O Menino Mimado

O MENINO MIMADO

Jorge Linhaça

Quando um indivíduo qualquer é criado com a impressão de que seus atos estão acima do bem e do mal, por conta de sua condição sócio-econômica privilegiada ou porque “foi criado pela avó” que lhe desculpa todas as falhas e coíbe qualquer repreensão por parte dos pais ou outras pessoas, a tendência é que esse indivíduo nutra sentimentos de onipotência em relação ao mundo que o cerca.

Qualquer revés em seus planos de ascensão, é respondido com ameaças e bravatas dignas de qualquer criancinha que se joga no chão do supermercado quando a mãe não lhe compra o docinho que pediu.

Em uma criança isso pode até ser considerado natural e até certo ponto inofensivo, visto que ela está aprendendo ainda quais são os seus limites e, portanto, tende a esticar a corda até onde possa a fim de conseguir seus objetivos.

Já em um adulto, esse comportamento apenas denota um total despreparo para o convívio social e um desprezo completo pela sociedade como um todo.

Quando isso acontece no campo da política, o fato torna-se ainda mais perigoso, pois, armado de um discurso demagógico e da ira contra seus opositores, ladeado por outros da mesma estirpe, tal indivíduo passa a tentar criar ao seu redor, uma aura de Salvador da Pátria, de injustiçado pelas urnas, apelando inclusive para os sentimentos mais baixos que se geram nos porões enlameados da sociedade. Se em seus discursos aparenta ser contrário ao que atente contra a democracia, nos bastidores não se furta a aceitar o apoio daqueles que a desprezam.

Tivessem seus pais ou responsáveis, se preocupado em criar um filho ou neto resiliente (Resiliência é a capacidade de voltar ao seu estado normal, principalmente após alguma situação crítica ou fora do comum, ou seja, voltar ao seu estado emocional equilibrado após sofrer algum percalço), por certo que tal indivíduo buscaria atitudes pró ativas ao invés de ações reativas ou reacionária. No entanto, o ego inflado por anos de “tudo posso, pois tenho o poder” impede que esse indivíduo venha a buscar o caminho do diálogo e do consenso.

Como diz a sabedoria popular, se quiser conhecer realmente um homem, dê-lhe poder e/ou fortuna e/ou fama, aí sim ele mostrará sua verdadeira face.

Tentar tornar um condomínio ingovernável, fomentando o ódio e o desprezo ao síndico eleito pela maioria, denota apenas a falta de capacidade e o despotismo que o indivíduo exerceria caso fosse ele o escolhido.

Está aí uma boa coisa para refletirmos. Quem tiver olhos de ver que perceba, quem tiver ouvidos de ouvir que ouça.