O Fim do Governo Civil e o Progresso da Revolução
Milton Pires
Tenho visto, com alguma frequência, o comentário de certos analistas políticos comparando Marina a Collor de Melo naquilo que se refere à trajetória de ascensão ao poder. Nada pode ser mais infeliz: não há, digo eu como testemunha viva da época, NENHUMA semelhança entre os dois.
Lendo esse primeiro parágrafo, alguém pode ter a impressão de que escrevo defendendo Marina Silva. Esse seria o segundo engano mas, o mais importante é observar uma suprema ironia...um fino deboche percebido entre um povo que acredita sempre em “novidades de salvação” e os analistas que pensam que “a história se repete”..Ora, digo eu, a história não se repete, mas repetem-se as maneiras de tentar interpretá-la. Isso sim, me parece justo dizer àqueles que acreditam em ciclos e leis materiais controlando isso que chamamos de “história” pois sua visão é tão míope que, para eles, governo e poder tornaram-se a mesma coisa. Acreditam essas pessoas que, chegado o primeiro de janeiro de 2015, encerra-se o poder do PT no Brasil enquanto afirmo que ele não só permanece como aumenta..que toda máquina pública brasileira há de continuar nas mãos de milhares e milhares de petistas e simpatizantes da maneira doentia de perceber a sociedade brasileira. Essa é, em primeiro lugar, a gigantesca diferença entre o primeiro governo civil depois de 1964 e essa mera maquiagem, essa mera – diria eu para ser mais ecológico – camuflagem do stalinismo sob patrocínio de ONGS, movimentos sociais e cooperativismo que vem para emprestar a ideia de “renovação” ao movimento revolucionário no Brasil.
Os últimos anos de governo petista vem se caracterizando pelo enfraquecimento do PODER do partido em segmentos onde antes ele era hegemônico. A classe média brasileira já entendeu o recado de Marilena Chauí, os empresários não caem mais numa conversa mole que disfarça uma tributação gigantesca e uma falta total de proteção dos interesses da indústria no terreno da competição internacional. Restou ao Partido Religião mudar de tom...trocar o discurso e aproximar-se das baixas classes..da verdadeira ralé da massa carcerária, do crime organizado e dos movimentos sociais que emergindo da escuridão lideram a luta pela “reforma política” que é, em si mesma, a destruição da própria possibilidade da política. Nesse sentido afirmo, como já fiz antes, que a principal pergunta que devemos responder não é “para que caminho nos leva a democracia brasileira” mas sim “para que caminho nos leva a revolução”. Estamos, pergunto eu, em um período democrático ou revolucionário da nossa história? Se vivemos numa democracia é possível pará-la com uma revolução. Se vivemos em revolução; não poderemos pará-la com a democracia. Parece simples, mas não é pois a dificuldade reside, volto eu a salientar, em responder a pergunta primeira: é democrático ou revolucionário o período de tempo que vai de 2003 até hoje no Brasil ?
Meus caros amigos, eu não tenho dúvida nenhuma em declarar que, há muito tempo, já é morta a assim chamada “vida democrática” do Estado Brasileiro. Faço essa afirmação acreditando não existir mais um dos pilares desse tipo de regime no país – a independência dos poderes republicanos. Todos, absolutamente TODOS, os três poderes comungam com uma cartilha de agitação social, de apologia das minorias, dos direitos dos excluídos e da defesa do meio ambiente de tal modo que essas questões tornaram-se, elas próprias, a visão do partido sobre a sociedade. Proponho pois, aos futuros historiadores, que dividam a história recente num período que vai de 1989-2003 e outro que vai da chegada do PT ao poder aos dia de hoje. O primeiro período foi, bem ou mal, uma época que ainda se podia chamar democrática. O segundo; de revolucionária. “Mas tivemos eleições normalmente entre a chegada de Lula e os dias de hoje” diriam alguns...Sim, tivemos, concordo eu...o que não tivemos (e continuamos não tendo) é o mínimo resquício daquilo que chamamos de oposição. Espontaneamente ou comprada pelo PT ela se esvaiu..se anulou e se prostituiu de tal maneira que, juntamente com os poderes aparelhados e a imprensa politicamente correta formou uma tríade contra qual desafio qualquer um a me provar a possibilidade da vida democrática no Brasil. Nada disso existia quando Collor e o PRN se apresentaram à Nação em 1989; tudo isso continua e vai continuar com Marina em 2015...É o Fim do Governo Civil e o Progresso da Revolução.
Porto Alegre, 4 de setembro de 2014.