A FÁBULA DO PT e a REVOLUÇÃO DOS BICHOS

A FÁBULA DO PT (FREI BETO)

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS (GEORGE ORWELL)

QUALQUER SEMELHANÇA COM O PT NÃO É MERA COINCIDÊNCIA

NAPOLEÃO E LULA: A MESMA FACE DE UMA SÓ MOEDA

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“A história do PT tem seu resumo emblemático na fábula “A cigarra e a formiga”, de Esopo, popularizada por La Fontaine. Nas décadas de 80 e 90, o partido se fortaleceu com filiados e militantes trabalhando como formigas na base social, obtendo expressiva capilaridade nacional graças às Comunidades Eclesiais de Base, ao sindicalismo, aos movimentos sociais, respaldados por remanescentes da esquerda antiditadura e intelectuais renomados”.

“No fundo dos quintais, havia núcleos de base. Incutia-se na militância formação política, princípios ideológicos e metas programáticas. O PT se destacava como o partido da ética, dos pobres e da opção pelo socialismo.”

“À medida que alcançou funções de poder, o PT deixou de valorizar o trabalho da formiga e passou a entoar o canto presunçoso da cigarra. O projeto de Brasil deu lugar ao de poder. O caixa do partido, antes abastecido por militantes, “profissionalizou-se”. Os núcleos de base desapareceram. E os princípios éticos foram maculados pela minoria de líderes envolvidos em maracutaias”.

“Os avanços socioeconômicos coincidiram com o retrocesso político. Em 12 anos de governo, o PT despolitizou a nação. Preferiu assegurar governabilidade com alianças partidárias, muitas delas espúrias, em vez de estreitar laços com seu esteio de origem, os movimentos sociais”.* (Frei Beto).

Permito-me acrescentar:

Existem duas classes de pessoas pelas quais outras são capazes de por elas morrer: os santos e os megalomaníacos.

E, sabemos todos, que o Lula pensa que além de santo tudo pode ser, inclusive ególatra e megalômano.

É um sobrevivente e, como tal, desenvolveu as características próprias daqueles que o são.

A deformidade de caráter exige que seja incensado como o pão nosso de cada dia. A vaidade exacerbada e patológica impõe a genuflexão e os elogios sem pudor. Um cordão de áulicos é adereço permanente; a bajulação o conduz ao delírio. Crê piamente que, se não é o Padre Eterno, é seu filho predileto. Entre seus devaneios criou o céu e a terra; sob sua vontade fez-se a luz; desenvolveu a Teoria da Relatividade; descobriu o Brasil, proclamou a Independência e a República.

Como torneiro esculpiu a alavanca que um tal de Arquimedes se propôs a mover o mundo; acendeu o pavio do “big bang” há míseros 14 ou 16 bilhões de anos. Soberano, ainda decidirá “o quando”, segundo suas conveniências.

Fez-se líder no ambiente do sindicalismo pelego. Rude, ignorante e grosseiro seus diálogos não resistem ao manto do falso verniz e são recheados de termos chulos e comuns ao clero sindical. Enxergou no PT seu escudo e a licenciatura para a corrupção. Arquitetado pelos seus comandados de plantão, que anteviam no seu poder os próprios poderes, cuidou-se de conduzi-lo ao altar.

Criou um partido à sua imagem e semelhança. Solerte, arrivista, não é um fraudador; é uma fraude em si mesmo.

Atribui-se a Chico Oliveira, um dos fundadores do PT, hoje afastado e desiludido com a lide lulista: “O Lula é mais esperto do que vocês possam imaginar. O Lula não tem caráter”.

Presume-se que quem o disse saiba e conheça. Cuidamos, aqui, apenas da transcrição.

O extraordinário George Orwell, nascido Eric Arthur Blair, em sua não menos instigante fábula “A Revolução dos Bichos”, editada pelos idos de 1945, aborda de forma singular a perversidade e as distorções que emergem ao se transitar pelos caminhos do poder ilimitado.

Da Granja do Solar, onde os porcos dominantes apearam o Sr. Jones do poder, para a Granja dos Bichos, foi um passo. E tudo começou com o discurso inflamado de Major, o velho porco:

“Já vivi bastante e muito tenho refletido na solidão da minha pocilga. Creio poder afirmar que compreendo a natureza da vida sobre esta terra, tão bem quanto qualquer outro animal vivente.”

“Só esta fazenda comportaria uma dúzia de cavalos, umas vinte vacas, centenas de ovelhas – vivendo todos num conforto e com a dignidade que, agora, estão além de nossa imaginação. Por que, então permanecemos nesta miséria? Porque quase todo o produto de nosso esforço nos é roubado pelos seres humanos. Eis aí, camaradas, a resposta a todos os nossos problemas. Resume-se em uma só palavra – Homem. O Homem é o nosso verdadeiro e único inimigo. Retire-se da cena o Homem e a causa principal da fome e da sobrecarga de trabalho desaparecerá para sempre.”

(...)

“Não está, pois, claro como água, camaradas, que todos os males de nossa existência têm origem na tirania dos humanos? Basta que nos livremos do Homem para que o produto de nosso trabalho seja só nosso. Praticamente, da noite para o dia, poderíamos nos tornar ricos e livres. Que fazer, então? Trabalhar dia e noite, de corpo e alma, para a derrubada do gênero humano. Esta é a mensagem que eu vos trago, camaradas: Rebelião!”

(...)

“E lembrai-vos, camaradas, jamais deixai fraquejar vossa decisão. Nenhum argumento vos poderá desviar. Fechai os ouvidos quando vos disserem que o Homem e os animais têm interesses comuns, que a prosperidade de um é a prosperidade dos outros. É tudo mentira. O Homem não busca interesses que não os dele próprio. Que haja entre nós, animais, uma perfeita unidade, uma perfeita camaradagem na luta. Todos os homens são inimigos, todos os animais são camaradas.”

(...)

“Pouco mais tenho a dizer. Repito, apenas: lembrai-vos sempre do vosso dever de inimizade para com o Homem e todos os seus desígnios. O que quer que ande sobre duas pernas é inimigo, o que quer que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo. Lembrai-vos, também, de que na luta contra o Homem não devemos ser como ele. Mesmo quando o tenhais derrotado, evitai-lhe os vícios. Animal nenhum deve morar em casas, nem dormir em camas, nem usar roupas, nem beber álcool, nem fumar, nem tocar em dinheiro, nem comerciar. Todos os hábitos do Homem são maus. E, principalmente, jamais um animal deverá tiranizar outros animais. Fortes ou fracos, espertos ou simplórios, somos todos irmãos. Todos os animais são iguais.”

Com o falecimento do velho Major a tarefa de instruir e organizar os outros animais recaiu sobre os porcos reconhecidos como os mais inteligentes: Napoleão, um cachaço Berkshire, de aparência ameaçadora, pouco falante, mas com reputação de ter grande força de vontade. Bola-de-Neve era mais ativo que Napoleão, de palavra mais fácil, mais imaginoso, porém não gozava de reputação quanto à solidez de caráter. Garganta, de bochechas redondas, manejava as palavras com brilho. Diziam que era capaz de convencer de que preto era branco. Esses três haviam organizado os ensinamentos do Major num sistema de pensamento a que deram o nome de Animalismo.

Ocorrida a rebelião, expulso o Sr. Jones e seus trabalhadores, os animais sob a supervisão dos líderes, cuidaram de mudar o nome da propriedade de Granja do Solar para Granja dos Bichos. Depois, resumiram os princípios do Animalismo em Sete Mandamentos.

“Esses Sete Mandamentos seriam agora escritos na parede do celeiro, constituindo a lei inalterável pela qual a Granja dos Bichos deveria reger sua vida para sempre.”

Eram os seguintes:

I - Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo;

II - O que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo;

III - Nenhum animal usará roupa;

IV - Nenhum animal dormirá em cama;

V - Nenhum animal beberá álcool;

VI - Nenhum animal matará outro animal;

VII - Todos os animais são iguais.

“Todos os bichos balançaram a cabeça de pleno acordo e os mais atentos começaram logo a decorar os mandamentos.”

“Agora camaradas – disse Bola-de-Neve, deixando cair o pincel – ao campo de feno! É questão de honra fazer a colheita em menos tempo do que Jones e sua gente.”

“Neste momento, porém as vacas que já vinham dando sinais de inquietação começaram a mugir. Havia vinte e quatro horas não eram ordenhadas e tinham os úberes quase estourando. Depois de alguma reflexão, os porcos pediram baldes e ordenharam as vacas bastante bem, pois seus cascos adaptavam-se à tarefa. Tiraram cinco baldes de um leite espumante e cremoso que muitos dos animais olharam com considerável interesse.”

“Que vamos fazer com esse leite? – perguntou alguém.

- Jones, às vezes, misturava um pouco ao nosso farelo, disse uma galinha.

- Não vos ocupai do leite, camaradas! – exclamou Napoleão, postando-se à frente dos baldes.

- Nós trataremos desse assunto. A colheita é mais importante. O camarada Bola-de-Neve vos conduzirá. Eu irei dentro de alguns minutos. Avante, camaradas! O feno espera.”

“Os animais rumaram ao campo de feno para o início da colheita e, quando voltaram, à noitinha, perceberam que o leite havia desaparecido.”

Passaram-se os tempos. Prosperaram as atividades, as vicissitudes e as adversidades. O clima de camaradagem já estava no passado distante. A insatisfação entre os bichos era tangível. Napoleão e seus asseclas comandavam a granja. A proibição de comerciar caíra por terra. Napoleão se relacionava comercialmente com os homens granjeiros como Frederick, Pilkinton e Pinchfield. O relacionamento era beligerante e de desconfiança. Bola-de-Neve evadira-se e era considerado espião.

Na Batalha do Moinho de Vento com a vitória dos animais sobre os invasores, Napoleão criou a comenda “A Ordem da Bandeira Verde” que conferira a si próprio.

Na outrora casa sede da Granja Solar, agora sede da Granja dos Bichos e habitada por Napoleão, Garganta e outros porcos, não eram raros os festejos e as desenfreadas bebedeiras. Napoleão foi visto embriagado e usando um velho chapéu-coco do falecido Jones dando uma volta pelo pátio.

”A vida ia dura. O inverno foi tão frio quanto o anterior e a quantidade de alimento, ainda menor. Novamente reduziram-se todas as rações, exceto a dos porcos e dos cachorros. Uma igualdade, por demais rígida em matéria de rações, explicou Garganta, seria contrária ao espírito do Animalismo. De qualquer maneira, não teve dificuldade em provar aos outros bichos que na realidade eles não sentiam falta de comida, a despeito das aparências. Naquele momento, de fato, fora necessário realizar um reajustamento das rações (Garganta sempre se referia a “reajustamentos”, nunca a “reduções”) mas, em comparação com o tempo de Jones, a diferença para melhor era enorme.”

“Sabiam que a vida estava difícil e cheia de privações, que andavam constantemente com frio e com fome e trabalhando sempre que não estavam dormindo. Mas, sem dúvida, antigamente fora muito pior. Gostavam de achar isso. Além do mais, naqueles dias eram escravos, ao passo que agora eram livres e tudo isso, afinal, fazia diferença, conforme Garganta sempre dizia.”

(...)

“No outono, as quatro porcas haviam dado cria quase simultaneamente – trinta um leitõezinhos ao todo. Os leitões eram malhados, e sendo Napoleão o único cachaço da fazenda, era fácil adivinhar sua linhagem.”

(...)

“Faziam seus exercícios no jardim e eram aconselhados a não brincar com os filhotes dos outros animais. Mais ou menos por essa época, estabeleceu-se que, quando um porco e outro animal se encontrassem numa trilha, o outro animal cederia a passagem; e também que os porcos, qualquer que fosse seu grau hierárquico, teriam o direito de usar fitas vermelhas no rabicho, aos domingos.”

(...)

“A granja tivera um ano bem-sucedido, mas ainda faltava dinheiro. Além disso, havia ainda necessidade de querosene para os lampiões e velas para a casa, açúcar para a mesa de Napoleão (ele o proibira para os outros porcos, dizendo que engordava), todo o suprimento normal de ferramentas, pregos, carvão, arame, ferro-velho e biscoitos para cachorros. (...) o contrato de fornecimento de ovos foi aumentado para seiscentos por semana, de forma que as galinhas naquele ano mal puderam chocar um número de ovos que as mantivesse no mesmo nível. As rações, já reduzidas em dezembro, sofreram nova redução em fevereiro, e foram proibidos os lampiões nos estábulos, a fim de economizar querosene. Os porcos, entretanto, pareciam bastante bem, pelo menos ganhavam sempre alguns quilinhos.”

(...)

“Napoleão determinara que uma vez por semana houvesse uma coisa chamada Manifestação Espontânea, cuja finalidade era comemorar as lutas e triunfos da Granja dos Bichos. À hora marcada os animais deviam abandonar o trabalho e desfilar pelo terreno da granja, em formação militar, os porcos á frente, depois os cavalos, depois as vacas, depois as ovelhas e, por último, as aves. Sansão e Quitéria conduziam sempre a bandeira verde com o desenho do chifre e do casco e o dístico “Viva o Camarada Napoleão”. (...) as ovelhas invariavelmente calavam o insatisfeito com um ensurdecedor balido de “quatro pernas bom, duas pernas ruim.”

Esta máxima “quatro pernas bom, duas pernas ruim” já fora escrita em letras grandes, acima dos Sete Mandamentos, e as ovelhas tinham enorme predileção pelo ensinamento.

(...)

“E assim, à custa das cantorias, dos desfiles, das estatísticas de Garganta, do estrondo da espingarda, do cocoricó do garnisé e do drapejar da bandeira, conseguiam esquecer que estavam de barriga vazia, pelo menos a maior parte do tempo.”

(...)

“Em abril, a Granja dos Bichos foi proclamada República e houve necessidade de eleger um presidente. Apareceu um só candidato, Napoleão, que foi eleito por unanimidade.”

(...)

Com a doença de Sansão, o velho e cansado cavalo, surgiram informações controversas sobre seu destino. A expectativa era de que se aposentasse junto com Benjamin, o burro, e ficasse no pastoreio no campinho junto ao pomar, antes reservado para esta finalidade. Porém, a área fora plantada com cevada para fabricação de cerveja e cada porco recebia, diariamente, a ração de meia garrafa de cerveja, sendo que Napoleão recebia meio galão e era servido na terrina de baixela de porcelana.

“Depressa, corram! – gritou (Benjamim) – Venham logo! Estão levando Sansão! Sem esperar ordens do porco, largaram o trabalho e correram de volta para as casas. Realmente, lá estava um carroção fechado, puxado por dois cavalos, com letreiro ao lado e um homem de chapéu-coco sentado na boleia. A baia de Sansão estava vazia. Os bichos se apinharam ao redor do carroção.”

(...).

“Maricota começou a soletrar as palavras, mas Benjamin empurrou-a para um lado e leu, em meio a grande silêncio: “Alfred Simmonds, Matadouro de Cavalos, Fabricante de Cola. Willingdon. Peles e Farinha de Ossos. Fornece para Canis.”

“Será que vocês não percebem? Vão levar Sansão para o carniceiro.” (...) “Três dias depois, chegou a notícia de que havia falecido no hospital veterinário de Willingdon, a despeito de ter recebido todos os cuidados que um cavalo merece.”

Garganta se incumbiu do discurso para dar satisfação aos demais bichos, afirmando que estava á cabeceira do moribundo Sansão e que dele ouviu: “Para a frente camaradas! Viva a Granja dos Bichos! Viva o Camarada Napoleão! Avante em nome da Revolução! Napoleão tem sempre razão.” Estas foram suas últimas palavras, camaradas.”

Napoleão endossou o discurso de Garganta e explicou que não fora possível trazer os restos mortais de Sansão, porém dera ordem para que se confeccionasse uma grande coroa com louros do jardim e a enviara para ser colocada no túmulo de Sansão.

(...)

“E anunciou-se, alguns dias depois, que os porcos pretendiam realizar um banquete em memória de Sansão. Napoleão finalizou seu discurso relembrando as duas máximas prediletas de Sansão: “Trabalharei mais ainda” e “O Camarada Napoleão tem sempre razão”, máximas – disse – que cada animal deveria adotar.”

“No dia marcado para o banquete, chegou de Willingdon a carroça de um armazém e desembarcou na casa-grande um engradado de madeira. Naquela noite ouviu-se uma alta cantoria seguida de algo que parecia uma discussão violenta e que terminou cerca das onze horas com uma tremenda barulheira de vidros quebrados. No dia seguinte, ninguém se levantou na casa-grande até o meio-dia, e correu uma conversa de que os porcos haviam conseguido, não se sabia de que maneira, dinheiro para adquirir outra caixa de uísque.”

“Passaram-se anos. (...) Quitéria era agora uma égua velha, corpulenta, com os olhos atacados pela catarata. Já ultrapassara dois anos da idade de se aposentar. Aquela história de reservar um pedaço de campo para os animais idosos não era mais nem mencionada. Napoleão torna-se um cachaço madurão de uns cento e cinquenta quilos. Garganta estava tão gordo que mal conseguia abrir os olhos.”

(...)

“Mas, aquele luxo de que Bola-de-Neve lhes falara certa vez, baias com luz elétrica e água quente e fria, e na semana de três dias, não se falava mais. Napoleão denunciava tais idéias como contrárias aos princípios do Animalismo. A verdadeira felicidade – dizia ele – estava em trabalhar bastante e viver frugalmente.”

Garganta cuidava de ensinar às ovelhas, em sigilo, uma nova canção.

“Foi logo após o retorno das ovelhas, numa noite agradável, quando os bichos haviam terminado seu trabalho e regressavam à granja, que se ouviu, vindo do pátio, um relinchar horripilante. Arrepiados, os animais estacaram. Era a voz de Quitéria. Ela relinchou outra vez, e os bichos dispararam a galope para o pátio. Viram, então, o que ela havia visto.”

“Um porco caminhava sobre as duas patas traseiras.”

“Sim, era Garganta. Um tanto desajeitado, devido à falta de prática em manter seu apreciável volume naquela posição, mas em perfeito equilíbrio, passeava pelo pátio. Momentos depois, saiu pela porta da casa uma comprida coluna de porcos, todos caminhando sobre as patas de trás. (...) Finalmente, houve um alarido dos cachorros, ouviu-se o cocoricó esganiçado do garnisé e emergiu Napoleão, majestosamente, desempenado, largando olhares arrogantes para os lados, com os cachorros brincando a sua volta.”

“Trazia nas mãos um chicote.”

“Então veio um momento em que, a despeito do terror dos cachorros e do hábito, arraigado após tantos anos de nunca se queixarem, nunca criticarem, pouco importava o que sucedesse – poderiam lançar uma palavra de protesto.”

“Porém, exatamente nesse instante, como se obedecessem a um sinal combinado, as ovelhas, em uníssono, estrondaram num espetacular balido:

“- Quatro pernas bom, duas pernas melhor!

Os Sete Mandamentos, que formaram a base sólida do relacionamento na Granja do Bichos, no decorrer dos tempos, foram paulatinamente alterados.

I) Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que os outros;

II) Nenhum animal matará outro animal, sem motivo;

III) Nenhum animal beberá álcool em excesso;

IV) Quatro pernas bom, duas pernas melhor;

V) Nenhum animal dormirá em cama com lençol.

Finalmente, não havia agora, um único mandamento senão:

“Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que os outros.”

“Depois disso, não foi de estranhar que, no dia seguinte, os porcos que supervisionavam o trabalho da granja andassem com chicotes nas patas.”

(...)

“Não estranharam quando Napoleão foi visto passeando nos jardins da casa com um cachimbo na boca – não, nem quando os porcos se assenhorearam das roupas do Sr. Jones e passaram a usá-las. Napoleão apresentando-se com um casaco negro, calções de caça e perneiras de couro, enquanto sua porca favorita surgiu com o vestido de seda chamalotado que a Sra. Jones usava aos domingos.”

“Uma semana mais tarde, após o meio-dia, apareceram numerosas charretes subindo rumo à granja. Uma representação de granjeiros vizinhos fora convidada a realizar uma visita de inspeção.”

(...)

“Naquela noite, altas risadas e cantorias chegaram da casa. (...) Lá dentro, em volta de uma mesa grande, estavam sentados meia dúzia de granjeiros e meia dúzia de porcos dentre os mais eminentes.”

O grupo jogava cartas e fazia brindes. Napoleão ocupava lugar de destaque na cabeceira e os demais porcos muito à vontade em suas cadeiras. Um grande jarro circulava e os copos eram cheios com cerveja. Ninguém notou as caras admiradas dos bichos que espiavam pela janela. O granjeiro Sr. Pilkington convidou os presentes para um brinde, mas antes gostaria de discursar. Discorreu sobre os tempos das desconfianças, dos incidentes desagradáveis, dos exemplos da granja e finalizou dizendo sobre os sentimentos de amizade que deveriam prevalecer propondo um brinde à prosperidade da Granja dos Bichos.

Napoleão também se propôs a discursar. Em meio às falsas verdades, refutou as suspeitas de que se fomentasse a rebelião e descartou entre tantas outras aleivosias que o termo “camarada” como vocativo era um ato imbecil e que as marchas aos domingos não passavam de invencionice. Finalizou, após tecer rasgados elogios ao Sr. Pilkington, que a partir daquele momento a Granja dos Bichos deveria ser chamada de Granja do Solar que seria seu nome correto e original e, assim, propôs um brinde à prosperidade da Granja do Solar.

“Houve as mesmas calorosas felicitações de antes, e os copos foram esvaziados. Mas, aos olhos dos bichos que lá de fora espiavam, pareceu que algo estranho estava acontecendo. Que diabo teria alterado a cara dos porcos? Os olhos embaçados de Quitéria iam de uma cara para outra. Algumas tinham cinco queixos, outras quatro, outras três. Mas, algo parecia misturá-las e modifica-las.”

(...)

“Gritos, socos na mesa, olhares irados, furiosas negativas. A origem da briga, ao que parecia, fora o fato de Napoleão e o Sr. Pilkington terem, ao mesmo tempo, apresentado um ás de espadas.”

“Doze vozes gritavam, cheias de ódio, e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco.” (George Orwell).

“Um governo grande o bastante para lhe dar tudo o que você quer é um governo grande o bastante para tirar de você tudo o que você tem.” (Gerald Ford).

“O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente.” (John Emerich E.Dalberg-Acton).

Notas:

a) * A Fábula do PT – Frei Beto, artigo publicado pela FSP.

b) As citações entre aspas objetivam preservar rigorosa adesão à obra de Orwell (A Revolução dos Bichos) e seu estilo literário, eis que pinçadas do todo.

c) Qualquer semelhança com o governo, com o PT e com políticos não é mera coincidência.

Bellozi

Dez/14

bellozi
Enviado por bellozi em 16/12/2014
Reeditado em 16/12/2014
Código do texto: T5071400
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