Poxoréu Dois Mil e Catorze
Há setenta e seis anos atrás ficou o vinte e seis de outubro de 1938. Naquela data, a ditadura do Estado Novo Varguista, através de seu interventor em Mato Grosso, Júlio Müller Strübing, reconhece a maioridade administrativa de Poxoréu, elevando-o à categoria de Município mato-grossense, através do Decreto-lei estadual n. 208, de 26-10-1938, desmembrado do município de Cuiabá.
Durante os 76 anos de sua emancipação político-administrativa, Poxoréu viveu a opulência do resplendor dos diamantes extraídos de seu território, desde 1924, quando a expedição exploradora comandada por João Ayrenas Teixeira, formada por sete garimpeiros, descobriu-o como uma nova e promissora terra, uma espécie de eldorado dos diamantes com a capacidade de enriquecer a todos que se aventurassem em seu território, até então, habitat natural dos índios bororos coroados.
Havia riqueza, muita riqueza... Mas também havia perigo, muito perigo... Os homens daqui eram homens sem jaça, homens de palavra, de coragem, de uma audácia sem limites. Matava-se por qualquer coisa, até por um simples olhar de soslaio. O Mato Grosso daqueles tempos era o “Velho Oeste” Brasileiro, semelhante ao velho oeste norte-americano, que não se deixava conquistar sem luta e sem derramamento de sangue. Mas os garimpeiros, homens mais audazes e destemidos que os demais, não se assustavam com as histórias que se ouviam da rica e promissora região. E avançavam até o mais profundo de suas entranhas, arrancando delas toneladas de ouro, diamantes e outras pedras preciosas e semipreciosas encontradas neste Estado.
O Notável Upenino Aurélio Miranda, sócio-correspondente da União Poxorense de Escritores em Campo Grande, MS, destacado cantor e compositor poxoreano, escreveu um poema intitulado “Minha Doce Poxoréu”, gravado e regravado várias vezes por ele mesmo. Nesse poema ele começa descrevendo Poxoréu da seguinte forma: “Poxoréu dos garimpos, de seus homens bravios, são soldados sem fardas em que a peneira é o fuzil”.
A Poxoréu de “homens bravios”, armados de peneiras, serviu de berço à história da terra poxoreana. Tão gloriosa fora sua existência naqueles tempos, que recebeu o título de “capital do diamante”, expressão essa também eternizada nos versos de “Minha Doce Poxoréu”, de Aurélio Miranda. Diz ele: “Nesses versos que eu canto, aqui distante quero enaltecer, a capital do diamante, querida terra que me viu nascer”. Mas a Poxoréu de hoje é outra, não é mais a Poxoréu cantada por Miranda.
A Poxoréu 2014 está bem distante dos tempos brutos das penetrações exploradoras de suas riquezas naturais. Já não existem bororos na região poxoreana, salvo um pequeno grupo que retornou à região de Jarudore, reserva indígena que foi ocupada pelos colonos brancos civilizados. A cidade também possui hoje uma rua com o nome de “Rua Rosa Bororo” e já teve um bairro que, originalmente, fora denominado de “Núcleo Habitacional Rosa Bororo”, mas aquele vínculo indígena já também fora alterado para “Jardim Bela Vista”.
A Rosa Bororo lembrada em Poxoréu teria sido a índia bororo Cibáe Modojebádo, natural desse povo e que fora capturada, com suas duas filhas, em 1881, por uma expedição militar encaminhada à terra dos Bororos Coroados, com a intenção de promover a “pacificação” dessa gente, segundo registra Maria Auxiliadora de Almeida em seu artigo intitulado “Os Bororo Coroado e a Política Indigenista da Província de Mato Grosso (1845-1887). A articulista é Mestre em História pelo Programa de Pós-Graduação da UFMT e professora do curso de História da Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT. A índia Rosa fora batizada com o nome cristão Rosa de Miranda. O sobrenome que recebera foi o da família de Thomaz Antonio de Miranda, o qual a apadrinhou e, em seguida, levou-a ao batismo cristão. De acordo com o relato da historiadora, o objetivo era educá-la nos costumes dos civilizados e prepará-la para servir de intermediadora nas demais expedições pacificadoras junto aos bororos coroados. Mas a Poxoréu de Rosa Bororo também só existe nas páginas da história.
A Poxoréu de 2014 não é terra de índios, não é terra de garimpeiros, não é terra de ricos, não é terra de comércio forte, não é terra industrial e tampouco terra de serviços. Mais parece terra de ninguém, onde cada um chega, pega o que quer e vai embora, sem nenhum compromisso, nem com a gente e nem com o lugar. Garimpeiros e capangueiros vindos de todos os quadrantes brasileiros aportaram na região poxoreana com seus planos extrativistas “sem qualquer compromisso”. A motivação era maior do que a preocupação com a degradação. Quantas pedras preciosas, diamantes de qualidade foram garimpados em Poxoréu? Não há e nem haveria uma estatística real sobre esses dados, haja vista que, se declarassem a extração ou a aquisição, com certeza teriam que recolher ao fisco a parte que lhe caberia. E essa, nem de longe seria a intenção dos exploradores. De sorte que aqui vieram, tiraram do solo e do subsolo tudo o que desejaram, deixando apenas uma superfície coberta de pedras lavadas, montanhas delas por todo lado, entre outros danos ambientais. Aqui não fizeram qualquer investimento, não compraram fazendas com o bamburro, não construíram belas casas com a riqueza mineral. Aqui foi apenas um cenário de exploração pela exploração.
A Poxoréu de 2014 é uma cidade com população estimada pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 16.677 residentes. É uma cidade tentando sobreviver ao declínio da atividade garimpeira, que deixou como legado grandes áreas de terras degradadas, inadequadas para o plantio e até mesmo para a formação de pastagens. A vegetação dessas áreas é de pouco ou nenhum valor. Os rios Poxoréu, Bororo, Areia e Coité, assoreados pela atividade garimpeira, ainda não conseguiram se recuperar. O grande lago formado pela barragem da Usina Hidrelétrica José Fragelli, construída nos anos setenta, do século passado, que apontavam para uma eventual implantação de um iate clube é, atualmente, um gigantesco banco de areia sob administração de uma empresa que produz e vende energia elétrica em Mato Grosso.
Segundo Eduardo Gomes, em artigo publicado na Revista MTAqui, outubro de 2013, “desde 1960, quando tinha 16.687 habitantes, a população [de Poxoréu] nunca foi tão reduzida quanto agora”. E continua: “Há alguns anos o índice de crescimento populacional é negativo. Somem-se a isso preocupantes indicadores sociais e o desmembramento político de Primavera do Leste. O município perdeu a vitalidade econômica desde que o garimpo entrou para a história. Resta a força da pecuária com suas 298 mil cabeças bovinas, que gera poucos empregos da porteira para dentro”.
Texto Disponível em: http://www.mtaquionline.com.br/artigos/2013/10/22/revista-mtaqui-edi%C3%A7%C3%A3o-outubro-poxor%C3%A9u-do-diamante-%C3%A0s-pedras-no-caminho. Acesso em 25 out 2014.
Em 2014, a maior fonte de empregos para a população de Poxoréu é o serviço público. O fraco comércio e o incipiente setor de serviços quase nada empregam. Jovens cheios de vitalidade se sentem bem empregados por estarem trabalhando nas granjas e fazendas de Primavera do Leste, em serviços braçais que não demandam o uso de qualquer técnica; outros tantos, de estarem se formando “técnicos” na Escola Técnica Estadual de Poxoréu, resultante da obra social “Lar do Menino Jesus e Cidade dos Meninos”, iniciada pela médica filantropa italiana Edwige Dassi durante os anos oitenta e, atualmente, transferida para a administração da Comunidade Religiosa “Orionitas” (que é um bom projeto para Poxoréu); e ainda outros mais, que se sentem ricamente afortunados e se regozijam de poder realizar um curso nas faculdades de Primavera do Leste e Rondonópolis, para depois poderem se aventurar no mercado de trabalho dos municípios vizinhos, já que outras sortes, além do desemprego ou do subemprego, não teriam se permanecessem em Poxoréu (que também não é ruim para Poxoréu).
A vida na quase octogenária Poxoréu 2014 é pacata. O centro velho da cidade adormece cedo. Às oito da noite quase não se encontra mais o movimento nas ruas, outrora apinhadas de transeuntes, fregueses dos diversos bares centrais, frequentadores das noites na rua Bahia, a rua boêmia e no Diamante Clube Sociedade Recreativa, ou mesmo dos passeios pelas praças da Liberdade e Manoel Dioz Silva. Não há opção de lazer para a juventude. Não há cinemas, não há clubes, não há praças atrativas. A noite se faz nas lanchonetes, pastelarias e restaurantes da Av. Joaquim Martins de Siqueira e da Av. Brigadeiro Eduardo Gomes. Como alternativa, os jovens se contentam em, estridentemente, fazer um barulho infernal nos alto-falantes de seus carros, em alguns locais da cidade, como por exemplo, nas confluências das Avenidas Brigadeiro Eduardo Gomes e Brasília, que demandam para a MT-130, rodovia que agora é privatizada, sendo explorada pela empresa “Morro da Mesa S/A”, com sede em Primavera do Leste, apesar de cortar o município de Poxoréu, de ponta a ponta.
No entanto, independente da balança dos pesares de sua atividade econômica pouco ou nada render ao município de Poxoréu em termos de impostos e ainda do reclamado alto valor dos pedágios que a população desse município tem que pagar para usar a rodovia em suas demandas a Primavera do Leste ou Rondonópolis, a gente do lugar se sente feliz de poder trafegar em uma estrada bem mais conservada pela empresa “Morro da Mesa S/A” do que a MT-130 pré-privatizada e de ter a oportunidade de alugar algumas propriedades para o uso da empresa em Poxoréu, bem como pela chance de obter um emprego, ainda que de baixo salário, em seus quadros de servidores. Apesar dos pesares, para o povo, a “Morro da Mesa” é uma novidade bendita dessa década poxoreana.
Do ensino, não há muito mais que acrescentar, posto que segue a média estadual. Organizado por meio de ciclos de formação humana, numa tentativa de ajustar a clientela ao parâmetro série/idade, não tem os resultados satisfatórios reais alardeados pelo governo estadual. Alunos que mal sabem escrever o próprio nome entram e saem do ensino médio com pouco valor agregado. No afã de se obter a chamada qualidade social da educação, garantindo a toda a população o acesso ao saber, conforme teleologicamente preconizado na Constituição Federal de 1988, o rigor da seletividade em prol da qualidade educativa foi abandonado. No entanto, o que se verifica na realidade é que a educação inclusiva, a educação para todos somente tem garantido posições pífias nos exames internacionais como o PISA, ou nos nacionais como o ENEM e o IDEB.
Na Poxoréu 2014, como ocorre em todo o Mato Grosso, os discentes brincam de tirar a sorte nos exames oficiais. Grande parte do alunado sequer leem as questões dos exames, partindo logo para o “chute”. Com tal prática, alguns desses sortudos logram obter melhores notas do que aqueles alunos que se esforçam para aprender os conteúdos trabalhados nas escolas, para que possa tirar deles o proveito que precisarem. Mas o pior mesmo é que, segundo nos fora informado pela Assessoria Pedagógica de Poxoréu, na pessoa da profª Leda Figueiredo Rocha do Lago, em palestra proferida aos profissionais da educação da EE. PE. CÉSAR ALBISETTI, eu entre eles, o governo apenas divulga os relatórios fornecidos diariamente através dos diários eletrônicos e dos relatórios elaborados pelos profissionais das escolas. Segundo Lago, se existe algum responsável pelo baixo índice de aprendizagem dos discentes de Poxoréu, com certeza não é o sistema estadual de ensino, mas sim, os próprios profissionais da educação, pelo que atestam em seus registros escolares. Se a maioria dos alunos é aprovada por PS – Progressão Simples, de que estaríamos reclamando? Deveríamos, sim, estar felizes porque nossos alunos estão aprendendo o que lhes estão sendo ensinados, conclui a Assessora Pedagógica.
A Poxoréu 2014 na área da educação, semelhante ao Estado que a incorpora, vive a farsa das provas lotéricas, onde alunos fazem avaliações com quarenta questões de múltipla escolha em apenas quinze minutos, ou até menos, para poderem se ausentar da escola mais cedo. O que essas avaliações provam? Elas não provam o conhecimento dos alunos, provam apenas que a grande maioria que consegue bons resultados nelas é formada por pessoas com muita sorte, posto que nenhuma pessoa, por mais inteligente que fosse jamais leria 40 questões longas (elaboradas para incentivar a leitura), em meia hora. A média do ENEM é de três minutos por questão. Na EE. PE. CÉSAR ALBISETTI se trabalhava com a hipótese de seis minutos por questão, concedendo-se tempos de quatro horas para a realização das provas tipo “ENEM”, que visam a preparação dos alunos para tal tipo de exame. Mas esse tempo interessa a bem poucos. A maioria quer apenas escrever o nome e marcar xises em quaisquer das alternativas, mesmo sem ler, sem entender e sem saber o que é que está respondendo. E quando são impedidos de deixar a sala, praticam atos de indisciplina para serem retirados do local, a fim de não prejudicar os que ainda estão fazendo as avaliações. Assim, os tempos de provas foram reduzidos para duas horas e ainda se tem verificado ser muito tempo.
A Poxoréu 2014 na área da educação se parece com uma cidade de contos de fada, histórias da Carochinha e fábulas do dia a dia. Partindo da ideia verdadeira que preconiza a impossibilidade de um aluno conviver o ano letivo todo em sala de aula e não ter aprendido nada, afirma-se que o mesmo não poderia ser retido, numa completa ignorância da realidade. Não estamos afirmando que os alunos não aprendem nada. Estamos dizendo que o que aprendem não é suficiente para considerá-los habilitados a qualquer coisa na vida, e, muito menos, ao exercício profissional em alguma área do conhecimento. O que estamos dizendo é que essa educação cantada e decantada não contribui em nada com o progresso e o desenvolvimento de nosso país, o qual necessita de mentes bem desenvolvidas, de pesquisadores sérios e capazes de fazer descobertas científicas de valor, talvez prováveis prêmios Nobéis. No entanto, o que temos é uma maioria enganada com diplomas e certificados que atestam apenas o fato de que estiveram na escola, mas que não correspondem ao quantitativo real de conhecimentos que declaram ter os seus possuidores. O resultado disso é visto em professores que ingressaram no magistério públicos com médias entre 0,1 e 5 pontos, em um universo de 1 a 10 pontos. No passado chamávamos essas médias de fracas e insuficientes, ainda que representassem algum conhecimento. Mas não serviam para reconhecer a capacidade de tais pessoas para ingressar no serviço público e muito menos no privado. Na Poxoréu e Mato Grosso de hoje, nota 0,1 (zero vírgula um) é uma boa média para ingressar no serviço público, como na área da educação, por exemplo. O Edital nº 004/2009, que disciplinou o último concurso estadual para a Secretaria de Educação dizia em seu item 15.3, o seguinte: “Não serão eliminados do concurso público os candidatos aos cargos de níveis superior, médio e fundamental que se enquadrar nas situações a seguir: a) não obtiverem pontuação zero em qualquer um dos grupos da Prova Objetiva (Conhecimentos Gerais - P1, Conhecimentos Complementares - P2 e Conhecimentos Específicos P3); b) não obtiverem pontuação zero na Prova Dissertativa – P4, sendo candidato ao cargo de Professor da Educação Básica; b) não obtiverem pontuação zero na disciplina de Língua Portuguesa”. Veja-se que bastaria não tirar nota zero e estaria concorrendo a uma vaga no serviço público mato-grossense. É esse tipo de servidor que a educação 2014 está proporcionando em Mato Grosso e, por tabela, em Poxoréu.
Sempre proclamei as coisas boas dessa terra e me omiti de publicar a respeito das coisas ruins. Todavia, entendo que não posso mais ficar calado vendo um povo ser enganado dessa forma. Não posso compreender que isso seja educação. Não posso ficar calado vendo uma geração inteira da juventude se deixando sucumbir aos projetos educacionais vigentes. Recentemente assisti a uma palestra em Cuiabá, proferida por um Conselheiro do Conselho Nacional de Educação. E ele dizia que em resposta àqueles que afirmavam que escola boa era a escola do passado, ele perguntava se aquela escola atendia a todos. E como a resposta era negativa, ele redarguia dizendo: como se pode dizer então que aquela era uma escola boa? E concluiu dizendo que aquele discurso elitista não é mais o discurso brasileiro. E que hoje o Brasil quer oferecer educação de qualidade para todos, sem deixar ninguém de fora, sem privilegiar ninguém.
O discurso do Conselheiro do CNE é interessante. Está de acordo com a proposta de educação com qualidade social prevista na Constituição Federal Brasileira, ou seja, com a proposta de não deixar ninguém de fora das salas de aulas. No entanto, por conta desse tipo de educação, não apenas algumas pessoas ficam de fora. Nesse processo todos ficam marginais do progresso e do desenvolvimento científico. Ninguém terá competitividade estudando nas escolas públicas com essa filosofia de educação. Terá apenas uma base mínima para viver.
O mundo de 2014 precisa de respostas urgentes aos problemas graves que afetam a humanidade, tais como a produção de alimentos, a questão da água potável, as alterações cliáticas, a pesquisa espacial por mundos possíveis de serem habitados pelos terráqueos, a criação de novas tecnologias para se atingir esses mundos, a cura de doenças como o câncer e outras de mesmo nível de periculosidade... Não é uma educação para todos que vai propiciar a formação de profissionais desse calibre. Podemos sim, realizar essa educação básica para todos, mas não podemos privar a humanidade de ter as nossas melhores mentes a serviço da salvação de todo o planeta. Se não descobrirmos as respostas para questões como essas supraelencadas, não haverá futuro para todos. Destarte, de que valeria a decantada qualidade social da educação, a educação para todos, se não houver futuro para todos?
Esse é o retrato em preto e branco que faço da Poxoréu, do Mato Grosso e do Brasil 2014 que vejo mascarado por séries estatísticas e relatórios falsamente elaborados, posto que não coadunem com a realidade a que se referem, principalmente na questão educacional.
Minha avaliação, no entanto, não para por aqui. Faço também o meu retrato colorido para a Poxoréu 2014.
Para o caso da educação em Poxoréu 2014, vislumbro a necessidade de se criar e implantar o Sistema Municipal de Educação e sair desse esquema implantado em Mato Grosso que prioriza a qualidade social com a inclusão, a certificação e a diplomação em massa, em detrimento da qualidade técnica e do progresso e desenvolvimento das ciências em geral. A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96) permite que isso seja feito. Que se mantenha a educação para todos, mas que somente se promovam aqueles que estiverem da média para cima, além de se oferecer aulas de reforço não apenas para os piores, mas principalmente para os melhores, para que possam avançar ainda mais rápidos, de forma a poderem contribuir com o processo de salvação e sobrevivência da humanidade, na própria Terra, ou alhures, espaço sideral afora. Vamos oferecer educação para todos, mas não promover a incompetência de todos só porque estiveram na escola. Se vão ali apenas pela comida, vamos dar-lhes a comida. Mas àqueles que não quiserem comida e que desejarem outras coisas mais, vamos também oferecer esse algo mais, porque é isso que fará toda a diferença.
Para o desenvolvimento da Poxoréu 2014 vislumbro a necessidade de implantação da educação tecnológica municipal com qualidade total, com um parque tecnológico que possibilite aos alunos estagiarem nos próprios campos de formação, de forma a preparar uma mão de obra especializadíssima para o Mato Grosso e para o Brasil. Não podemos obrigar as empresas de alta tecnologia a virem para cá, mas poderemos exportar mão de obra tecnológica de qualidade, pronta para operar no mercado. Esse seria o principal produto de Poxoréu. Ao tempo em que os alunos fossem recebendo a educação básica para todos, os melhores, selecionados com alto rigor de qualidade, estudariam em tempo integral, com mais de sete horas diárias, dedicando uma parte desse tempo para aperfeiçoar a formação teorica geral recebida nas escolas de base e o restante do tempo para o desenvolvimento da formação tecnológica. Vislumbro também a necessidade de ampliação e fortalecimento da Escola Técnica Estadual de Poxoréu hoje administrada pelos Irmãos Orionitas, porque é um projeto que coaduna com as necessidades brasileiras.
No campo do Turismo para Poxoréu, vislumbro a necessidade de se implantar meios municipais para criar estruturas e administrar essa industria, a qual tem sido a salvação para muitos municípios que entraram em decadência após o fim dos ciclos extrativistas. É preciso viabilizar os passeios econômicos ao Morro da Mesa através de teleférico ou de elevadores, com visitas diárias. Após a implantação da estrutura, pode-se buscar a viabilização do projeto pela privatização. Mas é preciso que o município tenha a coragem de propor projetos inusitados que atraiam os turistas para cá. É preciso melhorar a infraestrutura nos nossos balneários, criando pousadas com quiosques para a venda de lembranças e aluguel de equipamentos de camping. É preciso implantar aqui os cursos para guias de turismo. É preciso priorizar os recursos para aquilo que garantirá a sustentabilidade do Município. A uma altura dessas, não podemos mais continuar vivendo uma crise de desenvolvimento. Temos que atrair pessoas para cá, para que nossa cidade volte a crescer e encontre sua nova vocação, a qual vislumbro ser a exportação de mão de obra superqualificada e a indústria do turismo. Devemos investir o mínimo possível na manutenção das demais áreas e o máximo nessas novas áreas que poderão assegurar o futuro do povo e da terra poxoreana.
Aceito a crítica de meus projetos e de minhas ideias, esperando que de tais críticas possam resultar em ideias mais brilhantes e viáveis que contribuam para a promoção do desenvolvimento desse Município, ao invés da simples oferta da extrema unção aos nossos sonhos dessa natureza. Se amarmos de fato e se querermos mesmo ver o progresso dessa cidade, devemos parar de ficar apenas apagando focos de incêndios que pipocam aqui e ali e envidarmos mais esforços para programar projetos de médio e longo prazo, transformando as causas que agravam a nossa crise econômica e pontos de partida para outras soluções. Uma crise não é o fim de tudo, é o fim de um ciclo e o começo de outro.
Eis uma análise de nossa realidade. Eis algumas soluções que temos pensado para resolver a nossa crise de natureza econômico-social e de desenvolvimento e progresso. As soluções que indico podem não ser as soluções mais viáveis, podem nem servir como solução, mas ofereço-as a esta cidade que aprendi a amar como minha terra, esses pontos de apoio para se desencadear um efeito dominó de novas ideias e projetos que façam-na retornar ao mapa do crescimento e do desenvolvimento, em concomitância com a boa situação econômica de Mato Grosso e do Brasil. Poxoréu, 26 de outubro de 2014. Prof. Izaias Resplandes de Sousa, filho adotivo de Poxoréu. Advogado, professor de Matemática, Especialista em Estatística, Gerente de Cidades, Pedagogo e escritor mato-grossense com atuação em Poxoréu, MT e região.