Crise? Sempre haverá na sociedade do consumo.
O Brasil hoje sofre com a crise hídrica, na qual é resultado de uma série de fatos que se encaixam no modelo de sociedade reproduzida ano após ano: a sociedade do consumo. O Estado, através da mídia, convoca a população ao racionamento no consumo de água. “Diminua o tempo do banho”, “lave a calçada com água da chuva, ou da máquina de lavar roupa”, “feche a torneira enquanto escova os dentes”. Mas jamais houve um pedido no racionamento do verdadeiro consumo que assola nossa sociedade.
A partir de alguns dados é possível identificar as evidências de qual consumo de fato deve ser racionado. Para citar alguns exemplos, segundo a UNESCO, 1kg de açúcar utiliza em seu processo de produção 1,500 litros de água, 1 camiseta de algodão equivale a 2,700 litros de água, 1kg de carne bovina gastam 1,550 litros, 1 unidade de hambúrguer utiliza 2.400 litros, 1kg de soja é responsável por 1,800 litros de água.
O consumo também provoca a produção exacerbada de lixo, onde se reproduz mais uma crise existencial da sociedade. Só no Brasil, segundo relatório da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), revela que o Brasil teve de 2012 para 2013, o maior aumento na geração de resíduos por dia na última década. Por ano são geradas cerca de 200.000 toneladas de lixo por dia, sendo que quase a metade do que a população brasileira joga fora vão para lixões, onde diversos danos ambientais são causados.
A indústria aponta sua “crise” na produção de carros, segundo a Anfavea (associação dos fabricantes), em 2014 o Brasil teve queda de 12% em comparação ao ano anterior. Mas a verdadeira crise está no tempo gasto no trânsito, além da exorbitante emissão de gases na atmosfera. A solução para esses problemas são claras: investimento no transporte público. Mas o que se vê é de um lado a indústria automotiva convencendo o consumidor da necessidade de ter um carro, dois, três... e por outro, as máfias das empresas responsáveis pelo transporte público que somente visam o lucro (ônibus e metrôs sempre lotados, viagens reduzidas, funcionários com baixos salários).
E quando uma população por variantes motivos consome menos? Em alguns países da Europa como Portugal e Espanha, devido crises financeiras, a população reduziu de modo geral seu consumo. E o que aconteceu? O medo de outra crise. Se a população não consome há o risco de deflação. Assim, o Banco Central Europeu injetou dinheiro na Zona do Euro, incentivando o consumo.
Ou seja, o sistema global conhecido como capitalismo é uma crise existencial. Para todos os lados uma crise se articula com outra, e a população em sua maioria educada para reproduzir essa lógica se enquadra diariamente em cada crise.