Eu sou macaco velho.
Na rua em que moro mora também um cara que nunca trocou si quer uma palavra comigo.
Porém, agora, todavia, contudo, ele, o referido gajo já não passa mais pelo passeio do lado, passa bem em frente ao meu portão, e quando me vê já ensaia um sorriso, vem cheio de bons dias e quer por que quer pegar sempre em minha mão, e ai fico eu matutando que bicho foi que o mordeu pra que ele mudasse assim da noite pro dia, mas mesmo antes que eu conseguisse cansar minha memoria a procura de uma resposta pra esta mudança de comportamento tão assim radical, ouço um som estridente vindo da rua de baixo onde uma voz grita no auto falante vários nomes de candidatos para as próximas eleições, inclusive o dele, e se antes este nome era pra mim tão desconhecido agora já não é mais.
Mas, eu sou como se diz, macaco velho, eu sei por que sei que logo mais, assim que passar as eleições ele, este agora tão atencioso cidadão logo estará de novo passando pelo passeio do lado, estando eu ou não no meu portão, pelo ao menos com certeza até enquanto não houver outra eleição. Porém, indiferente a tudo isto, eu continuarei sempre sendo o mesmo eu, quanto a ele, vivera sempre como se fosse um camaleão, não na troca de cores, mas na troca de comportamento, sempre que houver uma eleição.