BRASIL, GENTIL PÁTRIA AMADA, ONDE ESTÁS?

Este nosso país, Brasil bem brasileiro, terra de Nosso Senhor e do mulato inzonzeiro (*) é, como todos sabemos, uma terra de contrastes, de abismos profundos entre a luxúria e a miséria que, permanentemente, nos desafia e instiga à reflexão.

Desesperou-se o poeta, em busca de sua Bárbara: “Por entre as penhas de incultas brenhas/ cansa-me a vista de te buscar/ porém não vejo, mais que o desejo/ sem esperança de te encontrar (**).

Por onde andas, Brasil?

Quo vadis, pátria generosa por tantos desamada e, sobre teu solo de mãe gentil, tão enxovalhada?

Porque o país não dá certo e, a cada passo, mais se distancia do futuro?

Somos o quarto país do mundo em extensão territorial, detentores de 12 a 16% da água doce do planeta. Ocupamos uma área de 8,515 mil km2 desfrutando de invejáveis condições edafo-climatológicas isenta de fenômenos naturais de grande impacto. A Amazônia, patrimônio da humanidade, esse mundo fantástico de biodiversidade alcança, em números redondos, 46% do território.

Ainda alcança, pois no diapasão do desmatamento que conta com o beneplácito governamental, com a corrupção endêmica dos órgãos de (des) controle e das tais ONGs, além da orfandade de políticas públicas que visem sua preservação e exploração sustentável, em pouco tempo estará desertificada. Também uma chaga a mais, uma a menos, para um país todo estropiado pouca ou nenhuma importância se lhe dará.

O aquífero Guarani, a maior reserva subterrânea de água doce do mundo, com estimados 1,2 milhões de km2, tem 2/3 de sua extensão encravada em território brasileiro.

A Província Mineral de Carajás, a maior reserva de minério de ferro do mundo, estimada em 100 bilhões de toneladas, aflora em nosso quintal.

Rios navegáveis permitem a exploração de hidrovias e com seus 7.367 km de costa marítima, em grande parte propícia para a navegação de cabotagem, faculta a adoção de infraestrutura e logística singulares para os transportes intermodais.

Nossa população, na casa dos 202 milhões de almas, padece acotovelada nos grandes centros cerceada pelas prósperas fronteiras do narcotráfico, cada vez mais invasivas e violentas. O bem estar da população, cada vez mais tímido e garroteado pelas facções criminosas, torna a sociedade refém e prisioneira de sua impotência. Encarcerada, como os facínoras não os são.

A educação é uma vergonha em si mesma. A saúde, coisa de terceiro mundo. A corrupção, essa deusa insaciável e voraz, grassa desenfreada. As empresas estatais são assaltadas, no dia a dia, por uma corja de meliantes aboletados nos cargos públicos para favorecer os interesses espúrios de um governo perdido no emaranhado de sua incompetência e de sua promiscuidade com o crime organizado de lesa-pátria.

Prosperam os conluios e as ações entre amigos com as empreiteiras de praxe, de cabresto e de cocheira. Escorregam as comissões e propinas num incessante, caudaloso e imundo rio de interesses. Mais um esgoto a céu aberto como aqueles já projetados, já faturados, já concluídos e que, por algum capricho do destino ou da natureza – essa madrasta natureza - teimam em permanecer a céu aberto. Coisas de um tal PAC, ou da cafetina, ou ainda do proxeneta da aventura eleitoreira, seja lá quem for.

Nossos heróis contemporâneos são vômitos de um Calabar e de um Joaquim Silvério dos Reis. Este nosso Brasil, bem brasileiro, depende de um Roberto Jefferson, como tantos outros mais um deputado porcaria, porcaria de gente e de parlamentar, delator, propineiro confesso e encarcerado; de um meliante como um Marcos Valério, este gerente de um prostíbulo financeiro instalado no coração do governo petista; de um mafioso como Paulo Roberto Costa, diretor-todo-poderoso de uma Petrobras corroída até sua medula pelos coveiros do Planalto e de seus padeiros das refinarias; de um Youssef contrabandista, doleiro, facínora de altíssimo coturno com trânsito livre e pulseirinha “all inclusive” entre parlamentares de todos os calibres e cleros.

Para aqueles não muito afeitos à matéria, cabe definir: parlamentar é o apelido que se dá aos bandoleiros que habitam o Congresso Nacional. Nacional, bem entendido, deles.

Estes são os nossos heróis contemporâneos e, queiramos ou não, o país lhes deve. Sim, deve-lhes o favor de se demonstrarem capazes de colocar à mostra os intestinos fétidos da promiscuidade instalada no poder.

O STF teve em suas ínclitas (?) mãos o poder, o dever, a decisão e a oportunidade para mudar o país e pavimentar seu caminho rumo ao futuro, quando do julgamento da Ação Penal 470. Contudo, palco consagrado de “euísmos”, terreno fértil onde prosperam as vaidades, decapitou o princípio pétreo que garante a imposição da vontade coletiva sobre a vontade individual. Aquela Corte, prenhe de juristas, legalistas, ritualistas, constitucionalistas e tantos quantos mais “istas” se queira, preferiu se apequenar e abdicar do preceito de servir ao país. Até porque, exigiria comprometimento e coragem.

Por uma razão, por várias razões, ou mesmo sem nenhuma razão, até porque nenhuma satisfação supõe-se devida à sociedade, os doutos ministros optaram por amenizar, sem um lampejo de rubor, a participação da cúpula do poder na captação e distribuição dos recursos públicos e de outras fontes para a compra de apoio político para o Planalto. De tal forma irrelevante julgado foi, que nem mesmo a formação de quadrilha se configurou na sentença resultando na redução das penas dos mensaleiros. Hoje, os “políticos condenados” flanam por aí de bem com a vida. Um libelo para a impunidade; uma festa para os quadrilheiros.

Um lembrete: políticos condenados são aqueles iguais, porém mais iguais do que os simples iguais que desfrutam de todos os benefícios, mordomias e beneplácitos. Estes últimos iguais são aqueles inscritos na Constituição, nós os cá de baixo.

As eleições batem à porta e aí nos deparamos com os candidatos da mudança.

A candidata à reeleição nem se toca, ainda que afogada num oceano de mentiras. Disléxica, com seríssimos sintomas de disfunção cognitiva, não diz coisa com coisa. Frases desconexas são balbuciadas em entrevistas que nada dizem e, menos ainda, propõem. Jogou o país num buraco sem fundo; empurrou a economia para o despenhadeiro; manipulou, sem pudor com suas cantilenas sem eira e nem beira, os indicadores catatônicos atrelados a um desenvolvimento que não se cristaliza; encarcerou as atividades econômicas; decapitou o PIB, destruiu sem complacência as empresas estatais. Montou acampamento num estuário de falsidades. O país não tem estrutura para suportar mais um período de seu desgoverno. Incerto futuro dos devaneios com as contas públicas e o carnaval orçamentário.

Outro candidato, líder de uma pressuposta oposição, enquanto senador proferiu dois míseros discursos no plenário durante seu mandato. Oposição a quê e a quem? A partir daí, a lenga-lenga de sempre: vamos fazer, vamos criar isso e aquilo para a saúde, a segurança, a educação e para o desenvolvimento do país. No momento, seu candidato pinta rodapés na disputa para o governo do Estado, até então seu feudo político herdado do avô. Pelo andar da carruagem, tudo leva a crer que tenha destruído o legado. Mas, verdade seja dita: transformou-se no mais poderoso cabo eleitoral da candidata à reeleição, seja jogando pedras a esmo, seja como vidraça.

Resultante de um somatório de fatores emerge a ex-ministra do Meio Ambiente, galho do mesmo tronco do petismo, como candidata alternativa. Sem base política definida, com seu discurso de sustentabilidade incapaz de sustentar-se, fã de uma teoria política de difícil compreensão e avessa ao regime democrático representativo, transformou-se num pêndulo errático. Nada além de uma incógnita, ou nada além de uma ilusão a ser meticulosa e impiedosamente desossada pelos rivais. Feliz será se conseguir salvar, pelo menos, sua alma.

Para onde vais, ó gentil pátria amada Brasil?

Entre quais penhas e incultas brenhas escondes teu rosto, deixando-me sem esperança de te encontrar?

Bellozi

29/09/14

*Ary Barroso.

** Alvarenga Peixoto.

bellozi
Enviado por bellozi em 30/09/2014
Reeditado em 24/01/2015
Código do texto: T4982337
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