Eleições – É o que temos?

Dois componentes básicos, simples, precípuos que compõem a elaboração de um projeto, qualquer projeto:

a) Leitura de cenário;

b) Visão/percepção estratégica.

O PSDB se mostra órfão, míope e carente de ambos. O equívoco, fruto da soberba, margeia o comportamento patológico. “Diria o vagalume para os demais: Não existem outros sóis, apenas a luz que brilha em minha cauda.”

Embevecido com sua plumagem “ton sur ton”, embriagado com suas cores extraordinárias dispostas num caleidoscópio singular encimado por um bico que desafia a doutrina criacionista e contempla Darwin, abdica do olhar crítico para os pés atolados em escândalos de décadas.

Na campanha eleitoral, desnorteado e pressionado pelas pesquisas, comete um erro após o outro num processo de lento e inexorável padecer. O discurso próprio carece de alicerces. Errático, assume o papel de um pêndulo atemporal. Entre Deus e o demônio, não sabe se reza ou blasfema.

Assim também o foi Lula, sob a batuta do poder pelo poder com o seu promissor PT, hoje atolado até à medula na corrupção sem eira e nem beira. Milhões são tratados como merreca, assim mesmo, com total desprezo. Decência e probidade são palavras de baixo calão. A ética, esta solitária e catatônica andarilha vaga a esmo; prosperam os negócios escusos, as ações entre amigos com as empreiteiras do peito e dos jatinhos, vicejam os conluios e as comissões. Estertora-se na lama numa tentativa desesperada e final de se manter à tona a qualquer preço e custo.

Ególatra, megalomaníaco, absolutamente convencido de que acendeu o pavio do “Big Bang” há míseros dezesseis bilhões de anos, levou o PT ao descrédito e à falência moral.

Resta-lhe, desesperado como uma lebre sob a dança dos lobos, tentar trazer à vida sua criatura empalada pela inoperância e catastrófica gestão. Um ventríloquo com sua rebelde, desarranjada e caricata marionete. A sociedade, este “respeitável público”, parece pouco inclinado para assistir ao deprimente espetáculo. Até porque, coisa de circo mambembe.

O maniqueísmo de antanho, segregando dois polos políticos, sucumbe à novidade, até então efêmera, da seringueira dogmática dos pés descalços, braços nus e colares artesanais. Ferrenha e inflexível defensora da sustentabilidade, seu discurso não se sustenta. Ainda assim, nesta aridez de líderes, surge como a boia salvadora para o desastre da continuidade.

Politicamente desestruturada, tenta embalar sob o rótulo de premissas elaboradas e fundamentadas na filosofia de uma pensadora do calibre de uma Hannah Arendt, como fulcro para uma proposta de governabilidade, um produto de difícil digestão programática, ainda que de boa aparência e capaz de despertar apetites.

Enquanto os candidatos se digladiam com os intestinos à mostra, expondo cada um suas fragilidades e recorrentes defeitos, a tudo assiste enigmática como uma moderna esfinge. A questão maior reside em decifrá-la tardiamente e se constatar que, nada obstante seus méritos pessoais e de origem, o passado nos baterá à porta. Como se sabe, na história recente dois presidentes eleitos e hóspedes de partidos de aluguel não lograram cumprir seus mandatos.

Um deles que, em campanha e com o punho erguido, se jactava de ter nascido “com aquilo roxo”, hoje vive a lamber, vergonhosamente prostituído, o pressuposto “aquilo roxo” de seu principal algoz.

Resta ao PT tentar desconstruir Marina, galho de seu próprio tronco, que ameaça a reeleição de sua criatura já no primeiro turno. Corre o risco de cometer suicídio eleitoral.

Ao PSDB, pela ausência de planejamento e vítima de miopia estratégica, restou-lhe o conforto dos pés 42 calçados em sapatos 36, bicolores em verniz, sob um sol saariano: se desconstrói Marina, acaricia as intimidades do PT; se combate o PT, pode eleger Marina já para o primeiro turno, ficando a se deliciar com um picolé de louça.

Ao hospedeiro PSB, cabe a tarefa de blindar Marina por 28 dias, estruturando uma linha defensiva que lhe permita assistir, de camarote, o esfacelamento mútuo dos demais candidatos e a alegoria dos partidos de aluguel que correrão famintos e serelepes para o colo do vencedor.

Enquanto isso, o predador PMDB agarrado ao poder como cracas em um navio naufragado, paciente, furtivo e despudorado, aguarda a oportunidade para se refestelar nos despojos. De sua casamata no Congresso, deserto da decência e da probidade, ardilosamente tece suas armadilhas. Poder, bônus sem ônus; simples assim.

Bellozi

01/09/14

bellozi
Enviado por bellozi em 03/09/2014
Código do texto: T4948255
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