Declaração de voto

DECLARAÇÃO DE VOTO

[Para livre divulgação, respeitando texto e autoria - 22/set/2014]

Um governo não se faz apenas de erros. Muito menos, somente de acertos. Um governo se faz pelo balanço de iniciativas que deram certo com outras que falharam, pelo somatório dos efeitos de projetos bem-sucedidos com outros que malograram.

Mas um governo se faz, acima de tudo, pelo caminho a que esse balanço, a que esse somatório leva o País e o seu povo. Para cima ou para baixo? Para frente ou para trás? Para a direita ou para a esquerda?

Em Física essa avaliação é muito mais fácil de fazer. Dadas as forças que atuam sobre o fenômeno estudado, cada qual com sua direção, com seu sentido e com sua intensidade, um processo matemático claro, preciso e infalível determina o que se chama de resultante - uma única força, com direção, sentido e intensidade, que tem precisamente o mesmo efeito que todas aquelas forças atuando conjuntamente: para cima ou para baixo, para frente ou para trás, para a direita ou para a esquerda, com maior ou menor ênfase, ou intensidade.

Calculada a resultante de uma proposta de governo, cada qual de nós a aceita ou a repudia. Na segunda hipótese, buscará composição de forças (políticas, sociais, culturais e econômicas) que melhor atendam ao que lhe parece ser um modelo mais adequado de Estado e de País. E vota de acordo com essa convicção.

Muitos votam movidos exclusivamente por interesses escusos, pessoais, corporativos ou inconfessáveis.

Na escolha de um governante não se está cumprindo a eleição de um santo, mas de um ser humano, com tudo que lhe é inerente - com idênticas qualidades e defeitos, aliás, que marcam os santos antes de se santificarem.

Na escolha de um governante não se vota apenas num nome e numa história pessoal, mas no jogo de princípios e interesses de todo o grupo que acompanha e dá suporte ao candidato. Vota-se naquilo que esse grupo já fez, hoje pensa e pretende fazer. É a tal da força resultante na Física.

Ou queremos, por exemplo, um Estado forte e democrático que controle os abusos internos e externos e proteja cada cidadão (Justiça é um dos nomes desse processo) ou consideramos que tudo deve ser entregue ao deus mercado, deixando às corporações empresariais (que adoram governos que lhes repassam fortunas de dinheiro público) a "divisão do bolo" e a promoção financeira e social dos mais bonitos, dos mais fortes, dos mais saudáveis, dos mais inteligentes, dos mais eficientes, dos mais produtivos, dos mais ricos - e cada qual dos demais, se quiser e tiver iniciativa, que busque, por conta e risco próprios, as suas oportunidades.

Com meu irrestrito respeito por todas as pessoas, amigas ou não, que defendem outras resultantes, quero deixar clara a minha preferência, a minha escolha. Antes, devo dizer que não tenho filiação partidária - nunca tive - e isto não se trata de virtude, mas de mera opção pessoal que fiz há meio século.

Não tenho filiação partidária mas tenho filiação ideológica.

Preciso respeitar dezenas de milhões de brasileiros que, neste século, deixaram de ser pobres ou miseráveis e passaram a ter mais dignidade em suas vidas. Preciso considerar dezenas de universidades federais e centenas de cursos técnicos implantados neste século em todos os cantos do Brasil, o que leva milhões de jovens brasileiros, de todas as classes sociais, a serem mais lúcidos e conscientes, a desenharem o seu futuro e o futuro da Nação.

Por isso, como a melhor resultante das forças que acompanham cada candidatura, voto em Dilma Rousseff para mais um mandato na Presidência do Brasil.

Cultura com Dilma

Aproveito a oportunidade para convidar cada pessoa que compartilha essa mesma aspiração por uma resultante marcadamente social do processo eleitoral a comparecer ao ato de apoio da Cultura de Santa Catarina à candidatura Dilma, a realizar-se em Florianópolis nesta terça-feira, 23.09.2014, a partir das 19 horas, no Clube Novo Horizonte, à Avenida Beira-Mar Norte nº 4900, ao lado da sede da OAB - Ordem dos Advogados do Brasil.

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Amilcar Neves é escritor com oito livros de ficção publicados. A partir de 26.08.2013 integra o Conselho Estadual de Cultura, na vaga destinada à Academia Catarinense de Letras, onde ocupa a Cadeira nº 32.

Na verdade, o Estado nunca esteve à altura do fazer de nosso povo, nos mais variados ramos da grande árvore da criação simbólica brasileira. (...) A cultura brasileira não pode ser pensada fora desse jogo, dessa dialética permanente entre a tradição e a invenção, numa encruzilhada de matrizes milenares e informações e tecnologias de ponta.

Gilberto Gil, Discurso de posse no Ministério da Cultura, em 2003