A VITÓRIA DA SYRIZA NA GRÉCIA
Alexis Tsipras, líder da Syriza (abreviação em grego do partido intitulado Coalizão da Esquerda Radical), tomou posse ontem, 26/01/2015, como primeiro-ministro da Grécia após esmagadora vitória na eleição legislativa do último domingo. Seu partido quase atinge a maioria absoluta de deputados no parlamento unicameral grego (149 cadeiras, quando necessitava de 151). Ao contrário do que se poderia imaginar, aliou-se a um partido de direita, nacionalista, e não a outros partidos de esquerda ou de centro mais próximos de seu programa social. Isto pode denotar que a Syriza está mais interessada no embate com a troica (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) para renegociar a sufocante dívida externa grega.
Acima de 320 bilhões de euros, o que representa 175% do PIB grego, essa dívida asfixia e praticamente paralisa a economia do país. Para os próximos meses são necessários em torno de 7 bilhões de euros para tocar a economia grega.
Capitaneado pela Alemanha, esse ajuste foi aplicado ainda em Chipre, Portugal e Irlanda. Na Grécia, resultou em redução salarial para servidores públicos, recessão e principalmente numa taxa brutal de desemprego que já atinge algo em torno de25% da mão de obra e, sobretudo os mais jovens, onde chega a 60%. Será a primeira vez que um país da UE vai ser governado por forças frontalmente opostas ao ajuste draconiano proposto por Bruxelas. No front interno, apesar de economia grega já apresentar sinais de retomada, haverá muito a ser feito. A Syriza propôs, por exemplo, uma moratória da dívida até que a Grécia readquira capacidade de retomar seus pagamentos, além de um perdão de 50% desta mesma dívida.
Tsipras terá que ser pragmático o suficiente para conseguir manter a Grécia na zona do euro e, ao mesmo tempo, não abrir mão dos compromissos que levaram seu partido a esta esmagadora vitória. Parece que já houve reflexos positivos, como o convite do presidente francês François Hollande para uma conversa (“A França estará ao lado da Grécia neste período importante”) e repercussões como a queda do euro. Haverá atenção também na direção da Espanha, onde o Podemos parece começar a incomodar.
Parece que a política de austeridade conduzida pelas instituições da UE precisa ser atenuada ou corrigida ou abandonada. O certo é que quebrou a Grécia e outros podem estar na mesma rota. O recado foi dado pelas urnas gregas. E democraticamente.