O QUE PODEMOS APRENDER DESTAS ELEIÇÕES?

O QUE PODEMOS APRENDER DESTAS ELEIÇÕES?

Jorge Linhaça

Parafraseando o Lula “ Nunca antes na história deste país...” tivemos uma eleição tão acirrada, com enredos cinematográficos de viradas e reviradas, pesquisas desconexas entre si, e uma militância tão fervorosa nas redes sociais.

Mais uma vez a polarização entre dois partidos arrastou para suas hostes de última hora os mais diversos discursos, muitas vezes contraditórios, de apoio ao mesmo candidato. No caso do PSDB isso ficou mais patente do que nunca...

Mas, voltando ao que podemos aprender:

1 - Eleição não se ganha no grito. Nem nos xingamentos nas redes sociais...

É preciso ter argumentos e não apenas repetir frases feitas, criadas por um ou por outro.

A maioria desses boatos vem de uma quarta via, interessada apenas em desestabilizar a nossa adolescente democracia, sendo ignorada pelos partidos como um todo.

2- O sentimento de mudança, que atinge boa parte da sociedade, não se restringe à troca pura e simples de partido. O PSDB não emplaca como opção real das mudanças que a população deseja. Ainda que tenha tentado colar esse rótulo em sua campanha e muitos tenham optado por votar no “menos pior” segundo sua visão.

3- O brasileiro, conscientemente ou no vai da valsa, começa a demonstrar que está tomando gosto pela política, não necessariamente pelos partidos.

4- Eleições ainda são tratadas por grande parte dos eleitores, como finais de campeonatos regionais, onde o que vale é o resultado, independente das consequências.

5- 39.196.000 de pessoas, ou seja, 27,44 dos eleitores, nos quais me incluo, disseram não aos dois candidatos e partidos, seja abstendo-se ou votando nulo e branco. Assim sendo, mais de um quarto do eleitorado não confia nem em PT e nem no PSDB.

Em uma eleição decidida com 2% de diferença de votos, isso demonstra que o resultado poderia ser bem diferente, quer seja numericamente quanto ao candidato eleito.

6- Apesar de um quase empate em termos de votação, os números escondem que Aécio não conseguiu efetivamente mobilizar o eleitorado, já que tinha a seu favor fatores como a inflação, a tal recessão técnica, os escândalos de corrupção do adversário e uma rede de reacionários (não necessariamente ligadas ao seu partido) que transformaram as redes sociais em uma espécie de guerrilha virtual. Nunca um tucano teve tantos trunfos na manga.

7- O PT precisa corrigir o rumo em muitos aspectos e buscar encontrar dispositivos que lhe permitam agregar a confiança de alguns setores da sociedade.

8- Os partidos precisam descer de seus pedestais e se aproximar mais da sociedade que já começa a perceber boa parte dos vícios de um sistema eleitoral que se revela cada vez mais ultrapassado e parcial, beneficiando apenas os grandes partidos seja pela cobertura da mídia, seja no falsamente chamado Horário Eleitoral Gratuito.

9- Ninguém mais engole essa sopa de letrinha que se tornou a proliferação de partidos sem ideologia própria e que servem apenas de moeda de troca de favores políticos ou de reforço de caixa para sua manutenção. É inadmissível que com mais de 30 legendas registradas, pouco mais de meia dúzia apresentem candidatos próprios a cargos majoritários, sobrevivendo à custa de coligações. E isso inclui partidos históricos como PDT, PTB, DEM e outros. Há muito tempo que nenhum destes lança um candidato à presidência ou vice.

10- Os discursos de ódio que proliferam na internet e fora dela precisam ser substituídos pela luta por uma democracia mais justa e aqueles que se deixaram levar por eles devem parar, respirar e refletir sobre a quem estão realmente servindo.

Os discursos intempestivos e deformados que tenho ouvido, de lado a lado, apenas demonstram que as pessoas não se atêm a fatos, mas sim a propagandas repetitivas e no mais das vezes desprovidas de razão.

Por exemplo: Um dos discursos que mais se ouve é que o PT venceu as eleições porque o Nordeste votou em Dilma. E acusam-se os nordestinos de burros, passa-fome, vagabundos, preguiçosos e coisas piores... Mas:

Dilma teve mais votos na Região Sul e Sudeste ( 26.587.802) onde perdeu as eleições, do que a somatória de votos obtidos nas Regiões Norte e Nordeste ( 24.569.870) e, por pouco não podemos ainda acrescentar os números da Região Centro-Oeste ( 3.254.303) a essa soma.

Assim sendo, vemos que a mentira e as falsas impressões estão impregnadas em grande parte da população, mormente (mas não exclusivamente) na de jovens pouco acostumados a analisar os fatos além das aparências.

Resta perguntar, a quem interessa disseminar esse tipo de “separatismo” e o que se pretende com esse tipo de colocação, bem como de tantas outras que não cabem neste texto.