MISSIVA A DOMINGO REIS
“Acerca do poema A VINGANÇA DE DEUS de Frassino Machado”
Domingo Reis – Tese: «… só os humanos são culpáveis pelas suas abominacões e terão que pagar por elas.»
“Poéticamente é digno de elogío. Não obstante há ali expressões muito discutíveis. Como por exemplo, A VINGANÇA DE DEUS, assim como culpá-Lo pela estupidez dos seres humanos. Deus deu-lhes o Livre Arbítrio. Ou seja, a liberdade para o bem e para o mal. Por isso só os humanos são culpáveis pelas suas abominacões e terão que pagar por elas.
Imagínem-se por um momento que Deus cortasse um dedo a cada ser humano que cometesse uma abominacão da justica: Decerto os seres humanos já não teriam dedos nas mãos. Ou então que os tivesse feito com uma tapa nos olhos e outra no cérebro para que pudesem ver para um só lado e orientar-se por um só caminho, além disso predeterminado. Gostaríam mais que fosse assím?
Por isso é que dizem os sábios que os seres humanos temem a liberdade, e, como consequência, resulta-lhes mais fácil viver sob a arreata dos tiranos...
Devido a isso mesmo é que inventaram o diabo para o culpar das suas maldades. "Eles são, em si mesmo, tão bonzinhos. A culpa é do diabo...!"
Realmente existem alguns seres humanos que, se não fosse tão trágica a sua estupidez, nos fariam rir às gargalhadas...”
Frassino Machado:
Caro amigo Reis, à primeira vista o seu texto não é totalmente claro a propósito da posição defendida acerca do assunto que, convenhamos, é demasiado sensível quanto ao seu conteúdo.
Em primeiro lugar – não sei se o amigo é ou não poeta – não poderemos esquecer que a Arte Poética tem o condão paradigmático de conduzir os homens a um patamar reflexivo e valorativo. Daí que o título do poema “A Vingança de Deus”, apriori, poderá conduzir o leitor descuidado e desprevenido a uma interpretação falaciosa, quer dizer, à troca do sentido da mensagem.
Portanto, se partimos de uma narrativa espontânea e emocional para conclusões imediatas, como se de prosa ou crónica se tratasse, correr-se-á o risco de a mensagem se tornar corrosiva.
Em segundo lugar, aquilo que está expresso no meu texto – que o meu amigo teve a delicadeza de considerar de qualidade, pelo que lhe fico sinceramente grato – sob o ponto de vista poético é nada mais nada menos que a denúncia de um acto hediondo e, ademais, escondido por detrás de uma máscara cobarde.
Eu não acredito que esses “carrascos” o sejam por sua livre iniciativa, mas sim ao mando diabólico DAQUELES que financiam a miserável empreza criminosa. Quem o faz – aqueles que eu no texto denomino por “desalmados” ou “sepulcros caiados”- em última análise, são inimigos genuínos da espécie humana. Eles próprios seriam, se o pudessem, os braços exterminadores das sociedades indesejadas por eles, à luz de certas doutrinas que, como sabemos, continuam latentes em algumas franjas ideológicas subversivas.
Essas “denegridas almas” que vegetam pelo mundo à custa de sangrentos Capitais incompreensíveis e marginais são, de facto, os verdadeiros Carrascos. E lamenta-se que não haja vontade - não digo política, pois seria chover no molhado - humana e moral para, isso sim, cair na alçada dos correctos “Convénios da Lei”. Mas, estou convicto de que, para este desiderato poder ser viável, só por acção dos Sábios – aos quais o meu amigo sabiamente faz referência. Mas, isto só cá para nós, onde é que estão esses Sábios?
Pois… Não estamos nós na famigerada «Era da Globalização», cujo “doutrinário” reveste a teatral capa libertária de «progresso e bem-estar»?
No seu contexto infernal - como sugere o meu amigo - vivem paredes meias os “Bons” e os “Maus” e até, como o diz, e bem, o próprio Diabo, que é como quem diz, o Dinheiro. Não é por acaso que a primeira letra das duas Entidades é coincidente!
E, enquanto estiver de pé esta Vanglória (pois é disso que se trata) não estranhemos que continuem a ocorrer trágicos Eventos como os de «Paris 2015». E torna-se verdadeiramente irrelevante apontar o dedo ao “Livre Arbítrio”, à “pena de talião”, à “culpa solteira”… e a outros fenómenos mais.
Não haverá, portanto “gargalhadas” que resistam. Porque o “Bicho chamado HOMEM” perdeu o respeito por si mesmo!
Quanto ao Poema de minha autoria – um Soneto sui generis, como pode constactar – ele expressa no seu todo essa deriva conjuntural de uma doença que infesta nos Humanos e que é mister ser tratada profundamente, como se de um “virus” estejamos falando. Mas para isso talvez careçam os remédios mais adequados.
Uma coisa é certa, já na primeira metade do século V d. C. um tal Sábio, conhecido por Santo Agostinho, referiu que “se os poderosos quisessem, o Mal será banido de entre os homens e haveria lugar para um Mundo Novo”. Talvez o autor de A CIDADE DE DEUS tenha enorme razão…
Frassino Machado
In CAMINHOS DO MEU PENSAR
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TEXTO POÉTICO EM CAUSA – Frassino Machado
A VINGANÇA DE DEUS
“Massacre na Cidade Luz”
Como é possível tão enorme hipocrisia
De certos maiorais fazerem mascarar
O braço da justiça, sem pejo de matar
Em nome da divina mão de um Deus-magia?
Como é possível tal fealdade e atrofia
Em denegridas almas, sem pejo de rasgar
Os convénios da Lei ainda a palpitar,
Lançando humanos cidadãos em agonia?
Que Deus é esse, que delega num tirano
A responsabilidade de construir justiça
À custa da razão ingénua e submissa?
Que Deus é esse – criador ou desumano –
Tão perto da doçura como da ameaça:
Dum lado o coração, do outro a desgraça?
Que gesto e que vingança é essa, ó desalmados,
Que na Cidade Luz as trevas derramastes?
Vós sois, provadamente, os sepulcros caiados
Pois a santa Liberdade nunca respeitastes!
Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA