O RETRATO DA POLÍTICA NO MEU SERTÃO
As eleições se aproximam e por isso se deve refletir muito sobre este tempo e seus resultados para não torna-se um poço fecundo para a malandragem de alguns. Quero trazer uma breve reflexão em um tempo tão propício que já estamos vivenciando: as eleições. Tempo este que normalmente os egos se exaltam, o sempre “eu” toma uma tonalidade de “nós”, passageiro e superficial. Onde parece que aqueles braços que agora acenam felizes, tornam-se em um futuro muito próximo, aleijados por um caráter pífio, promessas e lutas de outrora esquecidas e renegadas.
O grande poeta Patativa do Assaré nos traz uma bela e profunda reflexão sobre a vida e o pesar do nordestino, que ao contrário do que muitos pensam, nem de grande distância pode-se afirmar que é desígnio de Deus ou simples força do destino, mas ao contrário disto: é puro descompromisso e traição daqueles que podam do indivíduo o seu mais tenro sentimento: a Esperança. Com vocês fragmentos do poema O Retrato do Sertão de Patativa do Assaré:
Sou sertanejo e conheço
Meu sertão em carne e osso,
Trabalho muito e padeço
Com a canga no pescoço,
E trago no pensamento
Meu irmão do sofrimento
Que, no duro padecer,
Levando o peso da cruz,
É quem trabalha e produz
Para a cidade comer.
Eu não ignoro nada
Deste sertão sofredor
Que puxa o cabo da enxada
Sem arado e sem tratos
E juras de candidatos
Nas festas eleitorais.
Meu sertão da sariema,
Sertão queimado do sol,
Que não conhece cinema,
Teatro, nem futebol,
Sertão de doença e fome
Onde o pobre assina o nome
Com uma pena a mão,
Para, enganado e inocente,
Dar um voto inconsciente
Quando é tempo de eleição.
Este sertão que persiste
Soltando os mesmos gemidos
É qual purgatório triste
Das almas dos desvalidos.
Ele não tem providência
De remédio ou de assistência
Pra gente roceira,
Dentro do mais pobre quarto
A mulher morre de parto
Nos braços da cachimbeira.
Referências:
Melhores Poemas. Patativa do Assaré. Seleção de Cláudio Portella. São Paulo: Global, 2006. Coleção Melhores Poemas. 384 pág.