** A SUA (E A MINHA) CASA! **

Quem muito acessa as redes sociais, deve ter visto a reação de muitos “patriotas” que prometiam mudar o Brasil, frente ao resultado final das eleições. Se você tem em sua relação de amigos pessoas que moram fora do Brasil e que não se conformaram com o resultado, certamente os ouviu (ou leu) dizer que ficarão por “lá” durante, no mínimo, 4 anos; e os que estão no Brasil, prometem um dia partir.

Eu sei que o Brasil não anda às mil maravilhas, que os índices de reajustes não param de subir, que a gasolina está cara, que os impostos pagos não são bem empregados, que a conta de luz subiu de novo, que temos medo dos bandidos e eles não temem mais nada, enfim, há MUITO o que se fazer. Mas ainda assim é o nosso país, é a nossa casa!

Fora da nossa casa seremos sempre estrangeiros; ainda que tenhamos aprendido a língua e a cultura local, seremos estrangeiros!

Hoje o desabafo do meu cunhado, americano, em sua rede social, me trouxe um turbilhão de sentimentos e pensamentos.

Como ele está fazendo faculdade, minha irmã, que mora nos EUA há 6 anos, onde casou e constituiu família, passou a trabalhar em um restaurante mexicano. Em muitas de nossas conversas, ela sempre mencionou que sofria racismo constante da parte de alguns clientes, mas hoje seu marido postou um desabafo, indignado com o tratamento que ela vem recebendo.

Quando ela foi servir um cliente, este, ao perceber o sotaque, exigiu que ela lhe mostrasse o seu Green Card, humilhando-a diante de todo o restaurante.

Sei que este tipo de “gente”, bem como o racismo, existe em todo lugar, mas quando você mora fora de seu país, isso é constante. E digo por experiência própria, pois este fato lamentável refrescou minha memória para a crise econômica de 2008.

Quem se lembra de quantos brasileiros que haviam deixado o país em busca de oportunidades voltaram ao Brasil para fugir da crise? E o Brasil os acolheu!

Não lembra?

Refresco sua memória também: http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2011/09/noticias/a_gazeta/economia/953780-volta-para-casa-o-brasil-e-o-novo-eldorado.html

Quando eu disse “por experiência própria”, é porque me lembrei do que me trouxe de volta ao Brasil em 2009, depois de 10 anos morando no Japão: A crise econômica!

Alguns amigos descendentes que voltaram e os que conseguiram ficar lá, passando por dificuldades durante a crise, hoje cospem para cima criticando e menosprezando o Brasil.

Pois bem, volto à época da crise para lembrar-lhes quantos brasileiros ficaram desempregados do dia para a noite, muitos sem reservas (porque pensavam que ficariam lá para sempre), chegando ao ponto de não terem nem teto nem o que comer. Por que? Porque as fábricas tiveram que fazer grandes cortes, e entre deixar os “de casa” desempregados, melhor seria deixar os estrangeiros desempregados. E assim foi: Os estrangeiros foram os primeiros da lista, ainda que trabalhassem há anos no local e fossem mais competentes do que o japonês ao lado.

Do túnel do tempo, para lembrar:

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/11/081124_japao_brasileiros_dg.shtml

Mas o governo de um país de 1º mundo realmente é muito mais ágil e competente do que o governo de um país de 3º mundo. Logo, tomaram providências para que o país não se tornasse um caos com tanta gente desempregada. E o que fizeram? Pagaram a passagem desses estrangeiros, para que pudessem voltar os seus países, com a condição de ficarem um bom tempo por lá. Isso mesmo! Que fossem passar fome em casa!

Desenterro outra reportagem daquela época: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090401_dinheirodekasseguiset.shtml

Então, eu não peguei esta ajuda do governo japonês, voltei para o Brasil com o dinheiro do meu trabalho e sem nenhuma experiência, afinal, saí daqui adolescente. Mas o Brasil me acolheu; apesar das dificuldades, consegui me estabilizar e hoje estou na minha casa, falando minha língua, sendo brasileira.

Conheço pessoas que voltaram sem dinheiro nem experiência, apenas com a ajuda do governo, mas que também estão vivendo aqui até hoje, em casa!

Esta foi uma situação que vivi e presenciei, e que me voltou à memória devido à falta de patriotismo de alguns e ao racismo sofrido pela minha irmã, mas que pode voltar a acontecer a qualquer momento e que serve de lição para aqueles que menosprezam o seu país, a sua casa!

Hoje posso dizer: Nada como estar em casa!