Seis ou Meia-dúzia?
Para que certo grupo de pessoas decida invadir uma residência e furtar objetos e pertences, é preciso que a residência esteja vazia. Ou que o grupo conte com armas para uma possível ou inesperada reação.
Mais ou menos o mesmo acontece com o assalto à Presidência de um país. Se ela está ocupada, então precisamos de armas. Por isso é que toda atividade golpista não pode deixar de ser creditada aos militares.
Tudo levar a crer que Collor, merecidamente, tenha sido destituído da Presidência da República sem o concurso dos quartéis. Ou seja, democraticamente, até provas em contrário.
Fala-se agora no impeachment da atual presidente. Se ela o merecer, do que estão certos muitos ou alguns, que ele se dê da mesma forma. Sem intervenção militar. Que o impeachment seja o resultado normal da rejeição de uma maioria expressiva à forma pela qual o país vem sendo conduzido.
No entanto, é preciso que essa ideia alcance realmente o nível do consenso e não seja apenas o desejo empolgado de grupos que podem ser minoritários e que imaginem representar os interesses da maioria. Trata-se de uma posição em que não se deve admitir a coparticipação da aventura.
Isso porque o Brasil, de dimensões continentais e das riquezas de que todos ouvimos falar, está sob constante observação do mundo. Sobretudo das potências bélico-nuclear-industriais do Ocidente. Que, antes de se interessarem pelo nosso desenvolvimento, ocupam-se muito mais da preservação das prerrogativas de que dispõem em relação aos países subdesenvolvidos.
Qualquer crise ou desconforto institucional que estejamos vivendo terá exatamente a mesma importância para nós que a suscitada no estrangeiro.
Por isso, podemos ir pra rua, gritar, protestar, reclamar, etc., mas devíamos nos resguardar quanto à consecução dos nossos atos.
Até porque, o que é o PT hoje como partido político? Haverá tanta diferença assim em relação aos outros? Será que não poderemos correr o risco, como falamos nas esquinas, de trocar seis por meia-dúzia?
Na verdade, talvez interesse muito mais identificar a causa de muitos ou de todos os nossos males. Ver a imensa distância que separa o cidadão comum dos políticos de carreira. As regalias e vantagens de que não dispõe o primeiro e o excessivo número delas de que desfrutam os segundos.
A revolução, e não golpe, poderia iniciar-se a partir daí.
Rio, 09/02/2015