Quer mentir?
Fale de política! Principalmente nesta eleição.
Não estou aqui a endossar o senso comum que rotula a política como espaço do engodo e generaliza os políticos como mentirosos. Refiro-me as inconstâncias e surpresas que ocorreram no primeiro turno das eleições. “Tudo o que era sólido se desmancha no ar”, como disse Marx? Sintomas da “modernidade líquida” de Bauman?
Nem os institutos de pesquisa (*), na boca de urna, previram que José Sartori (PMDB) chegaria a 40% nas eleições. Ana Amélia (PP), quem diria, que já tinha até ganho no segundo turno que ainda não acontecera, não passou do primeiro: desceu do salto alto dos seus 38% de votos para 22%, tendo que desocupar a cadeira onde já se via sentada.
Marina Silva (Rede/PSB) passou praticamente toda a eleição a frente de Aécio Neves (PSDB) e, em certo momento, deu a impressão de que superaria Dilma Rousseff (PT) e venceria a eleição no primeiro turno. Ao final, voltou aos 20% que eram aproximadamente o seu resultado de 2010, deixando o tucano subir à segunda colocação, com 33% dos votos. Assim, o tsunami Marina virou ressaca eleitoral, com PT e PSDB novamente decidindo a corrida presidencial no segundo turno, pela quinta vez consecutiva.
O embolamento para o senado entre Olívio Dutra (PT) e Lasier Martins (PDT) terminou na pesquisa boca de urna do Ibope, que deu 37% para o petista contra 31% ao ex-funcionário da RBS. Só que a boca banguela de urna errou e Lasier, na urna, foi quem fez 37% dos votos, enquanto Dutra totalizou 35%. Desta vez foi Olívio que teve de descer do banco do seu Ford Bigode, para gáudio do antipetismo que grassa pelo Rio Grande. Melhor para a RBS, que passa a ter uma bancada de dois senadores na capital do Brasil.
E agora? Parece que Sartori e Dilma estão com as vitórias encaminhadas. Será mesmo? Quem garante? Você garante? Eu não! Quer mentir? Eu não!
Tarso Genro (PT) parece estar em numa situação difícil, visto o PP ter indicado apoio a Sartori no segundo turno. Pior: o eleitorado do PP, 22%, a princípio é refratário ao PT. A princípio. Como também escreveu Marx: “a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. Em 2002, Germano Rigotto (PMDB), desbancou Antônio Britto (PPS) e Tarso, vencendo o petista no segundo turno. A tragédia: Rigotto foi derrotado no primeiro turno em 2006, vendo Yeda Crusius (PSDB) e Olívio decidirem a eleição, com a tucana fazendo o seu papel, ou seja, o do antiPT bonzinho, agora feito por Sartori. Mas nem tudo é desgraça para Tarso: ao contrário de Rigotto em 2006 e Yeda em 2010, ele foi para o segundo turno, e o PT, desde 1994, vai para essa fase da eleição estadual. A não ser em 2010, quando Tarso venceu no primeiro, com 54% dos votos. Agora fez 32%. Há ainda o eleitorado do PDT (4%) e os que não escolheram candidato dia 05 (27%), disputando-os com Sartori.
Aécio, por sua vez, parece estar em melhor situação que Tarso, em virtude do apoio da Rede e do PSB e das denúncias de corrupção contra o governo federal. Só que Dilma fez 41% dos votos e ele tem de correr atrás (buscar 16% de votos para vencer, enquanto a presidenta precisa de 9%), sendo que o eleitorado de Marina, que decidirá o pleito, aparentemente, não é refratário ao PT, que faz um governo muito bom do ponto de vista sócio-econômico. Outro aspecto que não lhe é favorável é que o PSDB é freguês do PT nas disputas presidências: PT 3x2 PSDB, com os petistas levando os três últimos confrontos. A favor: Dilma fez 47% contra Serra no primeiro turno em 2010, que obteve 32%. A diferença, agora, portanto, diminuiu de 15% para 8%, mesmo com Aécio, com 33%, ter ficado na margem histórica do PSDB no primeiro turno.
Não se enganem: dia 26 poderá tanto dar a “lógica” nas urnas, com Sartori e Dilma vencendo, ou a “antilógica”, com Tarso e Aécio. Ou qualquer outra combinação: Tarso/Dilma, Sartori/Aécio. Discorda? Quer mentir? Fale de política nessa eleição.
(*) Devido aos erros dos institutos no primeiro turno, não utilizarei dados dos mesmos nas perspectivas para o segundo turno.
Texto publicado na seção de Opinião do jornal Portal de Notícias: http://www.portaldenoticias.com.br
Fale de política! Principalmente nesta eleição.
Não estou aqui a endossar o senso comum que rotula a política como espaço do engodo e generaliza os políticos como mentirosos. Refiro-me as inconstâncias e surpresas que ocorreram no primeiro turno das eleições. “Tudo o que era sólido se desmancha no ar”, como disse Marx? Sintomas da “modernidade líquida” de Bauman?
Nem os institutos de pesquisa (*), na boca de urna, previram que José Sartori (PMDB) chegaria a 40% nas eleições. Ana Amélia (PP), quem diria, que já tinha até ganho no segundo turno que ainda não acontecera, não passou do primeiro: desceu do salto alto dos seus 38% de votos para 22%, tendo que desocupar a cadeira onde já se via sentada.
Marina Silva (Rede/PSB) passou praticamente toda a eleição a frente de Aécio Neves (PSDB) e, em certo momento, deu a impressão de que superaria Dilma Rousseff (PT) e venceria a eleição no primeiro turno. Ao final, voltou aos 20% que eram aproximadamente o seu resultado de 2010, deixando o tucano subir à segunda colocação, com 33% dos votos. Assim, o tsunami Marina virou ressaca eleitoral, com PT e PSDB novamente decidindo a corrida presidencial no segundo turno, pela quinta vez consecutiva.
O embolamento para o senado entre Olívio Dutra (PT) e Lasier Martins (PDT) terminou na pesquisa boca de urna do Ibope, que deu 37% para o petista contra 31% ao ex-funcionário da RBS. Só que a boca banguela de urna errou e Lasier, na urna, foi quem fez 37% dos votos, enquanto Dutra totalizou 35%. Desta vez foi Olívio que teve de descer do banco do seu Ford Bigode, para gáudio do antipetismo que grassa pelo Rio Grande. Melhor para a RBS, que passa a ter uma bancada de dois senadores na capital do Brasil.
E agora? Parece que Sartori e Dilma estão com as vitórias encaminhadas. Será mesmo? Quem garante? Você garante? Eu não! Quer mentir? Eu não!
Tarso Genro (PT) parece estar em numa situação difícil, visto o PP ter indicado apoio a Sartori no segundo turno. Pior: o eleitorado do PP, 22%, a princípio é refratário ao PT. A princípio. Como também escreveu Marx: “a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. Em 2002, Germano Rigotto (PMDB), desbancou Antônio Britto (PPS) e Tarso, vencendo o petista no segundo turno. A tragédia: Rigotto foi derrotado no primeiro turno em 2006, vendo Yeda Crusius (PSDB) e Olívio decidirem a eleição, com a tucana fazendo o seu papel, ou seja, o do antiPT bonzinho, agora feito por Sartori. Mas nem tudo é desgraça para Tarso: ao contrário de Rigotto em 2006 e Yeda em 2010, ele foi para o segundo turno, e o PT, desde 1994, vai para essa fase da eleição estadual. A não ser em 2010, quando Tarso venceu no primeiro, com 54% dos votos. Agora fez 32%. Há ainda o eleitorado do PDT (4%) e os que não escolheram candidato dia 05 (27%), disputando-os com Sartori.
Aécio, por sua vez, parece estar em melhor situação que Tarso, em virtude do apoio da Rede e do PSB e das denúncias de corrupção contra o governo federal. Só que Dilma fez 41% dos votos e ele tem de correr atrás (buscar 16% de votos para vencer, enquanto a presidenta precisa de 9%), sendo que o eleitorado de Marina, que decidirá o pleito, aparentemente, não é refratário ao PT, que faz um governo muito bom do ponto de vista sócio-econômico. Outro aspecto que não lhe é favorável é que o PSDB é freguês do PT nas disputas presidências: PT 3x2 PSDB, com os petistas levando os três últimos confrontos. A favor: Dilma fez 47% contra Serra no primeiro turno em 2010, que obteve 32%. A diferença, agora, portanto, diminuiu de 15% para 8%, mesmo com Aécio, com 33%, ter ficado na margem histórica do PSDB no primeiro turno.
Não se enganem: dia 26 poderá tanto dar a “lógica” nas urnas, com Sartori e Dilma vencendo, ou a “antilógica”, com Tarso e Aécio. Ou qualquer outra combinação: Tarso/Dilma, Sartori/Aécio. Discorda? Quer mentir? Fale de política nessa eleição.
(*) Devido aos erros dos institutos no primeiro turno, não utilizarei dados dos mesmos nas perspectivas para o segundo turno.
Texto publicado na seção de Opinião do jornal Portal de Notícias: http://www.portaldenoticias.com.br