O QUE EU QUERO PARA O MEU PAÍS
Bem, nesses últimos dias tenho escrito coisas que têm causado alvoroço. Tanto aqui quanto em outros lugares na internet. Fora o que me mandam por e-mail. Os textos falam de política. A maioria foca nessa eleição que acontece depois de amanhã, 5 de outubro de 2014. Os últimos textos levaram pessoas a me insultar e a pensar que sou militante do PT. E o curioso é que todos esses textos focam nas articulações da mídia e tentam alertar o eleitor para que não se deixe ser manobrado pela opinião da mídia, pois ela tem o seu candidato, que vai a favorecer muito se eleito, e quer que nós contribuamos para que ela receba esse favorecimento. De bom mesmo, em termos de administração voltada para a população, não têm nada para oferecer os candidatos que a mídia subliminarmente apoia em troca do favorecimento.
Eu escrevi textos que enaltecem o Regime Militar vivido pelo Brasil entre 1964 e 1985 e que defendem um novo Golpe (ou Contragolpe, como quiser); que enaltecem a Esquerda brasileira. Textos que espetam os militares. textos que espetam a Esquerda. Me expus como marxista em boa parte deles, mas também pronunciei com respeito o que acredito ser um capitalismo viável para o Brasil e para o mundo. E por aí vai. De toda liberdade que um escritor deve ter para escrever eu usei e abusei e vou continuar assim.
Mas qual é o meu real posicionamento político? Sabe, eu estive em uma discussão com uns jovenzinhos, talvez recém balzaquianos, via comentários em uma postagem do Facebook. Gente que nasceu no meio da década de oitenta e não viu ainda o que é viver em clima sócio-político tenso. Gente que sabe a história que os donos da mídia contam e não a que se passou de fato. Então, para eles não faz muito sentido alguém se declarar marxista e ainda enaltecer o Regime Militar. E pela história que eles conhecem e cultuam realmente não faz. Não é culpa deles. São simples colonos absorvidos pelo American Way of Life. Para eles marxismo significa ficar sem brincar com o videogame no quarto ou sem acessar o Facebook e Regime Militar é perder a liberdade de expressão e ser torturado caso não entender direito o "cala a boca". São todos contra a Esquerda brasileira, é mole?
Vamos por partes, começando pelo marxismo. Sem querer dar uma aula do que é isso, eu não tenho dúvida de que o sistema político mais justo seja o que adota o marxismo. As pessoas não competem dentro de um regime assim. Elas são puras, não são tomadas pelo consumo causado pelas ambições, hobbies, hábitos, manias que não são natos em nenhum de nós. O capitalismo precisa criar cada um desses defeitos em nós para que ele possa nos mobilizar, principalmente às compras. E o capitalismo não consegue gerir tanta gente quanto há hoje no mundo, sem que uma parte dessa gente, a maior, sustente a prosperidade da outra parte, que só desfruta. Eu sei, não se consegue enxergar isso, pois todos os que vivem dentro do capitalismo foram doutrinados ou moldados por meio de engenharia social e agora é tarde para no mínimo refletirem sobre isso. Ainda mais com tanto flúor no cérebro.
Estabelecimento de um novo golpe militar. Até ano passado, estava demais o terrorismo informacional contra a administração do PT. Eu fui vítima disso e eu também passei a pensar que tudo que era feito no Congresso deveria ser criticado e combatido. Eu não lia direito as pautas dos projetos e nem sequer confirmava se eles existiam ou se eram mesmo de autoria do PT. Critiquei como se isso fosse estar na moda. O Cura Gay, que nem do PT era, eu fui completamente injusto no apoio que eu dava para os "injustiçados pelo projeto", que de injusto não tinha nada, movido tão somente pela manipulação da mídia, que estava preocupada era com o avanço de popularidade dos criadores e defensores do projeto e com a perda de dinheiro que demandaria se a classe gay ganhasse o direito de sair da lobotomia e tentasse a possibilidade de viver uma vida normal de heterossexual. Naquela ocasião, ouvindo o Bolsonaro, eu quis mesmo uma intervenção dos militares para acabar com a bandalheira que a mídia atribuía à Esquerda brasileira e principalmente ao PT.
Hoje não, hoje, conforme eu escrevi para os jovenzinhos no Facebook, eu gostaria que os militares interviessem na administração sócio-política para simplesmente re-disciplinar, reorganizar a sociedade. Temos, urgentemente, que acabar com a ideia errada do que é democracia. Essa corrupção toda, essa baderna toda nas ruas e outros locais públicos, essa desordem, poluição sonora e de todo tipo, abuso da liberdade de expressão, livre comércio de produtos idiotas ou corrompidos, banalização do sexo, da sexualidade e das drogas, infantilização e abobamento do sujeito via mídia, em particular pelos programas de televisão e pela música, essa busca inconsequente por momentos de fama ou por carreira de sucesso. Essa violência toda e até a indústria da fé têm que receber um basta. A população foi doutrinada equivocadamente quanto ao o que é democracia e exagera. Precisa ser reeducada. E isso não tem jeito, se não é por um marxista, é por um militar. E já que não querem nem pensar o primeiro, o jeito é o segundo.
E depois, o Brasil precisa voltar a ser grande de fato. Precisa voltar a ser, de fato, a oitava economia do mundo, como os militares entregaram. Precisa voltar a criar estatais e com elas patrimônio e emprego para os brasileiros. Empresas estatais, isso é coisa de comunista. Alguma coisa na história contada pela mídia não encaixa, não é mesmo? E lembram que o Regime Civil sumiu com tudo e ficou com o dinheiro? Pois é, para recuperar essas coisas, só mesmo quem construiu. Tá certo que muitas das empresas públicas que haviam foram instituídas na democracia antiga, de Getúlio Vargas até João Goulart, mas quem eram os caras que atuavam ali naqueles governos, não eram alguns dos esquerdistas que aí estão ou que criaram ou influenciaram a criação da maior parte dos partidos grandes que hoje se distribuem em legendas múltiplas?
Falta só eu falar sobre defender a Esquerda que até pouco tempo eu combatia. Primeiro temos que ter em mente o seguinte: Se estamos hoje podendo criticar, contestar ou ser irreverente contra qualquer político, sistema ou fato político é por causa dessa Esquerda que está aí. Ela é composta por muitos dos que foram parar nos porões da ditadura para apanhar um pouquinho em nome da liberdade política e de expressão. Aqueles caras não eram só marxistas ou maoistas, eles também eram anti imperialismo norte americano. Aquela juventude era realmente intelectual e sabia bem o que nos transformava em zumbis e depois em escravos: o American Way of Life. Exatamente o que os jovenszinhos do bate-papo que eu mencionei cultuam. Infelizmente, o tiro saiu pela culatra em alguma coisas, pois é exatamente o estilo de vida nazista norte-americano que proporciona que muitos brasileiros sejam enganados com táticas de manipulação da informação e acabam defendendo o que deveriam atacar. Ainda bem que eu consegui me recuperar a tempo. E tive que aguentar vários comentários do tipo "não dá para discutir com esse cara". Não dá para discutir é com quem critica os caras que garantiram para ele hoje em dia o direito de criticar. Isso é que não dá para discutir.
Para fechar, quero ilustrar essa observação com um acontecimento que presenciei. Era o ano de 1996 e eu trabalhava no setor de pesquisa para elaboração de material didático em uma escola. Meu chefe recebia jornais diariamente e ele tinha a missão de separar o que poderia ser recortado para virar projeto pedagógico e compor as apostilas que diagramávamos. Ele costumava colocar para um lado o que ele achava que valia a pena usar e para o outro o que ele achava que não valia. O caderno de cultura do jornal Folha de São Paulo havia feito uma matéria contemplando a estada do cantor Lou Reed, ícone do punk rock, no Brasil. Meu chefe, com a cara azeda por detrás dos óculos, segurando o jornal com as duas mãos e balançando a cabeça em ritmo de desprezo, falou para o ar: "Isto aqui sai. O que um sujeito desprezível desse tem para eu construir material de ensino". E embolou o caderno, jogou o bolo no cesto de lixo e ainda deu uma cuspida. Foi aí que entrou em cena o terceiro ocupante do setor, que presenciava a cena junto comigo. Ele disse: "É por causa de um sujeito desses que você hoje toma uma atitude dessas". Grande Lou Reed. Que os jovenszinhos de hoje possam estudar o movimento punk para tentar entender o movimento democrático.