FRANCISCO XAVIER FERREIRA (O CHICO DA BOTICA): CRIADOR DO 1º IMPRESSO NO INTERIOR DO RS
Nasceu na Colônia do Sacramento, em 04/12/1776, e faleceu, em 23/04/1838, na Fortaleza de Villegaignon (RJ), prisão para a qual foi enviado após a retomada de Porto Alegre pelas forças imperialistas, em junho de 1836. O “Chico da Botica”, como era conhecido, era filho de Bento Martins Ferreira e de Maria Jacinta do Nascimento. Farmacêutico de profissão, fato que justifica seu apelido, era um homem de cultura e erudição.
Em Rio Grande, fundou o primeiro jornal no interior da Província de São Pedro, “O Noticiador”, em 1832. Este periódico é considerado um dos cinco melhores impressos que circularam na Província. Francisco Xavier Ferreira divulgou os ideais liberais, no interior da Província, preparando, desta forma,a eclosão da Revolução Farroupilha (1835-1845).
Sua importante atuação no campo político, por meio de seu periódico e da Maçonaria, permitiu-lhe que ocupasse cargos importantes na Assembleia Provincial. “O Chico da Botica” foi destacado maçom, Secretário e Presidente da Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional, em 1832, e Presidente da Sociedade de Beneficência, sendo, também, responsável pela criação do primeiro hospital público da cidade de Rio Grande.
Na área política, foi membro da Junta Governativa da Província, após o afastamento do Presidente João Carlos Saldanha de Oliveira Daun; deputado à Assembleia Provincial na primeira legislatura e Presidente da Assembleia Provincial pela primeira vez instalada na Província. O “Chico da Botica” foi responsável pelas negociações para que Porto Alegre fosse elevada à condição de cidade em 1822, e, também, Rio Grande em 1835.
O “Chico da Botica” não compartilhava com as ideias de separação da Província de São Pedro (RS) em relação ao Império, pois era adepto da monarquia constitucional, conforme publicação feita no jornal “O Mensageiro”, que circulou, na capital, no dia 05/02/1836. Participou dos acontecimentos políticos que deram início à Revolução Farroupilha (1835-1845), pois não concordava com a forma como o Império administrava as questões políticas e econômicas vivenciadas na Província de São Pedro (RS). Quando ocorreu a retomada de Porto Alegre pelos imperiais em 15 de junho de 1836, ele ocupava a Presidência da Assembleia Legislativa Provincial, sendo preso e mandado para bordo do navio-prisão Presiganga e depois enviado para o Rio de Janeiro, onde faleceu, em abril 1838.
“O Povo” (1838-1840), que se apresentava, na grafia da época, como “Jornal Político, Litterario, e Ministerial da Republica Rio-Grandense”, publicou um extenso necrológio que se constitui numa “Oração fúnebre”, na sua primeira edição, em setembro de 1838, narrando o sofrimento de Francisco Xavier Ferreira, durante sua deportação, encarceramento e a doença que o vitimou. O periódico prestou esta homenagem, reconhecendo sua luta em prol dos ideais liberais que nortearam a Revolução Farroupilha (1835-1845).
“O Noticiador, Jornal Político, Literário e Mercantil”, começou a circular, em Rio Grande, no dia 03/01/1832. Esta data é registrada pela maioria dos pesquisadores que se dedicam à pesquisa de dados sobre a história da nossa imprensa local.
Francisco Xavier Ferreira, “O Chico da Botica”, adquiriu uma tipografia e a instalou a princípio no Beco do Rasgado (matriz) e, depois, a transferiu para Rua Direita, próxima da esquina com a rua 24 de Maio. Esses foram os primeiros passos do jornalismo no interior da Província de São Pedro (RS).
O Noticiador visava à divulgação dos princípios liberais adotados por seu proprietário que desejava difundi-los no sul da Província. Seu primeiro redator for Guilherme José Corrêa, médico formado em Coimbra, que não correspondeu, satisfatoriamente, no exercício de suas funções. Devido a este fato, o “Chico da Botica” assumiu a redação a partir do número 21. “O Noticiador” era bissemanário, com quatro páginas, e circulava às segundas e quintas-feiras, custando quatro mil réis a assinatura trimestral e oitenta réis o número avulso.
O Museu da Comunicação Hipólito José da Costa fundado, em setembro de 1974, em Porto Alegre, guarda e preserva este importante periódico que foi pesquisado, na íntegra, pelo Prof. Francisco Riopardense de Macedo (1921-2007). Esta pesquisa resultou em um DVD que foi produzido pelo Instituto Histórico e Geográfico do RS em parceria com o Museu da Comunicação HJC.
Nestor Ericksen, importante pesquisador, declarou em seu livro, O Sesquicentenário da Imprensa Rio-grandense, que o “Noticiador” foi nossa primeira folha abolicionista. Existem dados que comprovam que o jornal circulou até o número 388, de 09/02/1836, e nele nada indicava o término da sua impressão. O jornal circulou com certa regularidade e passou a semanário em janeiro daquele ano, circulando às terças-feiras.
É provável que "O Noticiador" tenha desaparecido devido à prisão do seu redator, no momento em que a capital da Província de São Pedro estava sendo retomada, em 1836, pelas forças legalistas. Não existem dados que confirmem se o periódico continuou a ser impresso, após este episódio da “Revolução Farroupilha” (1835-1845).
“O Noticiador” assinalou uma época! Esse periódico se constitui em indispensável fonte de pesquisa a todos que procuram ampliar seus conhecimentos acerca desse importante período da História do Rio Grande do Sul.
* pesquisador e coordenador do setor de imprensa do MUSECOM
Bibliografia:
BARRETO, Abeillard. Primórdios da Imprensa no Rio Grande do Sul (1827-1850). Porto Alegre: Comissão Executiva do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha. Subcomissão de Publicações e Concursos, 1986.
ERICSEN, Nestor. O Sesquicentenário da Imprensa Rio-Grandense. Porto Alegre: Sulina, 1977.
VIANNA, Lourival. Imprensa Gaúcha (1827-1852). Porto Alegre: Museu de Comunicação Social HJC, 1977.
SILVA, Jandira M. M. da ; CLEMENTE, Ir. Elvo ; BARBOSA, Eni. Breve Histórico da Imprensa Sul- Rio- Grandense. Porto Alegre: CORAG, 1986.