Finados

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“Belíndia”, termo inventado pela nata dos publicitários de Sampa no entorno de 1985, pretendia exprimir os dois Brasis, o Brasil com cara de Bélgica – aspirante ao Primeiro Mundo, e o outro, expressando a pobreza da Índia. Ponto.

Rapidamente repassando um item, a EX-Bolsa Escola direcionada à EDUCAÇÃO das Crianças Pobres Brasileiras, já existente durante a gestão Fernando Henrique Cardoso, metamorfoseou-se pelo Partido da Situação em Bolsa-Esmola.

É necessário pensar muitas coisas de roldão no presente momento, inda que seja maçante vez ou outra redundar e rever, no objetivo de se alcançar A Grande Cena.

Na imprensa paralela (vide internet de um modo geral) temos
"Denúncia de fraude nas eleições" e noutra página pede-se o "impeachment da presidente". Por sinal, ontem 5.000 pessoas saíram da Paulista até o Ibira, ostentando camisas e bandeiras verde-amarelas, pedindo "recontagem" dos votos, entre outros pedidos. No mesmo dia, no Largo da Batata, 200 pessoas com camisetas e bandeiras vermelhas protestavam contra o governo do estado pela falta de água. Analise os números, os paralelos e as intenções. Agora é muito fácil a crise do abastecimento entrar na politicagem. Se chover, esses 200 da Batata ficam de mãos abanando. Se não chover seremos 11 milhões com uma canequinha na mão, na fila de uma bica qualquer....

Agora, segue um adereço de comunicação curioso. Na primeira página do jornal Folha de São Paulo de hoje os dois eventos surgem em duas fotos de mesmo tamanho e enquadramento, sugerindo, num primeiro impacto, que ambas manifestações tiveram igual magnitude. Os números variaram bem acerca dos canarinhos com cartazes: o G1 fala em 1.500 pessoas, o Estadao em 2.500 e a TV Gazeta, citando dados fornecidos pela PM, em 5.000 participantes. Quem viu pela TV atina, por dedução primária, a autenticidade dos números.

É de se indagar o motivo de tantos chutes na trave.

Mesmo que pensar seja um negócio arriscado, não sei se é positivo o lance do impeachment. Me dá a impressão de que iria desestabilizar uma coisa que já me parece tão frágil e que poderia ir pras cucuias em dois palitos. Prefiro uma coisa frágil do que escombros. Quanto a fraude....ah, vá, fala sério? Qual é a surpresa? Fraudam tudo nesse país, nem a Cruz Vermelha se salva, por que não fraudariam as urnas?

Na página do Anonymous BR temos um protesto de 48 horas contra o Marco Civil, onde segue-se um longo texto dizendo que o tal Marco não passa de uma maracutaia pra sacanear os cidadãos.

Olha, vou te dizer uma coisa - estamos fritos. Parece que existe em andamento uma conspiração implantando estratagemas diabólicos desenhados para um único fim: sacanear o cidadão. Que, convenhamos, já é uma criatura tremendamente sacaneada.

Outra página demonstra com um gráfico as diferenças entre Intervenção Militar e Golpe Militar, e que a primeira tem respaldo na constituição. Ora essa....

Salvo engano, foi em 2010 que o jurista Hélio Bicudo declarou: “o Brasil pode caminhar para uma ditadura civil”. Isso em 2010, porque no presente, de acordo com outra página, o fato é o seguinte, recente e auto explicativo: "Um governo estrangeiro enviar representantes para treinar guerrilheiros comunistas no Brasil, como faz o sr. Maduro, é um ATO DE GUERRA, uma violação direta e brutal da soberania nacional. Dizer isto não é uma "palavra de ordem", um apelo, uma voz de comando. É apenas um lembrete de que anestesiar-se para não ver as coisas nas suas devidas proporções é desistir de viver na realidade, refugiando-se em alguma fantasia narcótica e tornando-se um moribundo por decisão própria".

Mais uma página, linkando uma coisa com outra, em algum país de língua espanhola ventila-se um contrato de apoio ao relativo MST. E tem mais, o mesmo estaria ou estará, não entendi, fornecendo feijão para a prefeitura de São Paulo.

Hummmm, isso me parece estranho de ponta a ponta, mas, e os plantadores oficiais de feijão, como ficam?

E agora, na página de não sei quem, temos algo acerca do Debate na ALESC sobre a doutrinação marxista nas escolas públicas de Santa Catarina.

Será possível que vamos para o Retrô do Retrô do Retrô? Essas pessoas não lêem jornais, não estudaram história? Acho o cúmulo o cidadão do séc. XXI se portar como a besta dormente do cidadão da Germânia da dec. 30 e etc. Calma lá, gente, vamos respirar fundo, caminhar sob as árvores, ponderar.

Esse passeio pela mídia paralela me pareceu simplesmente o porão do inferno. Pessoas brigam, se xingam, por motivos ininteligíveis, e descontando isso, se um décimo das coisas que ventilam for verdade então nossa imprensa denota sérias deficiências.

Quando a turma da publicidade peso pesado de 1987 arquitetou o Primeiro Congresso Internacional de Mídia, ocorrido no Hotel Trans América, em São Paulo, o termo Belíndia estava em voga. Nessa época Arnaldo Jabor era um cineasta de prestígio prestes a ganhar um grande prêmio em Cannes. Um ou dois anos depois, na Ponte Aérea Rio-São Paulo, sentou-se ao lado de Fernando Gabeira e indagou se o mesmo não lhe arranjaria um meio de fazer um "freela"para o jornal Folha de São Paulo. Gabeira fez o circuito e nasce o Jabor colunista. Admirado por uns, odiado por outros, é sempre assim quando a cultura da inveja tenta sobrepujar o cadinho do talento.

Edito abaixo trechos de um texto dele, publicado em 2010:

"Brasileiro é um povo alegre. Mentira. Brasileiro é bobalhão. Fazer piadinha com as imundícies que acompanhamos todo dia é o mesmo que tomar bofetada na cara e dar risada. Depois de um massacre que durou quatro dias em São Paulo, ouvir o José Simão fazer piadinha a respeito e achar graça, é o mesmo que contar piada no enterro do pai. (...) O brasileiro tenta se enganar, fingindo que os políticos que ocupam cargos públicos no país, surgiram de Marte e pousaram em seus cargos, quando na verdade, são oriundos do povo. Ao mesmo tempo em que fica indignado ao ver um deputado receber 20 mil por mês, para trabalhar 3 dias e coçar o saco o resto da semana, também sente inveja e sabe lá no fundo que se estivesse no lugar dele faria o mesmo. Um povo que se conforma em receber uma esmola do governo para não fazer nada e não aproveita isso para alavancar sua vida - realidade da brutal maioria dos beneficiários do bolsa família - não pode ser adjetivado de outra coisa".

Bem, crescimento individual ou coletivo implica em auto exame e quase sempre dói um bocadinho.

Trinta anos se passaram desde que a Belíndia foi formulada. Aos trancos e barrancos o contraste foi se atenuando, isso é inegável. Há muito o que fazer para colocar as coisas nos eixos. Ocorre que no momento presente existem legiões e legiões de pessoas - de todas as partes do país - lutando através de trabalho, estudo, idéias, empreendimentos, solidariedade, cumprimento de deveres cívicos e pagamento de tributos (exorbitantes) no intento de uma vida melhor para si e seus descendentes. Entretanto, diante do exposto, fica nítida a sensação de um palco atrás do palco, repleto de estranhos vilões, dir-se-ia vultos caricaturescos e desprovidos de uma agenda definida, exceto o vil empenho em sabotar o lado que aspira a face construtiva da nação.

Considerações finais: o humilde painel acima, que angariou o laborioso fardo de pensar um tico, ler um quinhão, selecionar (select all), copiar (copy) e por fim assentar palavras (paste), tem como objetivo propiciar, através desta página, informações interessantes e ao mesmo tempo intimamente associadas ao processo político, em vias de ....


(Imagem: Eastman Johnson, 1824-1906)
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 02/11/2014
Reeditado em 19/09/2020
Código do texto: T5020115
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