Operação Salomão!
(1122 PASSAGEIROS A BORDO DE UM ÚNICO VOO!)
Na Bíblia Sagrada, uma das passagens mais fascinantes para mim refere-se ao “Êxodo”, que nos conta a fuga dos hebreus do Egito. Oprimidos e escravizados por um Faraó, não sei quantos hebreus saíram em busca da Terra Prometida, Israel, conduzidos por Moisés, uma das mais admiráveis personagens do Velho Testamento. A fuga durou longos 40 anos, caminhando pelas areias quentes do Deserto do Sinai.
Como a história se repete, em 1991, aconteceu outro “Êxodo”. Desta vez, os judeus não saíram do Egito. Saíram da vizinha Etiópia, perseguidos por um tirano opressor. Dessa vez, não foi preciso abrir passagem através do Mar Vermelho. A fuga foi feita por via aérea!
Foi assim. Durante séculos, uma comunidade judaica, os Falashas, viviam na Etiópia, quase ignorados pelo mundo. No final dos anos 1980, os Falashas corriam sério risco, devido à guerra civil que grassava na Etiópia, então dominada por um ditador violento, Mengistu Haile Mariam. Assim como o faraó dos tempos de Moisés, o regime de Mengistu perseguia e impedia a emigração dos judeus etíopes para Israel.
Após muita negociação, o então sitiado regime de Mengistu concordou em permitir a saída dos Falashas para Israel.
Era preciso agir com precisão e muita rapidez. A Etiópia estava virada num inferno; numa "terra de ninguém" naqueles dias de maio de 1991. Mengistu já não estava no poder, quando Israel mobilizou uma frota de aeronaves militares e civis para resgatar os judeus etíopes em Adis Abeba, antes que a cidade fosse ocupada pelos rebeldes.
Trinta e seis aeronaves israelenses participaram do resgate: 18 Lockheed Hercules C-130 e 9 Boeing 707 da Força Aérea de Israel, e mais 9 aviões civis da El Al: 3 Boeing 747, 4 Boeing 767 e 2 Boeing 757. Para prevenir possíveis constrangimentos diplomáticos e acusações de violação de normas da aviação civil, os aviões da El Al foram descaracterizados e tiveram seus logotipos e marcas apagados.
Como era preciso levar o máximo possível de pessoas, os aviões tiveram seus assentos removidos e foram configurados como cargueiros. Um dos Boeing 747 da El Al, matriculado 4X-AXD, pousou em Adis Abeba. Seu comandante pretendia embarcar 760 passageiros, mas logo que verificou o estado em que se encontravam os refugiados, magros, doentes, desnutridos, autorizou o embarque de muito mais refugiados. Não haveria o risco de excesso de peso. Em apenas 37 minutos, um total de 1087 refugiados embarcaram. Crianças também embarcaram escondidas embaixo das saias das mães, elevando o total para 1120 pessoas a bordo. Como dois bebês nasceram durante a viagem, o número total de pessoas transportadas a bordo do “heróico” 747 da El Al elevou-se a 1122, o maior número de passageiros carregado em um único voo em toda a história da aviação!
Todos os demais aviões levaram muito mais passageiros do que “o permitido”: -- Os Boeing’s 707, sem assentos, levavam 500 passageiros em cada voo, enquanto os 767, com seus assentos instalados, levaram 430. Os Boeing 757, também com os assentos, levaram 360 passageiros em cada voo.
A operação de resgate foi concluída em apenas 36 horas. Nada menos que 14325 “Hebreus” foram resgatados em segurança, entre os dias 23 e 24 de maio de 1991. 140 refugiados tiveram que ir diretamente para os hospitais.
Se estivesse vivo, Moisés ficaria, sem dúvida, muito orgulhoso desta operação!
Coronel Maciel.