Piada? Até que ponto podem chegar eleições em DCEs?

http://umolharlibertario.blogspot.com.br/2014/11/piada-ate-onde-podem-chegar-eleicoes-em.html

Existem textos que nos indignam e, portanto, merecem resposta: Eleições de DCE na Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Imagina-se que, entre acadêmicos de diversas áreas, haja um mínimo de inteligência, certo?

Grande engano. Nas universidades federais brasileiras, que buscam universalização e excelência, conceitos por si só contraditórios, eis o texto (ou imbecilidade) que é pronunciado:

"Marcas da mão

Gostaria de destacar a importância de deixar as palavras nos dizerem o que elas carregam. E por que eu digo isso? Um grupo quer apagar as palavras das paredes do DCE e dizem que são ilegítimas. Este grupo se esquece que em uma Assembleia Geral (órgão mais democrático do nosso estatuto), com o endosso de mais 130 estudantes, foi deliberado pela legitimidade das palavras que gritam aos olhos daqueles que as vêm. Esta REAÇÃO acontece porque o contato com o outro gera um estranhamento. Saber que a Universidade é plural e que não está reduzida a um grupo de amigos semelhantes a mim mesmo é difícil. Assim, essa alteridade que extrapola o universo de compreensão do sujeito é reprimida com um slogan que carrega todo o estranhamento e clama contra a pixação.

Sobre as palavras ainda, atentemos para a palavra: REAÇÃO, a mesma que denomina a chapa 3. Não sei se essa palavra foi utilizada por ingenuidade ou por má-fé. Reação, etimologicamente falando, significa o processo contra-revolucionário empregado para conter a conscientização do oprimido, que se corporifica na revolução. Foi o que aconteceu há 50 anos no país com a implementação da ditadura civil-militar e é o que se aflora hoje nas ruas com saudosistas e filhotes da ditadura clamando pela intervenção militar. Então, uma palavra como essa, que tem uma carga repressiva muito forte e é contra a democracia, não deveria ser utilizada por uma chapa que é a favor das liberdades individuais.

Continuando com as palavras, sobre a expressão "liberdades individuais", que da nome a uma coordenadoria e é o princípio que guia toda política da chapa 3. Os integrantes dessa chapa deveriam saber que o discurso deles é baseado em um paradigma ultrapassado, não nego a importância à sua época, todavia, ele por si se encontra descontextualizado porque foi empregado pelo terceiro estado, durante a transição do regime absolutista para o capitalismo, para conter os poderes do Estado Absoluto. Realizada a transição e implementado o capitalismo, frente à revolução industrial, houve uma grande exploração dos pobres na fábricas, assim, através das lutas do operariado, surgiram outros direitos, os direitos sociais ou direitos de segunda dimensão. Esses direitos nunca foram levantados pela chapa 3. Por que será? A terceira palavra que eles utilizam vem a explicar isso: o empreendedorismo.

Empreender é alterar a realidade sim, mas essa palavra remete apenas a obtenção do lucro. Lucro que não vê meios, apenas fins; lucro que não vê pessoas, apena cifrões. Na Universidade, para modificar a realidade do mundo, utilizamos a expressão "extensão univesitária", esta, para quem não sabe, compõe o tripé da educação, conjuntamente com ensino e pesquisa. Além do mais, não é guiada por vieses gananciosos e individualistas como o empreendedorismo. Agora sabemos porque a chapa 3 não fala em direitos sociais. Entendo que, para uma Universidade se pintar de povo, a extensão deve sempre estar presente porque é através dela que é revertido para o povo o que é investido pela sociedade nas Universidades Públicas e Privadas.

Mais ainda, agora sobre a imagem da marca da mão que está no logo da chapa 3. Essa marca foi feita pela mão invisível do mercado de Adam Smith. Essa mão é a mesma mão que conduziu a caneta da nossa magnífica reitora para assinar o contrato com a EBSERH. Também é a mesma mão que masturbou os militares e os excitou para dar o golpe. Enfim, é a mesma mão que aperta os gatilhos dos fuzis dos Policiais Militares e mata pessoas negras e pobres na periferia. É a mão que impede toda ação, é a mão reacionária. Por mais que esta mão pinte as paredes do prédio, por mais que nos amordace e nos torture, a nossa VOZ ATIVA vai ecoar pela história.

Lúcio Carobin Machado "

Ignorando a primeira parte, que diz respeito apenas às chapas, esse texto apresenta tantos erros, tanta desonestidade, que merece uma resposta:

1) "Lucro que não vê meios, apenas fins;"

Sim, e é por isso que existe um conjunto de direitos individuais com as quais os liberais - desde os utilitaristas da época de Adam Smith, e, posteriormente, Mill, até deontologistas mais modernos como Rothbard ou Hoppe ou utilitaristas modernos como David Friedman - se preocuparam em definir. Esse conjunto de regras pode ser maior - como teorizado por sociais liberais - ou ínfimo - como teorizado por anarquistas de mercado. Ser um assassino de aluguel dá lucro, mas não é permitido por nenhum arranjo teorizado por um liberal, e isso é o meio de evitar que o estímulo financeiro seja utilizado de forma negativa na sociedade.

2) "lucro que não vê pessoas, apena cifrões."

Sim, e aí está a eficiência do sistema de mercado. Quando há a monetarização econômica quebram-se os vínculos econômicos mais primitivos feitos entre duas pessoas e começa um processo - completado pela tecnologia - de integração econômica.

Assim, as trocas que antes eram feitas entre duas pessoas, dois diferentes produtos, podem ser feitos de forma muito mais indireta. O resultado disso é que é permitido: acúmulo de capital - com a monetarização, é possível economizar, o que significa que as preferências temporais poderão ser melhor alocadas -, troca indireta - se você quiser comprar maçãs, mas vender peixes, você não precisa mais procurar quem queira trocar maçãs por peixes, você pode vender seus peixes por dinheiro e logo após usar esse dinheiro para comprar maçãs.

Note que o benefício da troca se mantém. Quando você troca A por B, isso significa que você prefere os resultados imaginados da propriedade de B do que os resultados imaginados da propriedade de A. O inverso vale para a outra pessoa. Ao haver a monetarização, isso só passa a acontecer de forma indireta, mas a lógica é mantida.

O lucro - quando obtido seguindo determinadas regras pré-estabelecidas - só significa que você está fazendo algo de bom às pessoas com as quais você obtém o lucro. Ao vender pães e conseguir lucro, isso significa que você melhorou um pouco a vida das pessoas, porque elas estavam dispostas a trocar uma quantidade "x" de dinheiro por uma quantidade "y" de pães. Ambos ficaram mais felizes que na situação inicial.

Sugiro pesquisar sobre as vantagens comparativas de David Ricardo, que apesar de ser velho, é bem aceito por boa parte das diversas escolas econômicas modernas.

3) "Além do mais, não é guiada por vieses gananciosos e individualistas como o empreendedorismo."

Mesma resposta da 2). O lucro tenta direcionar esforços da sociedade para a construção de algo positivo. A lógica do mercado é sempre fazer mais com menos, ou seja, alocar os recursos de forma a aumentar a produtividade e felicidade (utilidade) da sociedade.

4) "Essa mão é a mesma mão que conduziu a caneta da nossa magnífica reitora para assinar o contrato com a EBSERH."

Não faz sentido, porque o funcionalismo público e os órgãos, entidades, repartições públicas não funcionam de forma mercadológica, mas, no máximo, de uma forma "meritocrática", que não passa e uma cópia mal feita do mercado, por não entender o paradigma do valor subjetivo.

5) "Também é a mesma mão que masturbou os militares e os excitou para dar o golpe."

Acusação vaga. Os militares tinham uma política nacional-desenvolvimentista, o que não tem nada a ver com liberalismo, é o Estado controlando a economia pelo bem da Nação. De fato, Adam Smith era nacionalista, mas se deve perceber que, na época na qual ele viveu, a ausência do nacionalismo seria quase que impensável. Além disso, ele não acreditava que fosse o Estado, com construções megalomaníacas como as que ocorreram durante o período da Ditadura Militar, que levaria ao crescimento, mas sim a boa alocação dos recursos motivada pela lógica de mercado.

6) "Enfim, é a mesma mão que aperta os gatilhos dos fuzis dos Policiais Militares e mata pessoas negras e pobres na periferia."

Outra acusação vaga. Não há nem como discutir com isso, uma vez que é apenas uma acusação jogada ao vento. Mas só pra não deixar batido: não faz sentido nenhum porque os policias militares formam uma corporação controlada pelo Estado. Logo, foge totalmente à lógica de mercado.

7) "É a mão que impede toda ação, é a mão reacionária."

Não faz sentido. O objetivo do liberalismo moderno (a utopia liberal de hoje) é a não opressão, é o voluntarismo. Você pode fazer o que quiser desde que não fira os direitos pré-estabelcidos dos outros cidadãos. Logo, não se pode matar, agredir, quebrar contratos, violar à propriedade, cercear a liberdade (sequestrar, impedir a liberdade de expressão...). O resto pode tudo: ser branco, negro, mulher, hetero, homo, bi, trans, gostar de pôneis, de macacos, pornografia, fumar maconha, cheirar crack na rua, e por aí vai... todos os preceitos morais tornar-se-iam individuais, e não coletivos, a sociedade tornar-se-ia voluntarista.

8) "Por mais que esta mão pinte as paredes do prédio, por mais que nos amordace e nos torture, a nossa VOZ ATIVA vai ecoar pela história."

Frase apenas de efeito...

Quem está a torturar? Quem está a os amordaçar? Eles são os mesmos que continuam a falar bobagens por todos os cantos de universidades e movimentos estudantis.

De qualquer modo, não apoio a chapa 3, apenas me incomoda como vocês ficam falando mal do mercado o tempo todo sem entender os fenômenos da monetarização, precificação, fluxo de bens, capital, trabalhadores e informações e alocação de recursos dentro de uma lógica livre-mercadista. Com toda a certeza , existem uma série de críticas a serem feitas ao livre mercado, mas elas não serão frases clichês repetidas ou gritos de ordem...

OtavioZ
Enviado por OtavioZ em 26/11/2014
Reeditado em 26/11/2014
Código do texto: T5048773
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