Que país é este?

O país parece navegar por mares bravios. A bússola gira descontrolada. O barco faz água e aderna sob as ondas das incertezas. Para os sobreviventes do Planalto, uma caixa de fósforos se transforma em boia potencial.

Inaugurações de obras maquiadas tornam-se objeto de desejo e permeiam discursos eleitoreiros de plenas realizações. Declarações vazias e desconexas povoam a mídia. As argumentações não se sustentam, eis que paridas pelo achismo. Enredada na armadilha caprichosamente arquitetada pelo seu criador, como singular oportunidade para se perpetuar no poder, a criatura se vê acorrentada pelas obras inacabadas, pela “babaquice do povo” de exigir estrutura para a mobilidade urbana, emparedada por greves e paralisações de todos os matizes.

Já não se sabe o que é início, meio e fim no diapasão de seus balbuciados discursos. Disléxica, vai de embrulho, de roldão, ao sabor da correnteza com seus áulicos a tecerem uma colcha de retalhos na tentativa frustrada de defendê-la do indefensável.

Ministros da Casa Civil e Fazenda protagonizam um diálogo de surdos quando abordam a intervenção do governo na economia, juros, preços de energia e combustíveis, confundindo os polos. Patéticos, ambos! O governo, literalmente, “parou na contramão atrapalhando o tráfego”. Sonâmbulo, catatônico, reage pelo espasmo.

Despencam os componentes do PIB com a tangível desindustrialização do país, a queda livre de serviços e o estrangulamento do agronegócio pela carência de infraestrutura e logística. Dos recursos não contabilizados do mensalão, evoluiu-se para a contabilidade criativa dos ativos inexistentes ou lançados em duplicidade. A inflação, renitente, samba no recuo da avenida aguardando a comissão de frente dos preços agrilhoados.

O Congresso, densamente povoado por modernos Catilinas, é um deserto de Cíceros. Até quando...? Banalizada, grassa a corrupção e potencializam-se os interesses espúrios. Servem-se do botim governamental onde o público e o privado são farinha do mesmo saco, generosamente distribuída para os comparsas das fraudes.

Das figurinhas marcadas, já desgastadas pelos processos oportunamente arquivados, permanecem as faces e, apenas, alteram-se os artigos de seus enquadramentos na lei que finge persegui-los e nunca os alcança.

Picaretas, bicheiros, doleiros, estelionatários e farsantes são tratados como empresários que comungam na mesma mesa e dividem os mesmos pratos; os restos são jogados para a sociedade. Os felpudos tapetes, pisados pelos cromos italianos e acariciados pelos Armanis, transformam-se em palco para os conluios sussurrados, os sorrisos hipócritas e o câmbio de inconfessáveis favores. Concubinas, autênticas cortesãs rotuladas como modelos e secretárias, até mesmo com passaportes e malas diplomáticas, rondam o poder como mariposas na luz.

Desvios de milhões são tratados como dinheiro de pinga. Merreca, diria o sindicalista pelego de ocasião, hoje absolutamente convicto de que Deus é seu mais humilde servo, infectando a mídia com sua verborragia chula e palanqueira. Seu comportamento sugere que no instituto de assepsia monetária, recheado de diplomas arranjados, repousem abandonados seus dois únicos livros, ambos de colorir, ainda incompletos.

No submisso Judiciário, salvaguardadas raríssimas exceções, a dita Suprema Corte nada mais é do que um caminho pavimentado para a impunidade, onde se discriminam os iguais daqueles que são mais iguais. A Justiça, essa musa serelepe vendada ou vendida, parece cada vez mais distante, treiteira e fugidia. Fossa de “euísmos”, praça de duelos de patológicas vaidades, alguns de seus membros tendem a abafar com as togas o dever de servir à sociedade para se curvarem, com abnegação e subserviência, até mesmo com galhardia, aos seus respectivos senhores. Autênticos vassalos do poder, não mais do que isto.

Tal como um reles delegado de roça, hoje ministro da outrora Suprema Corte manda prender pela manhã e soltar à tarde, em decisão perpassada por incongruentes argumentos. Alguma coisa próxima a um pastelão circense. Resta saber até quando o respeitável público, ainda passivo, a tudo assistirá. No passado, ofereceram para o povo pão e circo e o resultado todos sabemos.

Seria impróprio sugerir que estaríamos nos venezuelando?

Bellozi

bellozi
Enviado por bellozi em 31/07/2014
Reeditado em 02/02/2015
Código do texto: T4903965
Classificação de conteúdo: seguro