VÍTIMAS OU CÚMPLICES ?
Analistas políticos notoriamente reconhecidos como tais, outros nem tanto que insistem em sê-los, outros ainda meros palpiteiros e alguns adeptos do achismo, assim como eu, ficam a escarafunchar declarações, noticiários, boatos, disse-me-disse e, não raro, apelam para o imaginário na vã tentativa de compreender o mundo político.
Quando dos pleitos eleitorais proliferam as pesquisas, o vai e vem dos candidatos, as baboseiras levianas de sempre, as mentiras deslavadas e o desrespeito à inteligência e à percepção do respeitável público. Respeitável público, assim como dos velhos circos dos quais somente o legado das palhaçadas persevera, ou quem sabe em palhaços nos tornamos.
Fora da época das acirradas disputas sobre quem fará mais pelo país, ou seja, o de sempre, ou seja, absolutamente nada, os meios de comunicação tratam das amenidades do cotidiano: desvios de verbas, corrupção e bandalheiras afins. Nada que escandalize; a pauta de sempre.
Os políticos, em suas lides diárias, se esfalfam na incessante busca pelos meios que os levem ao acesso e ao desvio de recursos públicos de qualquer natureza, inclusive da merenda escolar.
Vespasiano, quando tributou o uso das latrinas de Roma e, depois questionado sobre a origem do dinheiro, cravou:” Pecunia non olet”, ou seja, dinheiro não tem cheiro. E, assim entendem os nossos parlamentares, ainda que o dinheiro desviado o seja da boca desdentada de uma criança subnutrida, cujo único cheiro é o da miséria e o hediondo crime aquele de ter nascido.
Esta é a essência das atividades ditas parlamentares. E, o que é pior: não existem as raríssimas exceções de praxe. Como dizem por aí, tudo junto e misturado. Um saco sem fundo de safardanas.
Solertes, pícaros, arrivistas de todos os matizes. Não há como separar o joio do trigo, pois não existe o trigo. Apenas, aqueles que são mais espertalhões e aqueles que são mais picaretas.
Sejam quais forem as razões, a nossa imperfeita sociedade insiste em elegê-los como seus mais dignos e probos representantes. A nossa imperfeita sociedade, ou nós, eu e você?
E daí surge a pergunta do momento, instigante e que não cala: somos vítimas de um sistema também imperfeito, ou somos cúmplices de um arranjo político degradado e perverso que insistimos falsamente em repudiar, mas do qual à frente marchamos conscientes, subjugados e vencidos como marcharam milhões de judeus rumo às atrocidades que lhes impuseram?
Afinal, vítimas ou cúmplices?
26/09/14
Bellozi