SOBRECARGA DE INFORMAÇÃO E A TEORIA GERAL DO ESCÂNDALO
Milton Pires
Richard Saul Wurman é um arquiteto e designer gráfico norte-americano que, em 1976, cunhou a expressão “arquiteto de informações” em resposta à gigantesca quantidade de dados gerada na sociedade contemporânea e que nos é apresentada com pouco cuidado e nenhuma ordem. Em 2001, um grande jornal brasileiro trouxe uma interessante matéria chamando a “Síndrome do Excesso de Informação” de “mal do século”. Convém, inicialmente, dizer que nenhuma categoria diagnóstica existe em psiquiatria que corresponda a essa definição. De uma maneira geral é possível reconhecer na pessoa que sofre (ou supostamente sofreria) de tal síndrome aquilo que se pode, aí sim, chamar “transtorno de ansiedade generalizada” - quadro muito bem conhecido e tratado nessa especialidade médica.
Mesmo que nós não possamos aceitar, pelo menos ainda, uma definição da “Síndrome do Excesso de Informação” como doença vale observar como as pessoas, de fato, buscam cada vez mais acesso à internet e às redes sociais numa velocidade que supera em muito a capacidade de usar..a chance de elaborar e até mesmo organizar de maneira útil aquilo que o computador lhes fornece. No Brasil, os escândalos da vida política se sucedem numa velocidade tal que é praticamente impossível tomar pleno conhecimento, gravar nomes e fatos (por exemplo de uma operação da Polícia Federal) de algum deles: outro vai surgir imediatamente...outra nome; outra operação – mais informação chegando enquanto aquela que “estava lá” precisa ser “apagada”. "Quanto mais sabemos, menos seguros nos sentimos. É a sensação de que o mundo está girando a muitas rotações a mais do que nós mesmos", dizem os especialistas.
Não lembramos, pois, do voo da Malaysia Airlines que desapareceu em março no Oceano Índico pois é mais recente a derrubada de um avião da mesma companhia sobre a Ucrânia. Não podemos mais pensar em Rosemary Noronha, Marcos Valério e no Mensalão: agora é a vez da PETROBRÁS.
Eu não sei, nem poderia saber, qual deveria ser a solução sobre esse problema de “memória”..como poderia a sociedade brasileira “expandir seu HD” ou melhorar a “velocidade do seu computador” mas apelo (ou pelo menos vou tentar apelar) aqui para uma lição deixada pelo filósofo alemão Eric Voegelin que procurou recolocar o problema da ciência política para além da análise de superfície das leis, instituições, sistemas eleitorais e partidos políticos. Para o filósofo, a metodologia para o estudo destes temas contemplava tão somente aspectos de um positivismo histórico cujo objetivo seria a autointerpretação de mecânicas comportamentais de uma sociedade, mas nada falariam a respeito dos “valores” que embasassem a ação do homem no mundo. Nesse sentido, eu sustento que Voegelin talvez pudesse oferecer, às supostas vítimas da “síndrome do excesso de informação” um eficaz modo de ordenar numa escala moral aquilo que até nossas mentes chega numa velocidade assustadora e se relaciona aos escândalos da vida política brasileira.
De uma maneira geral, eu diria que é possível conectar tudo que é “delatado” ..tudo que é “revelado” e “investigado” como manifestações diferentes de um só fenômeno histórico: aquele que diz respeito ao advento de um único partido político que veio para subtrair a própria possibilidade de ordenamento moral que Voegelin se propôs dar à vida em sociedade e à ciência política.
Num sentido muito geral e resumido, eu encerraria sugerindo àqueles que não querem sofre com o “excesso de informações” que pudessem ao mesmo tempo “unificar” e num certo sentido “esquecer”...que pudessem, diria eu numa linguagem de informática, “condensar para ocupar menos espaço”, todas as últimas notícias sobre aquilo que o PT fez com o Brasil desde 2003..Eu tentaria, se fosse possível, reunir todas as “novidades” e hipóteses delas resultantes numa só ..Imagino que seria uma maneira de resolver a doença da Sobrecarga de Informações com a Teoria Geral do Escândalo.
Para o pai...que me ensinou a pensar...
Porto Alegre, 8 de setembro de 2014