A QUEM URGENCIARIA MUDANÇAS?

Num breve ensaio do meio:

Estamos praticamente às vésperas do maior acontecimento da Democracia Brasileira, as próximas eleições, que norteará a escolha de candidatos para o poder executivo, aqueles que nos representarão nas esferas estaduais e federal , diplomadamente, através do voto.

Então, um difícil e fundamental dever de cidadão responsável para com a História do seu País nos é tangível e intransferível: temos que escolher da melhor maneira possível os candidatos que representem nossas ânsias de cidadãos, aqueles que, com eficência e eficácia, possam rumar o país aos dias de glórias cidadãs, de ganhos sociais reais, ou seja, de conquistas de cidadania que em suma significariam melhora do nosso tão sonhado IDH...algo tudo de melhor para todos.

Bem, atualmente não seria muito difícil perceber nossa real situação de dificuldades disseminadas, e nem precisaríamos ser cientista político para tal , basta apenas observarmos o meio em que vivemos e lermos as notícias diárias, para diagnosticarmos o fato de que o país, de certa forma algo unânime e figurativa, pede por melhoras...em tudo.

Mas o que me pergunto: melhoras significariam mudanças no rumo da condução dos Estados e do País?

Melhoras significariam trocar pessoas gestoras ou trocar projetos de base?

Melhoras significariam trocar princípios humanísticos?

Haveria alguém mágico, saído dum povo tão sofrido, que conseguiria nos devolver a curto prazo o tudo de social que nos foi subtraido das gerações ao longo da nossa tumultuada história política mais recente?

A quem hoje urgenciaria mudanças de verdade?

Quem lucra com "status" atual, quem perde?

Meu pensamento é o seguinte: O perfil do eleitorado sempre é um termômetro "muito sensível" da situação vigente.

Se alguém se sente faminto, esse votará na saciedade que lhe convém, com toda certeza.

Mas quais seriam, hoje, nossas fomes reais e urgentes?

Teríamos apenas estômagos votantes ou nossos votos pedem pela saciedade não apenas física mas a saciedade da dignidade cidadã?

Além da saciedade orgânica e óbvia de direito natural, quais seriam as demais fomes que nos atormentam cronicamente no nosso dia-a- dia?

Fome de cultura, de consciência, de saúde, de emprego, de habitação, de justiça sob todos os prismas sociais, de segurança, de educação, de punibilidade, enfim, a pergunta que não me cala, nossa fome se limitaria aos nossos ainda gritantes estômagos em burburigmo, ou ultapassariam os limites físicos para urgenciarem a satisfação da dignidade humana cidadã?

Certo é, que qualquer ser humano primeiramente tende a resolver, ainda que no voto, suas necessidades de sobrevivência mais instintiva, o que não pontuaria melhoras nos nossos atuais índices de desenvolvimento humano.

Assim sendo, quando não se tem muito a perder pela manutenção das situações já difíceis, abaixo da linha do suportável socialmente, qualquer ganho passa a ser ganho real, e daí, mudanças necessariamente não passam a ser urgentes, porque urgente mesmo é continuar vivo com ou sem mudanças.

Se à maioria matemática urge apenas sobreviver...mudanças não interessam nas urnas.

E sobrevivência talvez não pontue tanta legitimidade política, a real expressão da vontade popular nas urnas.

Quem vota com fome, vota obnubilado, torporoso...

Assim, por esse prisma do pensamento, se não se tem nada a perder e sim o mínimo a manter garantido, que fique tudo como está e já nos seria um super ganho.

Se é apenas uma minoria insípida socialmente, sem peso de voto, que é urgenciada pela necessidade das mudanças estruturais e éticas, ora, mudança passa a ser intenção supérflua nas urnas, tanto para eleitores quanto para candidatos.

De nada adiantaria faltar estradas para quem sequer tem uma bicicleta...

Ou faltar dentistas para quem já não tem mais dentes.

Ou faltar escolas para quem sequer conheceu um professor...

Ou faltar livros para quem sequer se alfabetizou...

Que adiantaria prometer o céu para quem já se imunizou a qualquer inferno, a achá-lo confortável?

Que adiantaria , por exemplo, a ânsia por uma reforma tributária, para quem sequer tem emprego ou salário na faixa de dedução de IR?

E por aí envereda meu pensamento...e meu sentimento estupefato.

Assim sendo, respondo eu mesma a quem urgenciaria mudanças: Aos muitos que não têm voz nas urnas...mas que tocam toda a situação difícil com o suor das suas histórias de vida, os que tiveram o privilégio de viver na acepção holística da palavra: os que produzem o tudo nosso que vai para os ralos sem resolver a difícil situação daqueles que sequer ousam pensar em mudanças...de vida(?).

É por isso que, como cidadã e como eleitora, acredito que nada vai mudar, porque a manutenção do igual é aritmética.

A não ser que algo nos mude pelos meios que ciência política alguma explicaria, o que não depende da nossa vontade tampouco do nosso voto, assim como, a exemplo, ocorreu com a surpresa de não consiguirmos sequer explicar nosso fiasco de pentacampeães na Copa de futebol de 2014. Aquilo foi além do explicável...

Dizíamos que éramos algo, todo mundo acreditou, e o mundo descobriu que não era bem a real verdade.

Em suma, mudanças urgenciariam àqueles que, tendo alguma mínima participação e consciência políticas e sociais, já entenderam que não se toca um país dividido entre estômagos roncantes e sonhos pungentes de cidadania real...para todos.

Um dia a verdade aparece e todas as fomes não saciadas se tranformam em apetites mais exigentes...inclusive nas urnas.

Quem viver verá, e nessa mudança imposta pelas verdades...só nessa, eu acredito.