a chave do carro e sentou-se no banco do motorista. Eu disse que estava em condições de dirigir, mas ele falou que esse era o procedimento e que ia conduzir meu carro, comigo no banco do passageiro, até o Hospital do Servidor Municipal.
— “É assim que funciona”, repetiu ele.
— “É assim que funciona”, mas o certo seria me conduzir ao HC onde há um atendimento condizente com meu plano de saúde. Fazer o quê? Afinal, no país do “é assim que funciona” nada funciona da melhor maneira.
Na parte do vidro frontal do carro no lado esquerdo, colei um bottom grande e outro menor de uma sociedade de fraternidade filantrópica à qual sou filiado. O guarda que dirigiu o carro até o Hospital do Servidor Municipal talvez seja também um filiado dessa sociedade. Ao dizer da pequena víbora que me pediu carona, ele orientou no sentido de que eu não falasse sobre ela.
— Mas por quê? Perguntei.
— Por que existe uma quadrilha organizada para defender esses marginais nas delegacias de polícia. A começar pela delegada dos “direitos humanos”.
— Que ganham salário do Estado para a defesa de criminosos “de menores”.
— É isso. Afora os advogados de porta de cadeia que facilitam ao máximo a defesa desse tipo de delinquência.
— Sei. Ganham para criminalizar as vítimas, como se as vítimas fossem culpadas por terem sido atacadas, roubadas, esfaqueadas... O guarda olhou em volta e, vendo o estado do espelho retrovisor picotado e quebrado, assim como a portinhola do porta-luvas no chão do automóvel ao lado de roupas rasgadas, manchadas de sangue, advertiu:
— Muita gente depois de ferida, roubada, saqueada, esfaqueada, ainda paga para se ver livre de um processo que uma viciada como essa que te pediu carona e atraiu para a zona de assalto...
— Que eles chamam de matadouro...
— Para se livrar de um processo na justiça a vítima ainda paga indenização, pressionada e ameaçada por advogados de porta de cadeia.
— É, como você disse, é assim que a coisa funciona.
OS 007 CONTAMINAM COM HIV
Após sair do Hospital Municipal dirigi-me seminu ao Hospital das Clínicas. O ferimento sangrando, ainda que bem menos, depois das primeiras medicações. Estacionei o carro no pátio do pronto socorro geral. Um enfermeiro ao ver minhas roupas vermelhas de sangue, a camisa e a bermuda aos pedaços, falou para um manobrista estacionar o carro. Conduziram-me numa cadeira de rodas até a sala de cirurgia.
O cirurgião conversava comigo enquanto fazia a inserção do dreno no ferimento de faca.
— Viver no Brasil nessas condições de insegurança pública, não é fácil. Comentei.
— A quantidade de pessoas vítimas de agressões semelhantes, aqui, todos os dias, é impressionante. São feitas dezenas de intervenções cirúrgicas semelhantes a essa, todos os dias, fica tranquilo que experiência não falta.
— Eu gostaria de poder sair fora desse país, dessa espelunca chamada Brasil, agora, sob a mesma direção. Tem gente gostando, até elegeram a ex-terrorista outra vez.
Notei que o cirurgião não se sentia à vontade ao falar de política.
Quando a conversa ganha tonalidades menos cinzas, ele hesita em continuar emitindo opinião. Parece que teme perder a função, o estágio, seus encargos, o salário, se alguém mais ouvir os comentários. E dedurá-lo. Por isso a saúde do país vive na timidez sombria dos que sabem das deficiências dos hospitais, mas temem comentá-las, por medo de perder seu cargo.
— Os serviços básicos são territórios dominados por criminosos, disse o estagiário de medicina. A fala murmurada entre dentes, como quem garante está sendo ouvido apenas por mim. Eu ouvi sua confissão sem ficar indiferente à preocupação do jovem cirurgião. Afinal, ele tinha de tomar suas precauções.
— Não raro, os feridos com arma branca, são infectados com HIV via ferimento. O agressor se fere, ou fere alguém próximo a ele que está contaminado, para garantir não apenas a ferida da vítima, mas a provável contaminação.
Eu fiquei perplexo com a notícia. Lembrei temeroso que o criminoso “de menor” sob o comando da viciada em crack durante a invasão de meu carro e a covarde agressão coletiva, havia se ferido intencionalmente no dedo e pego com a ponta da faca parte do sangue que escorria do ferimento. Antes de me esfaquear.
— Então eu posso ter contraído o vírus da AIDS? Eu vi quando o agressor me feriu após ter lambuzado a ponta da faca com o próprio sangue.
— Calma, você está em boas condições físicas. Eles costumam contaminar pessoas com um sistema imunológico fraco, sem condições de combater a reprodução do vírus HIV nas células. Tudo indica que você está com boa saúde.
— Sim, mas vai saber ao certo? Como posso me precaver de uma possível contaminação?
— Só há um jeito: aplicação preventiva do antiviral. A janela imunológica é o intervalo de tempo entre a infecção e a produção de anticorpos, está entre 30 e 60 dias.
— É possível conseguir? Perguntei ansiosamente ao cirurgião, nesse período, as doses preventivas do antiviral?
— Talvez você possa convencer um médico conhecido seu a receitar as doses de prevenção.
— Obrigado pela dica, doutor.
TRÁFICO E ESTADO SÃO ASSOCIADOS?
Fiquei estendido na maca numa enfermaria coletiva até dia seguinte. Havia sofrimento por todos os lados. O ódio social de pessoas “de menores” viciadas em drogas, os “de menor” da Crakolândia protegidos por esquemas policiais em seu território no centro da cidade de São Paulo, território cedido pelo Governo do Estado de São Paulo, me pareceu um absurdo despropositado, avassalador.
O Governo de um Estado não é eleito por seus eleitores, nas urnas, para proteger criminosos “de menor” com leis elaboradas e votadas pelo poder legislativo com a intenção de isentá-los de responsabilidades criminais homicidas.
Esses “de menores” da Crakolândia contam com proteção policial não apenas nas assembleias legislativas, mas também nas delegacias de polícia onde supostos defensores dos “direitos desumanos” os defendem de seus crimes, invertendo a intenção criminosa homicida dos mesmos, fazendo com que, com a ajuda de advogados de porta de cadeia, possam pressionar e incriminar suas vítimas, após tê-las tiranizado.
As vítimas de suas barbaridades inomináveis ainda são pressionadas, por vezes, a pagar indenizações aos criminosos “de menores”. Os governos não podem, constitucionalmente, proteger criminosos, sejam ou não “de menores” e avalizar seus crimes, não apenas aceitando uma legislação caduca que os mantêm impunes, mas fazendo de conta que eles, seus crimes, inexistem.
Os eleitores não elegem políticos para se prestarem a esse papel social inconstitucional. Eles não são eleitos nas urnas para criarem “gullags” a céus abertos administrados e protegidos por esquemas policiais nas ruas da cidade de São Paulo, e em outras capitais do país.
Esses “gulags” são tolerados e mentidos pelo Estado para que centenas e milhares de drogados crakomaníacos, possam comprar, vender, comercializar pedras de crack impunemente, com o aval do Governo Municipal da cidade de São Paulo, e de outras capitais do país.
Isto é uma excrescência jurídica, política, econômica, social. O Governo Municipal de uma cidade (São Paulo e outras capitais) ser associado público do tráfico de entorpecentes e da degradação proposital de centenas de milhares de seres tornados desumanos pelo uso e abuso contumaz de droga estupefaciente, dita crack, e investir em profissionais armados, dentro e fora das delegacias de polícia, com o intuito de proteger as patologias advindas do uso e do abuso dessa droga.
Esse é um fenômeno social, político, jurídico e econômico totalmente avesso a qualquer mínima justificativa legal, lícita, constitucional. Não há artigo de lei, parágrafos e incisos nos códigos legislativos que possam referendar a responsabilidade política, policial e jurídica dos poderes constituídos no fazer acontecer essa degradação “de menores” em praça pública. E, nas delegacias, o pagamento de policiais associados ao crime organizado, ao mesmo tempo em que pagos, pelo Governo Municipal do Estado: os famigerados defensores dos “direitos desumanos” desses infames e perversos malfeitores “de menores”.
Os desdobramentos desse sinistro evento são muitos: ao invadirem meu carro, as hienas “de menores” provocaram uma devastação não apenas no meio de transporte que uso para desempenhar minhas responsabilidades diárias. Provocaram um evento que se repete muitas vezes nos arredores do centro da cidade de São Paulo, transformado num subúrbio de periferia. Um bairro que deveria ser urbanizado, com livre e protegido acesso a turistas que, hoje, fogem da possibilidade de visitar as instituições culturais próximas à zona de matadouro da Crakolândia.
ATRÁS DOS BASTIDORES DO CRACK
O que há por trás dessa concentração de indigentes do crack no centro da capital paulistana? Há algum tempo o Ministério Público do Estado de São Paulo denunciou à Justiça um grupo de policiais do Departamento de Investigação sobre Narcóticos. Foram formalmente acusados de envolvimento com o tráfico de drogas na região.
Esquemas policiais estão atuando na área no sentido de tirar proveito da condição subumana de coisificação dessa concentração de viciados a serviço do crime organizado. Ao transformar essas pessoas desumanizadas por seus antecedentes de ressentimentos familiares e sociais funestos, esses esquemas exercem comando, comunicação e controle psicológico sobre esses indivíduos que são apenas “coisas” viciadas em pedras de crack que geram lucro para traficantes e seus programas de apoio.
O Estado fornece o local de concentração para que essa tropa de zumbis possa ser manipulada por interesses associados ao crime organizado. Os lucros, tanto da comercialização das pedras de crack, como das atividades criminosas decorrentes da violência com que os viciados atacam pessoas para roubarem pertences e dinheiro que dividem com seus “protetores”.
A extrema ansiedade provocada pela falta dos vapores sinistros das pedras queimadas nos fornilho dos cachimbos conduz os viciados à prática contumaz de crimes de assalto, sequestros relâmpagos, furtos e roubos, usando a violência covarde de grupos que cercam a vítima por todos os lados, a imobilizam-na, ameaçam, esmurram, chutam, esfaqueiam, enquanto celular, documentos, cartões de crédito, talão de cheque, e outros pertences são rapinados das vítimas tiranizadas pela quadrilha de assalto.
A desumanização que a droga crack causa na mente desses viciados os transforma, literalmente, em monstruosidades sem outro objetivo que não seja o de alimentar os traumas, a paranoia e as patologias degenerativas do sistema nervoso central. Entre uma e outra crise de abstinência, essas mentalidades tóxicas têm por único objetivo conseguir, por quaisquer meios de uso da violência e da criminalidade, fazer novas vítimas para que, após saqueá-las violentamente, possam novamente inserir pedras da droga nos fornilhos dos cachimbos e experimentar os efeitos deletérios que se diluem em quinze minutos.
007 “DE MENORES” TÊM LICENÇA PARA MATAR
E esses criminosos são, não apenas tolerados, mas incentivados pelo Estado a continuar se drogando, e, após violentarem a si mesmos, protegidos pelos esquemas de segurança das viaturas policiais pagas pelo poder público, eles esperam saquear a próxima vítima quando a síndrome de abstinência provocada pela ansiedade de consumir mais e mais pedras de crack, voltar a atormentá-los.
Esses corpos e mentes fodidos pelo vício são capazes de qualquer coisa, de qualquer ato de violência criminosa para a obtenção de uma renovada dose da droga que os faça sair da crise de privação da inalação dos nefastos vapores do crack que obscurece qualquer percepção razoável da realidade.
As vítimas desses grupos de marginais se multiplicam cada vez mais. E a tendência é aumentar a quantidade, tanto de viciados, quanto de pessoas lesadas pela violência com que atacam transeuntes em busca de dinheiro e bens que possam trocar pelas pedras.
É de se perguntar: onde estão os poderes públicos que não se fazem respeitar? A Secretaria de Segurança Pública do Estado, por que tolera essa concentração de dementes virulentos à espera da próxima crise de abstinência para ferir parcialmente, ou ferir de morte suas vítimas e mandá-las para as enfermarias dos hospitais?
Para que servem esses poderes, se não podem solucionar um problema que envergonha (ou deveria envergonhar) suas representações públicas? Por que incentivar a corrupção policial mandando seus efetivos, suas viaturas, para policiar um quartel general de zumbis do crack a céu aberto?
A proximidade dos zumbis com a representação policial paga pelo poder público, forçosamente alicia os policiais, cada dia mais instados à cooperação com os esquemas de aliciamento promovidos pelo crime organizado. Dessa forma, a sociedade se vê cooptada pelas ameaças de sedução pelo suborno. A sociedade como um todo. A sociedade que depende de suas partes para funcionar com competência contra seus inimigos, supostos inimigos, que passam a trabalham em seu desfavor.
As relações humanas se tornam, dessa forma, cada vez mais desumanas. E generalizadas em sua desumanidade. Os poderes, por não acharem as formas legais efetivas de combater a criminalidade, se aliam por proximidade de tolerância, aos marginais. Estes, se sentem mais confiantes e incentivados a cometerem crimes, cada vez maia hediondos, porque sabedores da impunidade imposta por leis caducas que não combatem, antes, incentivam a criminalidade.
PODER PÚBLICO: ALIADO OU COMBATENTE?
O poder público precisa lembrar que não está aí para se aliar com ela, mas para combater a criminalidade. E a criminalidade “de menor” está atuando violentamente contra a cidadania dos eleitores com instituições legislativas que aceitam leis que não protegem a sociedade, mas, ao contrário, incentivam os agentes 007, “de menores”, com licença legislativa para matar. Impunemente.
Impunemente quer dizer, sem que nada lhes aconteça, exceto ser internados provisoriamente, por pouco tempo, numa instituição que lhes proporcionará apenas um curso de mestrado em criminalidade e ultraviolência.
Se forem presos, difícil acontecer, quando saírem de uma dessas instituições prisionais, sairão ainda mais degenerados, raivosos e perigosos, dispostos a fazer parte de uma quadrilha tipo a dessa adolescente (Fulana da Zona Norte), que chefiou um bando de crakomaníacos que invadiram meu carro e depredaram-no, me esfaquearam, e, na delegacia, uma delegada dos “direitos desumanos”, passou a defender o único criminoso “de menor” preso (logo solto), alegando que eu não tinha 100% de certeza de que ele fazia parte do bando que, possivelmente, ela, indiretamente simpatiza e defende.
Ao ter alta do hospital, comuniquei ao condomínio do edifício onde habito que o controle remoto da garagem havia sido roubado com outros pertences do meu carro no assalto do bando de degenerados, “de menores” da Crakolândia. Se fazia urgente mudar a configuração de controle remoto inserindo nova codificação. Isso foi feito.
Nos dias seguintes houve uma concentração de viciados na calçada em frente ao portão da garagem, assim como na porta de entrada do prédio. Alertaram-se os moradores. Alguns deles telefonaram para a polícia. Viaturas da PM fizeram diligências que resultaram no afastamento dos zumbis do crack da proximidade do prédio.
Pergunto-me por que a força policial a serviço da Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo garante, indiretamente, a proteção do Estado para essas quadrilhas de delinquentes e facínoras “de menores”, concedendo-lhes licença para matar impunemente, como aquele agente 007 do serviço secreto britânico, com a diferença de que o agente inglês está, supostamente, a serviço da lei no combate a meliantes de alta periculosidade social.
Por que os responsáveis pela legislação de criminalização a assassinos “de menores” ainda não mudaram a lei que os permite matar impunemente? Por que o Estado não vê que esses bandidos a serviços de quadrilhas criminosas tipo PCC (“esse é o rolezinho do PCC, mano”), são terroristas que ameaçam as pessoas violentamente, quando a síndrome de abstinência da droga crack os faz assaltar transeuntes, aliciar indivíduos atraindo-os para o que chamam de matadouro (Praça Carlos Prestes), e invadir hotéis na região, bares, casas familiares, edifícios de apartamento, lojas comerciais?
ABERRAÇÕES DO CRACK
De humanos esses adolescentes não têm nada. A intensificação diária das patologias criminosas do crack atuando na mente desses degenerados os faz cada dia mais e comprometidos com a infestação, cada vez em maior quantidade, das ruas, praças e avenidas do centro da cidade de São Paulo.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado não sabe que a tendência gerada pela impunidade faz aumentar a quantidade de viciados de forma alarmente? Sabe? Então por que não faz nada para impedir que esse quartel a céu aberto do tráfico, do vício e do aliciamento “de menores” continue produzindo as patologias criminosas dessa droga maldita?
Por que esses zero, zero setes “de menores” continuam a receber do Estado o atestado de que podem impunemente se drogar, assaltar, traficar, sequestrar, matar? A Secretaria de Segurança existe exatamente para impedir que essas concentrações de criminosos fabricados pelos poderosos senhores chefões do crime organizado aconteçam.
Os Secretários de Segurança Pública, país adentro, país afora, não percebem que estão investindo em exércitos de zumbis do crack com uma periculosidade social simplesmente demencial de ultraviolência sem precedentes? Quando esses exércitos de criminosos “de menores” atingirem a maioridade, que esperam esses secretários da insegurança pública fazer? Quantas milhares de famílias terão seus membros vitimados e chorarão seus mortos? E feridos? E paraplégicos? E tetraplégicos? E vizinhos? E proprietários de lojas comerciais? E transeuntes? E conhecidos? Quantos milhares de irmãos terão de lamentar a perda de parentes próximos e distantes?
As várias posturas, todas doentias e violentas, da mente dos viciados em crack, tendem a piorar, e todos os dias acentuar, a depredação emocional, mental, psicológica, física, dessas monstruosidades inumanas desconectadas com qualquer valor e princípio que os possa configurar enquanto pessoas humanas.
Não se pode simplesmente esquecer, ou fazer de conta que não se está vendo ou sabendo que a psiquiatria, a psicologia, a sociologia, as ciências da educação não fornecem soluções para esse problema dos exércitos de crakomaníacos em centenas de cidades brasileiras, incluindo as capitais dos estados, se esses viciados em fazer acentuar as patologias criminosas da mente, diariamente, não estiverem internados em instituições psiquiátricas, psicológicas, com atendimento social e educacional que os faça ser tratados, e não abandonados em praça pública como um problema social consumado. Incurável. Impune e irremediável.
No artigo IV da Declaração Universal de Direitos Humanos lê-se: “Ninguém será mantido em escravidão ou servidão. A escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas”. Quem, em sã consciência poderá negar que esses exércitos de zumbis viciados em crack não são escravos de traficantes que lucram com cada pedra que entra no fornilho de um cachimbo aceso por toxicômano?
Cada inalação de fumaça provoca a absorção das toxinas pelo pulmão do viciado. O vapor chega ao coração através do sistema circulatório. Do coração para o cérebro que atinge destrutivamente o sistema nervoso central. A concentração do neurotransmissor dopamina provoca uma rápida e intensa sensação de prazer, jactância, onipotência, vaidade.
A LEGISLAÇÃO AVALIZA A IMPUNIDADE
O princípio de prazer destrói em pouco tempo a possibilidade de readaptação do viciado ao princípio de realidade. Freud afirmava em 1911 em “Formulações sobre dois princípios de funcionamento mental”:
— “Toda neurose tem como resultado e provavelmente como propósito, arrebatar o paciente da vida real e aliená-lo da realidade”.
— “Os neuróticos afastam-se da realidade por achá-la insuportável — em todo ou em parte”.
Os traficantes de crack usam e abusam, trágica e sadicamente, dessas multidões de adolescentes e adultos provenientes dos Lulla Gullags, da sensação de pobreza e miséria social insuportável, para contribuir com a droga no sentido de manter a alienação mental em alta, e abrir as “janelas killers” da mente propiciando às patologias mais depravadas e virulentas, saírem em busca de manifestação social através da violência exacerbada provocada pela síndrome de abstinência da droga.
Já não é sem tempo que alguma autoridade governamental e/ou legislativa convença seus pares de que essa situação social insustentável vai piorar gradativamente em quantidade de crimes a céu aberto. Esses zero, zero setes, com licença legislativa para matar impunemente, estão se metamorfoseando em pessoas adultas. Quem vai conter a violência contra a sociedade em todos os seus estamentos?
Não haverá (como já não há, atualmente), pessoas em grupos sociais com base em condições econômicas miseráveis ou privilegiadas, que não estejam sujeitas ao tsunami das hordas de bárbaros com a mente degenerada pelas patologias mentais liberadas pelos vapores do crack. É isso que as autoridades de modo geral e no particular as autoridades das secretarias de segurança querem garantir para o futuro do país?
Façamos uma homenagem ao centenário da morte de Augusto dos Anjos, ao associar seus versos à víbora adolescente que comandou o assalto e o sequestro relâmpago de meu carro: “É a morte, essa carnívora assanhada/serpente má de língua envenenada/que tudo que acha no caminho, come/Faminta e atra mulher que/a 1° de janeiro/sai para assassinar o mundo inteiro/e o mundo inteiro não lhe mata a fome”.
Os zero, zero setes “de menores” continuarão protegidos pelas leis caducas? Até quando o Congresso Nacional vai estar a serviço da impunidade desses criminosos?