BOLSA FAMÍLIA: NEM LULA, NEM FHC
 
Depois de ler a Folha de São Paulo, de 18/10/2014, já que toquei no tema "Bolsa-Família" na crônica "FHC: QUEM FOI SERÁ", considero de suma importância transcrever um trecho do artigo "A bolsa e a vida", de Demétrio Magnole, extraído do caderno "Eleições 2014" daquele jornal, a fim de melhor esclarecer o leitor:
 
"Conceitualmente,o Bolsa Família não nasceu com Lula, nem com FHC, mas no laboratório político do Banco Mundial. O objetivo abrangente de redução da pobreza, proclamado em 1991 por Lewis Preston, presidente do banco, seria alcançado por meio de políticas focadas de transferência de renda. Era uma RESPOSTA ESTRATÉGICA ao pensamento de esquerda, concentrado em reformas sociais, e um programa de ação para o ciclo aberto pela queda do Muro de Berlim. FHC a adotou SEM O ENTUSIASMO DOS CONSERVADORES, ENCARANDO-A COMO UM EMPLASTRO CIVILIZATÓRIO QUE NÃO SUBSTITUIRIA INICIATIVAS OUTRAS DO ESTADO NAS ESFERAS DA EDUCAÇÃO E DA SAÚDE. LULA NÃO SÓ A ABRAÇOU COMO SERVIU-SE DELA PARA ANCORAR ELEITORALMENTE SEU SISTEMA DE PODER...". 

Esse programa, de cunho social, estará sempre dependente de injunções políticas:  uns tentarão ampliá-lo, outros o deixarão estagnado até a morte, mas nenhum partido que assuma o poder democraticamente cometerá o erro de eliminá-lo sem a implantação de um programa substituto.   

É inegável que o Bolsa Família superou, nas regiões pobres brasileiras, uma era de mendicância solidária: todos pediam, uns aos outros, o mínimo para viver, ou sobreviver.  Seu resultado até o momento - objetivando o melhor partilhamento da renda - tem sido favorável, nos ramos da educação, da sociologia, da economia e da política.  Deseja-se-o pleno, entretanto, no campo da libertação.  Emplastros não libertam, somente escondem as prurigens da escravidão.  É preciso removê-los e aplicar o remédio certo e em doses adequadas nas áreas dilaceradas, até a completa cicatrização do que ainda parece incicatrizável.

A libertação dos escravos norte-americanos implicou indenização com terra, gado e numerário.  No Brasil, desde 13 de maio de 1988, somente agora ocorre de fato uma compensação para os descendentes daqueles serviçais de sol a sol que nunca usufruiram da menor remuneração. 

Não posso acreditar na legitimidade da Abolição da Escravatura em meu país enquanto ele ainda se encontra sonolento diante dos encantos das vitrines de nossos shoppings.   Com certeza, começarei a acreditar, sim, quando se vislumbrar algum movimento apartidário, solidário e de âmbito nacional  no sentido de tornar supérfluos programas dessa natureza, consequência do engajamento de seus beneficiários nos setores produtivos da nação. 

"Não basta acabar a escravidão.  É preciso destuir sua obra" (Joaquim Nabuco). 

Eis, pois, uma bela causa para a nossa juventude abraçar.  Oxalá me escutem todos os presidenciáveis deste século.