A Esperança é o Voto Facultativo
Estamos no último dia de agosto. As próximas eleições não serão suficientes para determinar alterações de vulto no panorama atual. O quadro institucional será praticamente o mesmo, o que vem ocorrendo há algum tempo, em que pese o número de eleições já realizadas. As mazelas atreladas aos cargos políticos, já conhecidas de todos (corrupção, mordomias, nepotismo, vantagens e favorecimentos, prerrogativas incomuns, etc.), haverão de persistir, embora devamos admitir, por uma questão de confiança no futuro, que “ainda há esperança”.
Essa esperança talvez devesse passar pela necessidade de se tornar o voto facultativo. É preciso que a carreira política deixe de ser atraente, sob o ponto de vista da realização apenas pessoal. A realização pessoal deveria decorrer do maior beneficiamento possível que se pudesse colocar ao alcance da coletividade, e não das maiores vantagens possíveis que se possa conseguir no exercício do mandato. Ou colocar dentro do bolso.
O que faz o político investir pesadíssimas somas na sua eleição é a certeza do retorno, normalmente superior ao investimento. Por isso eles priorizam os interesses pessoais, em detrimento dos interesses coletivos.
O voto será uma arma muito mais poderosa quando ele puder ser usado voluntariamente, e não por obrigação. “Como temos que eleger um”, elegemos qualquer um. Com o voto facultativo, os políticos teriam que se aprimorar mais. Fariam menores investimentos porque não teriam a certeza da eleição que têm hoje. Para que o cidadão fosse votar no político, seria preciso que ele estivesse efetivamente convencido dessa necessidade. Senão não sairia de casa para isso. Consequentemente os candidatos cuidariam mais da sua imagem pública, do seu comportamento perante a sociedade. Ficaria dessa maneira reduzido o espaço para as candidaturas levianas que visam, por exemplo, a proteção pessoal através da imunidade parlamentar. Excrescências como essa estariam com seus dias contados. O voto facultativo tornaria o cidadão mais politizado, mais consciente de que as conquistas sociais dependeriam da sua atuação, do seu nível de exigência. E a maior politização do cidadão se intensificaria a partir do aperfeiçoamento do nível dos candidatos.
O voto facultativo poderia efetivamente mudar a história do Brasil. Com ele, sim, não haveria “mais lugar para a mediocridade, para o nepotismo, para a barganha”.
Copiamos tantas coisas dos americanos (o Outback, a Barra é a Miami carioca, etc.), por que não copiar também a maneira de votar?
Rio, 31/08/2000