O vinagre não é mais perigoso (texto-extra ao Recanto das Letras)

O jogo da política é cômico, para não dizer trágico. A começar pelos senadores. Cargo esperto este. Exemplo. Aécio presidente, o Estado de São Paulo terá de volta Marta Suplicy na titularidade, e poderá perder José Serra, se convidado a algum ministério, e Aloysio Nunes, vice do mineiro, dará a cadeira de senador a Airton Sandoval, inexpressivo político das treze listras; José Aníbal, dos nomes mais paparicados do PSDB, tomará vaga de Serra. Dilma vencedora: talvez Marta siga no ministério, então Antônio Rodrigues, do PR, um nome idem inexpressivo, segue no nosso Congresso Nacional. Mensurar a alegria dos eleitores tanto de Serra, como de Aloysio e de Marta é tarefa para os mouros.

Celso Russomano recebeu 1,5 milhão de votos em São Paulo e sinalizou que não pretende os quatro anos cumprir na Câmara. Quer a prefeitura da capital. O que as pessoas votantes dele acham da ideia? Por causa de seu milhão e meio, Sérgio Reis comporá Brasília. Além dele, outro bocado. Se fosse um candidato sério, Russomano falaria na propaganda: ‘Quero o voto, mas tentarei o Executivo em 2016.’ Calma, meu sonho passou. Tiririca não perdeu fãs. O milhão de bem-querência prova que o paulista ama circo. Em todos os sentidos. A maioria que mora no Estado é conservador ao extremo.

Pender à direita é comprovado por nomes como Fernando Capez, Coronel Talhada, Marcos Feliciano, Delegado Olim, Paulo Maluf e Bolsonaro, o Filho. Tudo bem que Maluf está, por enquanto, impugnado, mas obteve 250 mil votos, metade do montante de 2010. Os seus eleitores estão cada vez mais deixando este mundo, é um fato. Por outro lado, novos seguidores da Arena estão à solta, prova destes nomes que citei acima, mesmo com o partido sendo de sigla distinta. Os voltados à esquerda, pelo menos em SP, sumiram. O PT perdeu muitas grifes. Andrés Sanchez foi mais votado de federal. Esperava-se pelo menos, mínimo, 500 mil votos a ele. Arrecadou, frustrado, pouco mais de 160 mil.

Em Jacareí, caso curioso. Quase sempre, para não declarar 100% das vezes, em eleições para presidente e governador, o PSDB tem vantagem espetacular. 2014 não foi diferente: Aécio Neves em 1º, Marina Silva em 2º e Dilma Rousseff em 3º. Todavia, quando chega pleito municipal, os petistas levam de lavada, desde 2000. Explicar esta situação é difícil... Uma coisa é o PT ter se consolidado no município com a administração relevante e portentosa. Outra é a população escolher pessoas fora da cidade para governá-la, por assim dizer. Votar em pessoas, não em partidos, é o atrativo interessante.

O PSDB ganha cacife aqui, mas teme a decisão de Marco Aurélio de Souza – este igualmente impugnado na Justiça, e não reeleito mesmo se absolvido (44 mil votos – 23 mil deles em Jacareí – contra os 70 mil de 2010) resolver voltar ao Paço, caso se livre de condenação. Marco Aurélio, claro, é nome muito forte e a disputa seria apertada. O PSDB de Izaías Santana parece ter se consolidado e o páreo será duro. Se Aurélio ficar inelegível, os azuis podem até esboçar o início das comemorações.

O erro é o começo – Lima Barreto dizia ter alma de ‘bandido tímido’. A democracia tem os seus prós e contras. Alagoas reelegeu Collor como seu senador. Até 1/2/2023 ‘elle’ dará cartas por lá. Os filhos de Renan Calheiros e Jader Barbalho ficaram na frente; o 1º ganhou no 1º turno, o 2º tem à frente o 2º turno ainda. Mas a população do Maranhão e Rio de Janeiro merecem aplausos. O clã dos Sarney escafedeu-se com a vitória de Flávio Dino. Na ex-capital, os fluminenses tinham as temerosas escolhas. Mas no Senado Romário Faria é bola da vez e despachou o ex-cacique César Maia da praia.

Sobre alternância de poder, mais um dado a se estudar. Petistas reclamam do sexto mandato do PSDB em SP (1994-2014). Os tucanos inflam-se porque o PT pode ficar 16 anos no país (1/1/2003 – 1/1/2019). Quem tem razão? Ninguém. Que eu saiba, os petistas não se entristeceriam caso Suplicy tivesse seu quarto mandato no Senado (estava ali desde 1/2/91 – sairá em 1/2/15 a dar lugar a Serra). Tampouco os peessedebistas têm lágrimas nos olhos com o ‘Alckmin eterno’. Eles querem poder, e é isto o que importa. A reforma política precisa sair, mas não irá. Eles jamais (!) fariam leis que não os beneficiassem. O ‘picolé de chuchu’ perdeu em uma das 645 cidades do Estado. Foi em Hortolândia.

Acerca do apoio de Marina Silva a Dilma ou a Aécio, esqueçam. Ela se portará como em 2010: neutra. Se o PSB resolver algo, tudo bem, mas da boca da ex-ministra nada se escutará. Se por acaso optasse pelo PT, comentariam ‘onde está a nova política?’. Se desse seu braço ao PSDB, a frase seria ‘ela agora é de direita’. Provavelmente, posso estar errado, Marina pedirá desfiliação do PSB e, então, retomará os esforços para fundar a Rede Sustentabilidade e proporá sua candidatura de novo em 18. Ela não soçobrará, tenho certeza. Entretanto, precisa rever seus conceitos ou jamais sairá do patamar de 20 milhões de votos. O tempo de TV conta demais, a candidatura foi muito prejudicada, portanto.

Analiso e pergunto aos meus sinceros botões: onde parou a indignação das ruas de junho de 2013? Cá entre nós, pelos 20 centavos realmente valeram a pena? O vinagre não é mais tão perigoso como se mostrava? O saldo das passeatas é simbolizado em 14 por Marcelo Crivella, Henrique Alves e Jair Bolsonaro? Pode ser. Chego a conclusão de que a volta para a estrada da boa temperança será e tem de ser mesmo muito longa. O eleitor tupiniquim precisa aprender e para tanto apanhará muitas vezes ainda. Daqui a 50 dias serão bem poucos os que se lembrarão em quem votaram pra deputado.

Nas chamadas manifestações, fica claro agora que todos que saíram às ruas em meados do ano passado nem sabiam os motivos pelos quais reivindicavam. Eu nunca fui a estes eventos e não me gabo disto. Mas levantar cartazes com dizeres contra corrupção, a favor de hospitais e escolas no ‘padrão Fifa’, sinceramente, e malgrado faça parte do todo denominado ‘democracia’ e ‘liberdade de expressão’, nada resolve. Podia-se até achar bonito, e não fica por aí. A manifestação não ter partido político e não ter nomes a combater, salvo o ex-governador do RJ Sérgio Cabral, também pesou. E, o trocadilho é grátis, Pezão liderou a apuração carioca... Como compreender as atitudes da população?

Mudanças como a cláusula de barreira às agremiações políticas, implantação do voto distrital ou distrital misto e mandato de cinco anos aos cargos como prefeito, governador e presidente podem alterar a relação do povão com os candidatos. Podem, mas não devem... O Brasil como um todo não tem o perfil de seguir seu eleito. Cobrá-lo, então, é ‘coisa pra rico’. Demorará décadas, senão séculos, para a transformação. Elas ocorrem aos poucos. A comparação é a construção de uma casa. Nós não saímos do chão. Já fizemos terraplanagem pelo menos. Estamos com a planta nas mãos sem saber o que fazer daquele projeto tão animado. Não sabemos porque estamos de mãos atadas, apesar de elas terem ficado livres neste 5 de outubro. Tenho o sonho de conhecer uns 10 ou 20 eleitores do Tiririca.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 07/10/2014
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