Aprendamos a separar as coisas

Depois daquele tão comentado debate entre os candidatos à Presidência Dilma Rousseff e Aécio Neves, no qual ambos gritaram um com o outro, alguns grupos feministas e a própria Dilma estão acusando o tucano de misógino e machista, dizendo que ele foi grosseiro e agressivo ao chamar uma "mulher, mãe e avó" de leviana e que devia se retratar. Dilma, inclusive, está explorando o fato para atrair o eleitorado feminino. Talvez o senhor Aécio tenha se excedido nas respostas dadas a Dilma, mas será que é o caso de acusá-lo de machista? Afinal, a candidata do PT não moderou os comentários ofensivos, criticando Aécio, insinuando que o seu governo em Minas não fora bom, trazendo à tona um episódio em que ele teria dirigido embriagado e chamando-o de mentiroso. Se, em vez de mulher, ela fosse homem e Aécio tivesse acusado de leviano, estaria chamando tanto a atenção? Naturalmente, não.

Quando Aécio a chamou de leviana, ele o fez porque ela lançou acusações e críticas infundadas.Ela não podia dizer que o governo dele foi péssimo, afinal, ele tinha como provar que seu governo fora muito bom, já que ele deixara o posto de governador com índice de 92% de aprovação. O presidenciável quis se referir à atitude dela, dizendo que ela agira de forma irresponsável. O fato de Dilma ser mulher não influiu nas críticas que ele lançou. E, se ela realmente mentiu como ele disse diversas vezes durante o acalorado debate, ele tinha plena razão de estar furioso, pelo que pudemos perceber no seu tom de voz e, com certeza, ele não queria saber se a adversária era homem ou mulher. O que lhe importava era que Dilma estava tentando desacreditá-lo perante a Nação brasileira, atacando seu governo em Minas, sua pessoa e até sua família. Podemos dizer que ela não deu razões fortes para ser chamada de leviana?

Agora, o que vemos é que Dilma está tentando tirar proveito da situação, querendo dar a impressão que Aécio é machista e desrespeitoso com as mulheres. Bem, ela é a Presidente do Brasil, foi guerrilheira, presa e torturada. Uma pessoa assim se abala por causa de uma palavra? Ela também foi Ministra da Casa Civil, portanto, está acostumada ao universo da política, onde a sujeira, falsidade e o desrespeito são comuns. E se ofende por ser chamada de leviana, dizendo que Aécio não deveria chamar assim uma "mulher, mãe e avó"?

O pior é que toda a importância dada a esse infeliz episódio entre os candidatos, alimentada pelo oportunismo político, faz com que nós, mulheres, pareçamos seres frágeis e melindrosos, que nos ofendemos por pouco e que não saberemos nos defender. Convivemos com o machismo todos os dias nesse País, vendo a violência contra a mulher,a discriminação da mulher no mercado de trabalho, sempre tendo que provar que é competente, às vezes trabalhando mais e, mesmo assim, recebendo menos, os comentários lascivos que nos reduzem a meros objetos sexuais para prazer do homem, corremos o perigo de sofrer ataques sexuais e vamos nos magoar por causa de uma palavra que pode ser aplicada a ambos os sexos? No debate, Dilma e Aécio não eram um homem e uma mulher, apenas dois candidatos à Presidência, em posição de igualdade, prontos a atacar e ser atacados.