O Bicho Papão
Sempre podemos ser contestados diante do que dissermos. E as contestações devem ser bem-vindas. Elas só não teriam sentido se fossemos os donos da verdade, o que sabemos que não somos.
É assim que afirmamos que os problemas de pobreza crescente e de desigualdades sociais no Brasil, como no Terceiro Mundo, e em regiões de Leste Europeu não decorrem apenas da ineficácia, incapacidade ou deterioração moral de seus governantes. Em sua maioria, eles podem ser creditados à conjuntura econômica internacional.
GATT não é gato, OECD não é nome de time de futebol e Bretton Woods não é loja de bolsas femininas caras ou floresta aprazível. Precisamos ter uma ideia do que representam esses nomes. E outros, tais como FMI (Fundo Monetário Internacional), Banco Mundial e Mercado Comum Europeu, esses um pouco mais conhecidos por nós.
GATT é a sigla em inglês para Acordo Geral de Tarifas e Comércio (General Agreement on Tariffs and Trade) “que tem como fim a abolição das tarifas e das taxas aduaneiras entre os países signatários”. A finalidade do GATT é decorrente da necessidade de contenção de medidas protecionistas, e outras formas de intervenção estatal, adotadas pelos países mais ricos. Que acabam influindo negativamente na economia dos mais pobres.
Apesar do que possa parecer, o GATT não foi criado para resolver os problemas dos países em desenvolvimento. Muito menos se a decorrência disso acarretar o prejuízo dos mais industrializados. De qualquer modo, trata-se de uma questão de conjuntura econômica internacional.
OECD é a sigla em inglês para Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Organisation for Economic Co-operation and Development), “uma organização internacional, fundada em 1961, com a finalidade de estimular o progresso econômico e o comércio mundial”. Constituída de 34 países, a OECD elege como plataformas de sustentação a democracia e o mercado econômico, através dos quais procura “encontrar respostas para os problemas comuns, identificar as práticas mais adequadas para isso e coordenar as políticas domésticas e internacionais de seus membros”.
A OECD tem origem em 1948 como Organização para a Cooperação Econômica Europeia (Organisation for European Economic Co-operation), “destinada à implementação dos programas de reconstrução econômica da Europa após a Segunda Guerra Mundial”. E foi concebida como uma ajuda ao Plano Marshall, de procedência americana.
Claro está que os países que não acatarem as decisões da OECD, poderão não ser contemplados nos programas de ajuda oferecidos pelas nações com maior peso na organização.
Em 1944, realizaram-se no Hotel Mount Washington, em Bretton Woods, no estado de New Hampshire, EUA, as chamadas “conferências de Bretton Woods”, focalizando o sistema de gerenciamento econômico internacional através do estabelecimento de “regras para as relações comerciais e financeiras entre os países mais industrializados do mundo”. Bretton Woods é considerado como o “primeiro exemplo de uma ordem monetária totalmente negociada, com o objetivo de governar as relações monetárias entre Nações-Estado independentes”.
Só com esses três exemplos, podemos ter uma ideia do peso das influências do sistema econômico internacional, sob o comando dos países mais ricos, na economia dos países do Terceiro Mundo, dentre eles o Brasil.
Portanto, é claro que devemos procurar as causas de nossos males em nós mesmos. Mas não podemos nos abster do mundo que nos cerca. E de todos os programas, acordos, reuniões e assembleias internacionais, incluindo-se as secretas, de que os mais fortes se utilizam para nos manter ad aeternum na condição desfavorável em que nos encontramos.
Ou será que a situação do Brasil há 70 anos, isto é, de 1944 até hoje, poderia ser comparada à dos países mais industrializados da época? E hoje, pode?